Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Macau - Músico Gabriel lança “Epifania”, EP de músicas em patuá

São sete faixas que falam sobre amor e outras reflexões acerca da sociedade, e são principalmente cantadas em patuá. Delfino Azinheira Gabriel continua a lutar pela promoção deste património intangível de Macau


O macaense Delfino Azinheira Gabriel, com nome artístico Gabriel, vai lançar no próximo dia 20 de Dezembro “Epifania”, um EP de sete faixas com canções em patuá, álbum que estará disponível na Livraria Portuguesa, Livraria Pin-To e Universal Gallery, e nas principais plataformas digitais. Neste álbum a solo, o músico canta, faz beatbox, toca handpan e guitarras acústica e eléctrica. O álbum conta ainda com a prestação do violinista Iat U Hong e a colaboração da esposa do cantor, Delora Sinha, que também canta na faixa “Dessã Vai-Ia”.

Ao Ponto Final, o criativo revelou que o projecto começou a ganhar forma há três anos, depois de este ter decidido recorrer à música e outras formas de arte para promover o patuá. Das sete faixas, quatro são em patuá, duas são instrumentais e mais centradas no handpan, e uma faixa é em língua portuguesa. Para escrever as letras, contou com o apoio de Isabela Larrea e Paula Carion. “No início, escrevi a música em português e depois tentei traduzir para patuá, e pedi às minhas amigas para fazerem a revisão e me darem ideias. É que a sonoridade do patuá, apesar de ser similar ao português, tem algumas diferenças. Tive muita ajuda delas”, disse.

O álbum, que foi produzido e gravado no estúdio de Matias Leong, é uma fusão de música electrónica, pop, reggae, e sonoridades ‘new age’. “Tento não me posicionar num estilo musical específico, porque a música que eu oiço também abrange vários estilos”. As suas composições vão encaixando naturalmente em diversos estilos, esclareceu. Do mesmo modo, o handpan também se vai adaptando a estas sonoridades. “O handpan é para mim um instrumento muito espiritual. Eu tenho vários, mas o primeiro que comprei é o meu bebé. Acho que é um instrumento muito versátil, utilizado para música para yoga, e relaxamento. Neste EP tentei juntar o som do handpan a música electrónica e reggae, e criei conexões com outros instrumentos”.

O álbum chama-se “Epifania” porque o autor quis chamar a atenção para a sociedade, o amor, e a compreensão de certos acontecimentos que lhe foram como que revelados, como uma epifania. “Por exemplo, tenho uma música chamada ‘Telele’, que explora a utilização diária do telemóvel. O refrão pergunta se o telefone é Deus que nos liga, ou nos separa. O telefone foi feito para tornar a vida mais conveniente, e conectar as pessoas, mas agora reparamos que é uma coisa que está a cortar a comunicação directa entre as pessoas”. É sobre este tipo de questões que músicas como “Maresol”, “Normal Novo”, “Sonho” ou “Unchinho di Céu” procuram reflectir.  Dando ainda como exemplo “Delora”, uma canção que escreveu para as suas duas filhas, Delfino Gabriel diz que esta é “uma canção que fala sobre o amor de pai, da entrega incondicional de amor, vida e tempo”.

Depois do lançamento do EP nas três livrarias da cidade e nas plataformas digitais, fica pendente um concerto, que em princípio acontecerá no início do ano que vem, já que esta altura do ano está repleta de “jantaradas, e muitos convívios, e não sobra muito tempo para preparar uma coisa como deve de ser”, confessou o músico.

Aqueles que já ouviram o EP, continuam a encorajar o macaense. “O patuá já não é um crioulo que se fale no dia-a-dia, e cada vez menos gente tem acesso a este valor intangível que se encontra em Macau. Não só a comunidade macaense, como também a portuguesa e a chinesa, e até os estudantes estrangeiros, quando sabem que existe este crioulo, ficam muito curiosos, por isso acho que isto é para continuar”. Rita Gonçalves – Macau in “Ponto Final”

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