A exposição “Mandela is Dead” marca os 10 anos da morte do líder histórico, questionando o que faria hoje o ex-Presidente para salvar o povo que libertou do atual colapso social e económico da África do Sul
“O
que diria Mandela se estivesse aqui hoje? O que faria? As coisas seriam assim
se Nelson Mandela ainda estivesse aqui”, questiona o curador Kneo Mokgopa, no
Centro de Memória Nelson Mandela, no bairro judeu de Houghton, em Joanesburgo,
para quem as perguntas “são tristezas não realizadas”.
“Na
realidade, queremos que Nelson Mandela volte. Queremos que ele nos salve
novamente”, sublinhou a Fundação Mandela na apresentação da exposição, na
passada quinta-feira (30), frisando que pretende destacar a “urgência do
contexto” em que os sul-africanos atualmente vivem, e “reconhecer que ninguém
vem nos salvar”.
Nelson
Mandela, que morreu a 5 de dezembro de 2013, com 95 anos, foi eleito primeiro
chefe de Estado negro nas primeiras eleições multirraciais e multipartidárias
em 1994.
Trinta
anos depois, o país tornou-se uma democracia e o ANC enfrenta a sua quase “liquidação
política”, segundo analistas, após se afastar radicalmente da ética do antigo
fundador do movimento de libertação, abandonando também o projeto social inter-racial
construído pelo líder histórico sul-africano. Uma década após a sua morte, a
igualdade por que Nelson Mandela lutou está esquecida pelo partido no poder,
sendo hoje mais sentida “com saudade” por lusodescendentes do que pela maioria
negra que o líder histórico queria unir numa “Nação do Arco íris”, considerou o
conselheiro português Vasco Pinto de Abreu, à Lusa. “Infelizmente o seu
pensamento não frutificou, e é uma pena porque um homem que lutou toda a sua
vida pela emancipação e pela união do povo sul-africano, hoje em dia está
esquecido”, referiu.
“Comemoram-se
certas datas, mas já se esqueceu todos os seus ensinamentos e a comunidade
portuguesa sente falta disso, ainda relembra com saudade o seu nome porque hoje
vemos os nossos filhos e os nossos netos a serem discriminados”, adiantou. Na
ótica de Vasco Pinto de Abreu, natural de Moçambique - país vizinho de onde
saiu em 1975 -, hoje na atual África do Sul democrática “quem é discriminado é
o branco”.
“Quem
são discriminados são os nossos filhos e os nossos netos, quando nós não tivemos
participação ativa no sistema do ‘apartheid’, e a África do Sul só teria a
ganhar com a colaboração de todos e o trabalho de todos”, sublinhou.
Em
contraste com a exposição da Fundação Mandela, que procura instar também os
sul-africanos a encerrarem “este luto”, o conselheiro português considerou que
Mandela representa a “esperança” que os jovens lusodescendentes têm de ficar no
país, a economia mais desenvolvida de África, “porque é a sua terra”, mas
avisa: “Se a África do Sul não mudar de rumo, os nossos jovens não têm grandes
oportunidades na África do Sul”.
“Porque
chega a um ponto em que metem o seu canudo ou o seu dinheiro debaixo do braço e
vão para outros países, e procuram outros pastos onde a erva seja maior, e estou
a falar de países, por exemplo, como os Países Baixos ou o Reino Unido [...],
os mais qualificados têm procura e vão, aliás, como nós fizemos, muitos de nós
saíram de Portugal porque não havia oportunidades, porque Portugal estava em
constante crise económica, havia grande desemprego e aqui está-se a passar o
mesmo”, frisou. In “Milénio Stadium” – Canadá com “Lusa”
Sem comentários:
Enviar um comentário