A historiadora cabo-verdiana Antonieta Lopes, disse, há dias, na cidade da Praia, em Cabo Verde, que a abrangência da obra de Mafrano sobre os bantu, e não bantu, faz-nos compreender que a cultura destes povos não se limita apenas à descrição de máscaras, tatuagens, danças, objectos de uso doméstico ou de artesanato, mais à compreensão da sua língua, cultura, vivências e actos
Antonieta
Lopes fez estas declarações quando apresentava o volume II da colectânea
"Os Bantu na visão de Mafrano”, numa audiência que incluiu nomes como o
Cardeal de Cabo Verde, Dom Arlindo Gomes Furtado; a embaixadora de Angola
naquele país, Júlia Machado; a representante do presidente da Academia de
Letras, Veira Duarte, e o Reitor do
Seminário de São José da Cidade da Praia, José Álvaro Borja, acompanhado por um
grupo de seminaristas; o ex-representante da OMS em Angola, entre 1986-1990,
Lisboa Ramos, e outros convidados.
"Mafrano
deixou-nos exemplos claros segundo os quais a compreensão dos povos bantu passa
necessariamente pelas suas vivências, o conhecimento da língua, da Psicologia,
contos, fábulas e lendas que são como bibliotecas contendo tratados de Direito, Filosofia e História”, disse a
apresentadora, citando passagens da obra do escritor angolano.
Um
exemplo, disse ela, citando o autor, é a palavra "Tata” em Kimbundu,
sinónimo de "Pai”, em Português, que para o bantu abrange não apenas o
progenitor, mas também o tio materno ou paterno cujo termo, equivalente, (tio),
não existe na sua língua. "Por isso - explicou - o autor explica que os patrões alimentavam
preconceitos sobre os empregados bantu dizendo que estes choravam a morte dos
pais (na verdade tios) duas ou mais vezes…”
"É
aqui que Mafrano nos diz então que para compreendermos o Bantu, na forma e no
fundo, é necessário conhecermos a sua língua e a sua cultura, tal como
conhecemos a língua e culturas universais”, explicou.
Antonieta
Lopes valorizou ainda, a "carga de argumentos” do autor angolano sobre uma
variedade de questões antropológicas, incluindo os hábitos alimentares,
cuidados de saúde, a circuncisão e o alembamento (o dote tradicional anterior
ao casamento), antes de contar uma lenda sobre a origem do homem, segundo a
qual uns ficaram brancos supostamente por tomar banho no rio, e outros
continuaram negros porque se teriam limitado a molhar as palmas da mãos e as
plantas dos pés na mesma água.
E,
concluiu: "Mafrano diz-nos, com esta lenda bantu, que no fundo as nossas
diferenças são externas porque somos os mesmos seres humanos”. In “Jornal
de Angola” - Angola
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