O historiador Luís Filipe Thomaz apresenta na obra “Nanban-Jin. Os portugueses no Japão” uma perspetiva cronológica e geograficamente ampla sobre o encontro entre Portugal e o Japão, iniciado em 1543 e que durou cerca de 100 anos.
Luís
Filipe Thomaz enquadra o processo dos Descobrimentos portugueses numa “história
universal de ampla cronologia e de geografia planetária”, como realça, no
prefácio, o historiador João Paulo Oliveira e Costa.
“A
leitura deste livro poderá servir como uma introdução a um modelo
interpretativo moderno, de cariz globalizante, livre das amarras quixotescas de
quem não deu conta que o mundo não se explica por uma visão eurocêntrica e que
não se descola de uma perspetiva colonialista dos Descobrimentos, criticando-a
indefinidamente como se não houvesse outro modelo explicativo”, afirma Oliveira
e Costa.
O
ex-aluno do autor salienta que Luiz Filipe Thomaz trouxe uma nova maneira de
abordar a realidade histórica, privilegiando o estudo dos povos ultramarinos
como forma de compreender a ação dos portugueses, e analisando sistematicamente
a documentação, permitindo “uma nova perceção dos acontecimentos, agora vistos
de um modo mais complexo e livre tanto dos interesses dos cronistas como dos
filtros que eclipsavam os agentes ultramarinos”.
Oliveira
e Costa dá como exemplo desta nova perspetiva sobre a expansão marítima
portuguesa os resultados da ação missionária, particularmente referidos em
“Nanban-Jin. Os Portugueses no Japão”, já que este país foi o espaço geográfico
onde se desenvolveu “uma das missões mais bem-sucedidas do século XVI”.
Os
portugueses chegaram ao Japão em 1543, 128 anos depois da conquista de Ceuta
(1415), 109 anos depois de Gil Eanes ultrapassar o Cabo Bojador (1434), 45 anos
depois de Vasco da Gama aportar pela primeira vez à Índia (1498), e 30 anos
depois de os primeiros oficiais portugueses terem desembarcado na China – um
contexto essencial “para compreender bem as relações luso-nipônicas”, defende
Oliveira e Costa, referindo-se ao contributo de Luís Filipe Thomaz, que se
afasta de “uma historiografia eurocêntrica de pendor colonialista”.
“Os
Descobrimentos provocaram o arranque irreversível da globalização”, e não basta
apenas “enunciar relações bilaterais entre portugueses e uma sucessão de povos,
como imaginam hoje os herdeiros da historiografia colonial travestidos de
anticolonialistas”, argumenta Oliveira Costa.
O
“encontro” entre portugueses e japoneses é ainda hoje celebrado no Japão, de
uma forma sistemática que resulta exclusivamente da população”.
João
Paulo Oliveira e Costa considera “que nenhum outro povo estrangeiro tem tantas
homenagens públicas espalhadas pelo território do Japão como os portugueses”, a
mais recente, um escorrega para crianças com a forma da nau de trato, a
“célebre nau” que em 1550 iniciou a ligação entre Goa, na Índia, e a ilha
japonesa de Kyushu, construído este século.
Luís
Filipe Thomaz, 82 anos, foi docente na Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa e na Universidade Nova de Lisboa, que o distinguiu com um douroramento
“honoris causa”.
Como
bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, frequentou, em Paris, a Escola
Prática de Altos Estudos e a Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, o
Instituto Nacional de Línguas e Civilizações Orientais, a Universidade Paris
III e o Instituto Católico.
Foi
professor nas Universidades de Bordéus, em França, de Kebangsaan, na Malásia,
da Ásia Oriental, em Macau e na Universidade de Santa Cruz, no Brasil, e
trabalhou na Universidade Católica Portuguesa, onde organizou o Instituto de
Estudos Orientais, do qual foi diretor de 2002 a 2011.
Depois
de deixar de lecionar recebeu a tonsura e o hábito monástico, tendo tomado o
nome de Jerónimo. Foi também ordenado diácono para servir a paróquia ortodoxa
moldava de S. João Crisóstomo, em Cascais.
Luís
Filipe Thomaz publicou dez livros, entre os quais “A Expansão Portuguesa – Um
Prisma de Muitas Faces” (2021), “O Drama de Magalhães e a Volta ao Mundo sem
Querer” (2018) e “Ucrânia – As Lições da História e Outros Estudos sobre o
Oriente Cristão” (2022). In “Mundo Lusíada” – Brasil com “Lusa”
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