Desde 1936 que a toupeira da espécie Cryptochloris wintoni, conhecida pelo seu pêlo que emite um brilho áureo, por ser totalmente cega e por parecer ‘nadar’ pelas dunas arenosas, não era avistada.
Contudo,
uma investigação de conservacionistas e geneticistas da organização
não-governamental Endangered Wildlife Trust (EWT) e da Universidade de Pretória
voltaram a descobrir, na África do Sul, esta espécie classificada como
‘Criticamente em Perigo’ pela União Internacional para Conservação da Natureza
(UICN).
Num
artigo publicado na revista ‘Biodiversity and Conservation’, é
revelado que a presença desta espécie e de alguns indivíduos foram detetados
graças à utilização de técnicas de análise de ADN ambiental recolhido do solo e
de um cão Border Collie que ajudou os investigadores a seguirem as pistas
odoríferas deixadas por este animal críptico.
De
acordo com os cientistas, esta toupeira, também vulgarmente conhecida como
toupeira-dourada de De Winton, foi vista pela última vez, há mais de 80 anos,
na localidade costeira sul-africana de Port Nolloth, uma região que tem sido
alvo de uma “transformação radical dos habitats” devido à exploração de
diamantes, algo que “representa uma ameaça significativa” para esta espécie.
É
um animal que não é facilmente observado. Além de viver em tocas subterrâneas,
tem uma audição extremamente apurada e é capaz de detetar vibrações produzidas
por movimento à superfície, que os investigadores dizem ajudar essas toupeiras
a manterem-se escondidas de potenciais predadores.
“Além
disso, também raramente deixam para trás túneis que sejam visíveis desde a
superfície à medida que se movem pela areia”, explicam em comunicado.
Através
da recolha de mais de 100 amostras de solo em junho de 2021, em praias e dunas
na costa noroeste de África do Sul, incluindo Port Nolloth, e da sua análise
genética, a equipa confirmou a presença da espécie que estaria extinta, bem
como de outras espécies de toupeiras-douradas, como a Chrysochloris asiatica,
a Eremitalpa granti e a Cryptochloris zyli, sendo essa última
também ameaçada de extinção.
“Embora
muitos duvidassem que a toupeira-dourada de De Winton ainda andasse por aí, eu
acreditava que a espécie ainda não se tinha extinguido”, admite Cobus Theron,
gestor de conservação da EWT e um dos autores do artigo.
Para
o especialista, era uma questão de tempo e de usar o método de deteção certo
até que se voltasse a registar a presença desse animal esquivo, e o ADN
ambienta provou ser a melhor abordagem, uma vez que é amplamente usada para
descobrir vestígios de espécies que normalmente são difíceis de observar em
contexto selvagem.
Embora
a toupeira-dourada de De Winton tenha uma área de distribuição mais ampla do
que se pensava, os cientistas dizem que não é uma espécie que se possa
considerar ser abundante. Como tal, esperam que os resultados do trabalho
possam evidenciar a necessidade e até urgência de criar e implementar medidas
que ajudem a proteger esta espécie, uma vez que parece apenas ocorrer numa
região fortemente pressionada pelas atividades humanas, para que não desapareça
de vez. Filipe Rações – Portugal in “Green
Savers”
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