Uma equipa internacional, liderada por investigadores da Universidade de Coimbra (UC), estudou um novo tipo de emissão de cintilação que ocorre no gás xénon e que tem impacto nos detetores de matéria escura e de neutrinos.
O
trabalho, acabado de publicar na prestigiada Physical Review X
(PRX), revista da Sociedade Americana de Física, foi idealizado e realizado
pelos investigadores Cristina Monteiro e Carlos Henriques, do Laboratório de
Instrumentação, Engenharia Biomédica e Física da Radiação (LIBPhys) da
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), no
âmbito da colaboração internacional NEXT.
Este
estudo, explica Cristina Monteiro, «revelou inequivocamente a existência da
emissão de um tipo de cintilação no gás xénon até agora ignorada pelos
cientistas. A dispersão de eletrões em átomos neutros no gás xénon dá origem a
um novo tipo de emissão de luz que afetará a sensibilidade dos detetores da
pesquisa de matéria escura e da física de neutrinos».
Quando
a radiação ionizante interage com o xénon «são emitidas grandes quantidades de
luz ultravioleta em comprimentos de onda específicos – uma
"eletroluminescência" que é aproveitada em pesquisas de matéria
escura e detetores de neutrinos», diz a investigadora da FCTUC. No entanto,
esclarece, «os investigadores não estavam cientes da presença de outra emissão
de luz, mais fraca, numa gama de comprimento de onda mais ampla, que se estende
desde o ultravioleta até ao infravermelho próximo. Os cientistas explicavam os
impulsos de luz correspondentes como sendo devido a impurezas no gás. Neste
estudo mostramos que, em vez disso, esses impulsos correspondem a sinais de um
novo tipo de luz emitida em xénon, causada pela dispersão de eletrões em átomos
neutros».
Com
esta descoberta, salienta Cristina Monteiro, «os cientistas agora sabem que
descobrir matéria escura e observar neutrinos requer mais do que apenas
purificar melhor o xénon dentro dos grandes sistemas de deteção. Os
investigadores devem também separar a luz correspondente à radiação de travagem
neutra para otimizar o design dos detetores e melhorar a sua sensibilidade».
Para
chegar a esta conclusão, a equipa da FCTUC, que inclui ainda Joana Teixeira,
aluna de doutoramento, realizou os estudos num sistema de laboratório de
pequenas dimensões, expressamente concebido para esse fim, e também identificou
essa luz, apelidada de radiação de travagem neutra, no detetor da experiência
internacional NEXT, de grandes dimensões, um detetor de partículas alojado num
laboratório subterrâneo em Espanha.
«Dado
o pequeno tamanho do detetor utilizado no LIBPhys-UC, a pureza do gás xénon no
seu interior é muito bem controlada. Além disso, permite isolar com precisão a
emissão de cintilação de uma região específica do detetor e estudar essa
emissão sob condições muito bem controladas, tanto quando a eletroluminescência
ocorre como quando esta não ocorre. Isso permite aos investigadores observar e
estudar a emissão de cintilação para além da eletroluminescência.
Simultaneamente, um modelo teórico robusto para a designada radiação de
travagem neutra descreve muito bem os resultados experimentais e permite
atribuir, inequivocamente, o mecanismo de cintilação observado à radiação de
travagem neutra», relata ainda Cristina Monteiro. Universidade de Coimbra -
Portugal
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