O ex-jornalista português, radicado na Tailândia, apresenta o seu primeiro livro, primeiramente em formato e-book, no próximo dia 1 de Maio. A obra narra a vida de um português do século XVI, que decide deixar o Reino de Portugal, e despedindo-se do amigo de infância, Damião de Góis, parte para o desconhecido Oriente. “Bastante exigente” consigo próprio, o autor acabou por escrever a obra “conforme a prática do século XVI, um pouco adaptada aos tempos modernos”
O
ex-jornalista português Pedro Daniel Oliveira, que viveu 17 anos em Macau e
actualmente encontra-se radicado em Banguecoque, na Tailândia, vai lançar no
próximo dia 1 de Maio o seu primeiro livro, um romance histórico intitulado “O
Oriente Místico de Chao Bálos” que versa sobre a vida de um português do século
XVI – Chao Bálos (nome asiático de João de Barros) –, que decide deixar o Reino
de Portugal e parte para o desconhecido Oriente.
E
como surgiu, agora, esta oportunidade de editar o livro, perguntámos a Pedro
Daniel Oliveira. Ao Ponto Final, o antigo profissional da comunicação social
explicou que há dez anos foi orador da palestra “Os Portugueses no Sião”, no
C&C Club, da Fundação Rui Cunha. “Na altura fui incitado a escrever um
livro sobre a temática, mas depressa percebi que não ia acrescentar nada de
novo ao que historiadores e investigadores já tinham avançado. O romance
histórico foi o caminho natural. Sou bastante exigente comigo próprio e impus o
desafio de escrever conforme a prática do século XVI, um pouco adaptada aos
tempos modernos. Foi um longo processo de aprendizagem e aperfeiçoamento pelo
qual tive de passar. Quis também ser fiel, o mais possível, aos acontecimentos
da época, resultando tudo em muito tempo de pesquisa e de confrontação de
fontes.”
Do
Reino de Narsinga à Terra do Elefante Branco, passando pela Ilha de Sanchoão,
Chao Bálos começa o seu périplo por Goa, pela região do Malabar, pelo Médio
Oriente, mais concretamente, Mascate e Ormuz, chegando inclusivamente a ir a
Meca. “Uma falsa embaixada bem-sucedida que efectua no Reino do Achém (Aceh),
na ilha de Samatra, faz com que se refugie no bandel dos portugueses em Odiaa (Ayutthaya),
capital do Reino do Sião, actual Tailândia. Numa ida a Sunda conhece o
aventureiro Fernão Mendes Pinto, que viaja no junco do herói para Odiaa, e vão
depois incorporados no exército siamês para fazer a guerra no Chiang Mai, então
reino vassalo do Sião”, pode ler-se na sinopse do livro, enviada em comunicado
de imprensa pelo autor.
Regressado da guerra, refere ainda a mesma sinopse, “um amor proibido com uma mulher nobre siamesa faz com que a sua vida corra perigo, escapando por pouco da morte que foi orquestrada por um poderoso homem da corte. O herói é então obrigado a fugir. Anos mais tarde encontra-se na ilha de Sancham (ilha de Sanchoão), na China, onde testemunha as derradeiras semanas de vida do Padre Mestre Francisco de Xavier, depois tornado Santo”.
A
residir em Malaca, o capitão da fortaleza confia-lhe a missão de ir a Goa
entregar uma carta ao provincial da Companhia de Jesus. Nesta sua curta estadia
na capital do império ultramarino conhece fortuitamente Luís Vaz de Camões,
partilhando ambos algo em comum.
Do
nosso lado, a incerteza sempre presente. Se não existem dúvidas de que Camões
esteve em Goa, o mesmo não se passa em relação à sua presença em Macau, apesar
da existência da Gruta de Camões no jardim com o nome do poeta, no centro de
Macau. Alguns académicos defendem a presença do poeta em Macau. Outros há que
acreditam piamente que nunca pisou o solo do território. Esteve e não esteve em
Macau o poeta português, autor d’Os Lusíadas? “Menciono isso no livro. Ambas
facilmente se comprovam”, afirmou Pedro Daniel Oliveira, sem mais se alongar
sobre o assunto.
Pedro
Daniel Oliveira ressalvou, durante a conversa que mantivemos, que o romance
histórico que agora torna público “abarca um pouco do reinado de D. Manuel I e
o início do reinado de D. João III, continuando depois com a chegada de Vasco
da Gama a Goa para ser Vice-Rei, e sua morte, as diferenças da Índia entre Lopo
Vaz de Sampaio e Pero Mascarenhas e estende-se ate à morte do Padre Mestre
Francisco de Xavier na ilha de Sanchoão, o assentamento dos portugueses em
Macau, a queda de Ayutthaya (Odiaa) às mãos dos birmaneses e a morte dos
primeiros padres dominicanos no Sião”. “A novela histórica tem uma componente
místico-religiosa, na qual são abordados vários temas relacionados com o
cristianismo-catolicismo, o islamismo, o hinduísmo e o budismo.”
Escrever, reescrever e a liberdade para ficcionar
Ao
nosso jornal, o português confessou ainda que a pesquisa histórica para a
feitura deste livro “foi contínua”. “Muitas vezes tive que reescrever o que
tinha escrito por ter informação mais completa sobre determinados eventos ou
situações. Noutras tive que optar pela minha versão, pois nem sempre as versões
da altura eram coincidentes. Tive liberdade para ficcionar, sempre com o
propósito de não enganar o leitor, assim como me aconselhou a aclamada Deana
Barroqueiro numa agradável conversa que tivemos na esplanada da pastelaria
Caravela, por altura de uma edição do Rota das Letras”, disse, acrescentando
que, no total, o livro demorou oito anos e meio a ser escrito.
A
sua presença de anos em Macau, onde chegou a formar família, bem como os anos
que já leva de vivência na Tailândia, deram a Pedro Daniel Oliveira alguma
bagagem para poder escrever sobre esta aventura a Oriente. Contudo, o autor
explica que o fascínio pela Ásia vem de longe e, aproveita para agradecer a
quem lhe proporcionou, um dia, deixar Portugal rumo a longínquas paragens. “Em
pequeno via na televisão a série ‘Os Heróis de Shaolin’. E via filmes do Bruce
Lee com as cassetes Beta. Começou aí o meu fascínio pela Ásia. Confesso que
nunca pensei viver na Ásia, muito menos em Macau ou na Tailândia. Só posso
estar grato pelos anos que vivi em Macau. O Manuel Gonçalves permitiu que
trabalhasse na TDM, o José Rocha Diniz que fosse jornalista e o padre Albino, e
depois o padre Mandia, sem esquecer o José Miguel Encarnação, que bebesse o
suficiente da religião católica para que este livro pudesse ver a luz do dia.
Acho que apesar de tudo tive sorte”, confessou ao Ponto Final.
O
primeiro livro de Pedro Daniel Oliveira, com 581 páginas, é uma edição de
autor. O autor confessou ao nosso jornal que contactou cerca de 25 editoras em
Portugal, para as quais enviou um exemplar do livro, mas apenas uma se mostrou
disponível para o editar em livro. “Infelizmente, a resposta deles ocorreu no auge
da pandemia. Estando a residir na Tailândia tornou tudo muito difícil para mim.
Sem querer avançar datas, a edição em papel está certamente nos meus planos,
mas por agora julgo que neste momento não é ainda a altura ideal para avançar”,
admitiu.
A
presente edição, que inclui um extenso glossário e uma lista toponímica que
documentam a pesquisa desenvolvida para a construção deste romance, conta ainda
com ilustração de capa da autoria do cartoonista Rodrigo de Matos e grafismo de
Oswald Pio Vas. O livro “O Oriente Místico de Chao Bálos” estará, numa primeira
fase, apenas disponível na loja virtual da Amazon Books, sendo primeiramente
disponibilizado no formato Kindle eBook, sendo que deverá ser publicado
posteriormente no formato tradicional. A pré-venda está disponível em
www.amazon.com/~/e/B09Y74XGWS. E o que podemos esperar da adesão do público?
Pedro Daniel Oliveira é um “optimista por natureza”. “Há público que certamente
vai adorar. No entanto, estou curioso em saber qual será a aceitação por parte do
público em geral sobre um tipo de escrita não convencional e que é um pouco
mais densa do que outros romances de época”, vaticina o autor.
Pedro
Daniel de Oliveira nasceu em Benavente, Portugal, em 1974. Tem forte ligação a
Alenquer, pelo lado materno, e a Samora Correia, pelo lado paterno. Alistou-se
na Força Aérea Portuguesa, fez o curso de Polícia Aérea e tirou a
subespecialidade de Treinador Tratador de Cães Militares, desempenhando serviço
no CFMTFA. Ingressou na Polícia de Segurança Pública e ficou colocado na 81.ª
Esquadra de Miraflores, Divisão de Oeiras, do COMETLIS. Pediu exoneração da
corporação e em Fevereiro de 2000 emigrou para Macau. Trabalhou como assistente
de realização na Teledifusão de Macau (TDM). Em Agosto de 2004, transitou para
o jornalismo no Jornal Tribuna de Macau. Prosseguiu a actividade profissional
no semanário católico O Clarim durante quase todo o ano de 2005, e optou por
regressar a Portugal, onde continuou como jornalista no semanário regional O
Mirante. Voltou a Macau em finais de 2007 e retomou funções no semanário O
Clarim, colaborando esporadicamente com a Revista Macau e com a Macao Magazine.
Reside em Banguecoque, capital da Tailândia, desde Setembro de 2018.
Presentemente, está a tirar a licenciatura em Gestão de Negócios
Internacionais, na Bangkok Thonburi University. É grande adepto de desporto.
Praticou atletismo no Maratona Clube de Portugal, foi internacional por Macau
em hóquei em patins e dedica-se agora ao CrossFit. Gonçalo Pinheiro – Macau in “Ponto
Final”
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