Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 20 de abril de 2022

“O Oriente Místico de Chao Bálos” romance histórico de Pedro Daniel Oliveira

O ex-jornalista português, radicado na Tailândia, apresenta o seu primeiro livro, primeiramente em formato e-book, no próximo dia 1 de Maio. A obra narra a vida de um português do século XVI, que decide deixar o Reino de Portugal, e despedindo-se do amigo de infância, Damião de Góis, parte para o desconhecido Oriente. “Bastante exigente” consigo próprio, o autor acabou por escrever a obra “conforme a prática do século XVI, um pouco adaptada aos tempos modernos”

O ex-jornalista português Pedro Daniel Oliveira, que viveu 17 anos em Macau e actualmente encontra-se radicado em Banguecoque, na Tailândia, vai lançar no próximo dia 1 de Maio o seu primeiro livro, um romance histórico intitulado “O Oriente Místico de Chao Bálos” que versa sobre a vida de um português do século XVI – Chao Bálos (nome asiático de João de Barros) –, que decide deixar o Reino de Portugal e parte para o desconhecido Oriente.

E como surgiu, agora, esta oportunidade de editar o livro, perguntámos a Pedro Daniel Oliveira. Ao Ponto Final, o antigo profissional da comunicação social explicou que há dez anos foi orador da palestra “Os Portugueses no Sião”, no C&C Club, da Fundação Rui Cunha. “Na altura fui incitado a escrever um livro sobre a temática, mas depressa percebi que não ia acrescentar nada de novo ao que historiadores e investigadores já tinham avançado. O romance histórico foi o caminho natural. Sou bastante exigente comigo próprio e impus o desafio de escrever conforme a prática do século XVI, um pouco adaptada aos tempos modernos. Foi um longo processo de aprendizagem e aperfeiçoamento pelo qual tive de passar. Quis também ser fiel, o mais possível, aos acontecimentos da época, resultando tudo em muito tempo de pesquisa e de confrontação de fontes.”

Do Reino de Narsinga à Terra do Elefante Branco, passando pela Ilha de Sanchoão, Chao Bálos começa o seu périplo por Goa, pela região do Malabar, pelo Médio Oriente, mais concretamente, Mascate e Ormuz, chegando inclusivamente a ir a Meca. “Uma falsa embaixada bem-sucedida que efectua no Reino do Achém (Aceh), na ilha de Samatra, faz com que se refugie no bandel dos portugueses em Odiaa (Ayutthaya), capital do Reino do Sião, actual Tailândia. Numa ida a Sunda conhece o aventureiro Fernão Mendes Pinto, que viaja no junco do herói para Odiaa, e vão depois incorporados no exército siamês para fazer a guerra no Chiang Mai, então reino vassalo do Sião”, pode ler-se na sinopse do livro, enviada em comunicado de imprensa pelo autor.

Regressado da guerra, refere ainda a mesma sinopse, “um amor proibido com uma mulher nobre siamesa faz com que a sua vida corra perigo, escapando por pouco da morte que foi orquestrada por um poderoso homem da corte. O herói é então obrigado a fugir. Anos mais tarde encontra-se na ilha de Sancham (ilha de Sanchoão), na China, onde testemunha as derradeiras semanas de vida do Padre Mestre Francisco de Xavier, depois tornado Santo”.

A residir em Malaca, o capitão da fortaleza confia-lhe a missão de ir a Goa entregar uma carta ao provincial da Companhia de Jesus. Nesta sua curta estadia na capital do império ultramarino conhece fortuitamente Luís Vaz de Camões, partilhando ambos algo em comum.

Do nosso lado, a incerteza sempre presente. Se não existem dúvidas de que Camões esteve em Goa, o mesmo não se passa em relação à sua presença em Macau, apesar da existência da Gruta de Camões no jardim com o nome do poeta, no centro de Macau. Alguns académicos defendem a presença do poeta em Macau. Outros há que acreditam piamente que nunca pisou o solo do território. Esteve e não esteve em Macau o poeta português, autor d’Os Lusíadas? “Menciono isso no livro. Ambas facilmente se comprovam”, afirmou Pedro Daniel Oliveira, sem mais se alongar sobre o assunto.

Pedro Daniel Oliveira ressalvou, durante a conversa que mantivemos, que o romance histórico que agora torna público “abarca um pouco do reinado de D. Manuel I e o início do reinado de D. João III, continuando depois com a chegada de Vasco da Gama a Goa para ser Vice-Rei, e sua morte, as diferenças da Índia entre Lopo Vaz de Sampaio e Pero Mascarenhas e estende-se ate à morte do Padre Mestre Francisco de Xavier na ilha de Sanchoão, o assentamento dos portugueses em Macau, a queda de Ayutthaya (Odiaa) às mãos dos birmaneses e a morte dos primeiros padres dominicanos no Sião”. “A novela histórica tem uma componente místico-religiosa, na qual são abordados vários temas relacionados com o cristianismo-catolicismo, o islamismo, o hinduísmo e o budismo.”

Escrever, reescrever e a liberdade para ficcionar

Ao nosso jornal, o português confessou ainda que a pesquisa histórica para a feitura deste livro “foi contínua”. “Muitas vezes tive que reescrever o que tinha escrito por ter informação mais completa sobre determinados eventos ou situações. Noutras tive que optar pela minha versão, pois nem sempre as versões da altura eram coincidentes. Tive liberdade para ficcionar, sempre com o propósito de não enganar o leitor, assim como me aconselhou a aclamada Deana Barroqueiro numa agradável conversa que tivemos na esplanada da pastelaria Caravela, por altura de uma edição do Rota das Letras”, disse, acrescentando que, no total, o livro demorou oito anos e meio a ser escrito.

A sua presença de anos em Macau, onde chegou a formar família, bem como os anos que já leva de vivência na Tailândia, deram a Pedro Daniel Oliveira alguma bagagem para poder escrever sobre esta aventura a Oriente. Contudo, o autor explica que o fascínio pela Ásia vem de longe e, aproveita para agradecer a quem lhe proporcionou, um dia, deixar Portugal rumo a longínquas paragens. “Em pequeno via na televisão a série ‘Os Heróis de Shaolin’. E via filmes do Bruce Lee com as cassetes Beta. Começou aí o meu fascínio pela Ásia. Confesso que nunca pensei viver na Ásia, muito menos em Macau ou na Tailândia. Só posso estar grato pelos anos que vivi em Macau. O Manuel Gonçalves permitiu que trabalhasse na TDM, o José Rocha Diniz que fosse jornalista e o padre Albino, e depois o padre Mandia, sem esquecer o José Miguel Encarnação, que bebesse o suficiente da religião católica para que este livro pudesse ver a luz do dia. Acho que apesar de tudo tive sorte”, confessou ao Ponto Final.

O primeiro livro de Pedro Daniel Oliveira, com 581 páginas, é uma edição de autor. O autor confessou ao nosso jornal que contactou cerca de 25 editoras em Portugal, para as quais enviou um exemplar do livro, mas apenas uma se mostrou disponível para o editar em livro. “Infelizmente, a resposta deles ocorreu no auge da pandemia. Estando a residir na Tailândia tornou tudo muito difícil para mim. Sem querer avançar datas, a edição em papel está certamente nos meus planos, mas por agora julgo que neste momento não é ainda a altura ideal para avançar”, admitiu.

A presente edição, que inclui um extenso glossário e uma lista toponímica que documentam a pesquisa desenvolvida para a construção deste romance, conta ainda com ilustração de capa da autoria do cartoonista Rodrigo de Matos e grafismo de Oswald Pio Vas. O livro “O Oriente Místico de Chao Bálos” estará, numa primeira fase, apenas disponível na loja virtual da Amazon Books, sendo primeiramente disponibilizado no formato Kindle eBook, sendo que deverá ser publicado posteriormente no formato tradicional. A pré-venda está disponível em www.amazon.com/~/e/B09Y74XGWS. E o que podemos esperar da adesão do público? Pedro Daniel Oliveira é um “optimista por natureza”. “Há público que certamente vai adorar. No entanto, estou curioso em saber qual será a aceitação por parte do público em geral sobre um tipo de escrita não convencional e que é um pouco mais densa do que outros romances de época”, vaticina o autor.

Pedro Daniel de Oliveira nasceu em Benavente, Portugal, em 1974. Tem forte ligação a Alenquer, pelo lado materno, e a Samora Correia, pelo lado paterno. Alistou-se na Força Aérea Portuguesa, fez o curso de Polícia Aérea e tirou a subespecialidade de Treinador Tratador de Cães Militares, desempenhando serviço no CFMTFA. Ingressou na Polícia de Segurança Pública e ficou colocado na 81.ª Esquadra de Miraflores, Divisão de Oeiras, do COMETLIS. Pediu exoneração da corporação e em Fevereiro de 2000 emigrou para Macau. Trabalhou como assistente de realização na Teledifusão de Macau (TDM). Em Agosto de 2004, transitou para o jornalismo no Jornal Tribuna de Macau. Prosseguiu a actividade profissional no semanário católico O Clarim durante quase todo o ano de 2005, e optou por regressar a Portugal, onde continuou como jornalista no semanário regional O Mirante. Voltou a Macau em finais de 2007 e retomou funções no semanário O Clarim, colaborando esporadicamente com a Revista Macau e com a Macao Magazine. Reside em Banguecoque, capital da Tailândia, desde Setembro de 2018. Presentemente, está a tirar a licenciatura em Gestão de Negócios Internacionais, na Bangkok Thonburi University. É grande adepto de desporto. Praticou atletismo no Maratona Clube de Portugal, foi internacional por Macau em hóquei em patins e dedica-se agora ao CrossFit. Gonçalo Pinheiro – Macau in “Ponto Final”


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