Paulistana era integrante da Academia Brasileira de Letras desde a década de 80 e já recebeu os prêmios Camões e Jabuti
A
escritora Lygia Fagundes Telles morreu na manhã deste domingo (3), aos 98 anos,
em São Paulo. Ícone da literatura brasileira, ela era integrante da Academia
Brasileira de Letras desde a década de 80 e já recebeu os prêmios Camões e
Jabuti.
Segundo
Juarez Neto, da Academia Brasileira de Letras (ABL), ela faleceu em casa, de
causas naturais.
O
velório será aberto ao público, na Academia Paulista de Letras, localizada no
Largo do Arouche, Centro da capital paulista. O corpo da escritora será
cremado.
Lygia
recebeu vários prêmios ao longo da carreira, tais como o Camões (2005), e o
Jabuti (1966, 1974 e 2001). Ela tem obras traduzidas para o alemão, espanhol,
francês, inglês, italiano, polonês, sueco, tcheco, além de adaptações de suas
obras para o cinema, teatro e TV.
O
governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, informou que o estado decreta luto
oficial por três dias pela morte da escritora paulista. "A grande dama da
literatura brasileira retratou a vida de gerações de homens e mulheres. Meus
sentimentos aos familiares e amigos", escreveu Garcia em uma rede social.
Em
nota, a Academia Paulista de Letras lamentou sua morte. "A mais notável
personalidade da literatura brasileira, patriota e democrata, já era lenda em
vida. Permanecerá no Panteão das glórias universais e, para orgulho nosso, era
mais academicamente bandeirante. Não faltava aos nossos encontros semanais no
Arouche. A gigantesca e exuberante obra continuará a ser revisitada, enquanto
houver leitor no mundo", escreveu José Renato Nalini.
Biografia
Lygia
nasceu em São Paulo em 19 de abril de 1923 e passou a infância no interior do
estado. Logo depois de alfabetizada, reproduzia nos cadernos escolares as
histórias que ouvia. Ela escreveu seu primeiro conto, "Vidoca", em
1938.
Na
época do ensino Fundamental, ela voltou para a capital com o pai, advogado, e a
mãe, pianista, e estudou na Escola Caetano de Campos, colégio tradicional da
cidade. Com apenas 15 anos, publicou seu primeiro livro de contos, "Porão
e Sobrado".
Em
seguida, ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da
Universidade de São Paulo, onde se formou. Quando era estudante do
pré-jurídico, a jovem cursou a Escola Superior de Educação Física da mesma
universidade.
Segundo
a ABL, ainda na adolescência manifestou-se a paixão, ou melhor, a vocação para
a literatura incentivada pelos seus maiores amigos, os escritores Carlos
Drummond de Andrade e Erico Verissimo.
Lygia
considerava Ciranda de Pedra (1954) o marco inicial de suas obras completas. O
romance virou novela na TV Globo quase 30 anos depois, em 1986.
Também
em 1954, nasceu seu filho Goffredo da Silva Telles Neto, de seu primeiro
casamento. Cineasta, ele viria lhe dar duas netas: Margarida e Lúcia, mãe da
única bisneta, Marina.
Ainda
nos anos 1950, foi publicado o livro Histórias do Desencontro (1958), que
recebeu o Prêmio do Instituto Nacional do Livro.
O
segundo romance, Verão no Aquário (1963), Prêmio Jabuti, saiu no mesmo ano em
que já divorciada casou-se com o crítico de cinema Paulo Emílio Sales Gomes. Em
parceria com ele, Lygia escreveu o roteiro para cinema Capitu (1967) baseado em
Dom Casmurro, de Machado de Assis.
A
década de 1970 foi de intensa atividade literária e marca o início da sua
consagração na carreira. A escritora publicou alguns de seus livros mais
importantes: Antes do Baile Verde (1970), As Meninas (1973), Seminário dos
Ratos (1977) e o livro de contos Filhos Pródigos (1978).
Em
1977, em plena ditadura, foi uma das autoras do "Manifesto dos
intelectuais" contra a censura.
Em
1985, ela foi eleita para a Academia Brasileira de Letras, se tornando a
terceira mulher a entrar para a ABL, e fez um discurso histórico.
"Imaginai
uma reunião na linha dos malditos, dos raros, daqueles que pelos caminhos mais
inesperados escolheram a ruptura. Fora do tempo e ocupando o mesmo espaço estão
todos em uma sala. É noite. Os gênios ignorados num país de memória curta, que
parece preferir os mitos estrangeiros, como se estivéssemos ainda no século 17,
sob o cativeiro do reino. Os mitos estrangeiros que continuam sim nos
vampirizando. Nós já estamos quase esvaídos e ainda oferecemos a jugular no
nosso melhor inglês, o vosso amor é uma honra para mim".
Em
1996, em entrevista ao programa Roda Viva, Lygia falou sobre a morte.
"Quando a morte olhar nos meus olhos e disser 'vamos', eu digo 'estou
pronta, fiz o que eu pude'".
De
acordo com a ABL, a consagração definitiva viria com o Prêmio Camões (2005),
distinção maior em língua portuguesa pelo conjunto de obra. In “g1
Globo.com” - Brasil
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