Uma
grande percentagem dos alunos que frequentam os cursos de jornalismo e
comunicação em Portugal não acredita na possibilidade de encontrar o primeiro
emprego na sua área de formação. Mesmo assim, a motivação para o curso é
elevada. A conclusão é de um estudo efetuado por dois investigadores da
Universidade de Coimbra (UC).
Um inquérito realizado a 1091 estudantes que frequentaram 38 cursos de licenciatura ou mestrado em jornalismo e comunicação social, em instituições de ensino superior nacionais públicas e privadas, no ano letivo 2020-2021, revela que 65,1% dos alunos consideram totalmente improvável, muito improvável ou improvável encontrar um primeiro emprego no jornalismo. Também 66,6% admitem idêntico tipo de improbabilidade no que se refere a conseguir um contrato laboral estável na profissão e 69,2% consideram o mesmo no que toca à probabilidade de ter um salário condizente com o estatuto e o tipo de tarefas a desempenhar.
Apesar
de todas as dificuldades, o estudo, realizado por João Miranda e Carlos
Camponez, do Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra,
indica que apenas 2,9% dos alunos admitiam a possibilidade de abandonarem o
curso para ingressar numa outra área de formação. Estes dados «podem ser tanto
mais relevantes quanto apenas 9,9% dos alunos que responderam ao inquérito
disseram que não pretendiam trabalhar em jornalismo», afirmam os
investigadores.
«Existe
um paradoxo entre os alunos que frequentam os cursos de jornalismo e
comunicação em Portugal. Se, por um
lado, os alunos demonstram altos índices motivacionais na escolha dos seus
cursos, por outro lado, constata-se que as expectativas quanto à sua realização
como jornalistas são baixas», notam.
O
estudo, que visou caracterizar os jovens que escolhem o jornalismo e compreender
as suas motivações, expectativas e perspetivas sobre a profissão, conclui
também que, «entre as motivações que levaram os alunos a ingressar nos cursos,
se destacam razões como o desejo de desenvolvimento pessoal e profissional, a
existência de currículos formativos interessantes ou a vontade de fazerem uma
carreira na área da comunicação social».
O
inquérito revela ainda que mais de 90% dos inquiridos concordam, concordam
bastante ou concordam totalmente com a ideia de que o jornalismo assume as funções
de “serviço público”, de “meio de educação” ou de “fórum de discussão pública”.
Já no que se refere ao papel dos jornalistas, os inquiridos privilegiam funções
como “comunicar informações emitidas pelas autoridades públicas”, “informar
sobre os eventos políticos e as suas consequências” ou “informar os
consumidores”.
João
Miranda e Carlos Camponez consideram que os resultados deste estudo contribuem
para «compreender uma realidade multidimensional, que envolve, a título de
exemplo, as transformações contemporâneas do jornalismo induzidas pelas
tecnologias da comunicação e da informação; os impactes dessas mudanças na
função social de mediação do jornalismo; os problemas económicos e
socioprofissionais em que está envolvido; enfim, os contextos e os desafios da
própria formação em jornalismo».
Dos
1091 inquiridos, 804 respondentes são do sexo feminino. A maioria dos
indivíduos que constituem a amostra tem idades compreendidas entre os 18 e os
23 anos.
Os
resultados deste estudo estão apresentados no livro “Estudantes de Comunicação
Social em Portugal – Expectativas e perspetivas sobre jornalismo”, disponível
em formato online. Trata-se de um segundo estudo editado pela Sopcom -
Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação. O primeiro foi realizado, no
ano passado, pela Rede Interuniversitária de Estudos sobre Jornalistas (RIEJ),
sobre o impacto da Covid-19 no jornalismo.
O
estudo procurou igualmente identificar os hábitos de consumo de informação
jornalística destes estudantes. As respostas revelam «preocupações dos alunos
com o acompanhamento regular da atualidade noticiosa, ao mesmo tempo que
evidenciam uma forte presença das redes sociais como as suas fontes principais
de informação. Apenas 0,9% das respostas não demonstram qualquer tipo de
concordância com a ideia de ser fundamental acompanhar as notícias e só 5,4%
consideram que os estudantes das áreas de jornalismo e de comunicação social
não têm uma obrigação particular de acompanhar a atualidade noticiosa», apontam
João Miranda e Carlos Camponez.
No
que respeita aos meios a que estes alunos mais recorrem para se manterem a par
das notícias, surgem os canais online dos órgãos de comunicação social e
os noticiários televisivos: 97,9% e 96,4%, respetivamente, dos alunos
inquiridos referem informar-se nestes meios, pelo menos uma vez por semana.
Seguem-se depois a rede social “Instagram” e a plataforma “YouTube” – 90,0% e
88,9%, respetivamente, dos inquiridos indicam que consultam estes meios, pelo
menos uma vez por semana, como forma de acompanhar a atualidade noticiosa.
Apenas 38,5% dos estudantes admitem pagar regularmente por informação
jornalística. Universidade de Coimbra - Portugal
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