Boston,
Estados Unidos – Três escritores do Brasil, Cabo Verde e Portugal destacaram que
devem ser aceites e incluídas as diferenças da língua portuguesa em diversas
partes do mundo, de acordo com a identidade dos povos que a falam.
Especialmente
promovida para uma audiência lusófona nos Estados Unidos da América (EUA), a
décima Conferência de Literatura em Língua Portuguesa decorreu de forma
virtual, com o título “Em que português nos entendemos?” e foi organizada pela
Coordenação do Ensino Português nos EUA (CEPE-EUA) e pelo Centro de Língua
Camões na Universidade de Massachusetts, na cidade norte-americana de Boston.
A
diversidade é fonte de “dinâmica”, disse o escritor brasileiro e diplomata João
Almino, membro da Academia Brasileira de Letras, acrescentando que todos podem
“enriquecer” com o diálogo entre as diferenças e sublinhando que “o que ameaça
a língua é a paralisia”.
Professor
universitário e autor de diversos romances e volumes de ensaios sobre
literatura e sobre história e filosofia política, João Almino disse que o
português “é muito diverso de um lugar para outro e nós devemos respeitar essas
diferenças, reconhecê-las e aceitá-las do ponto de vista gramatical ou
sintático”.
Defendendo
que os escritores, originários de qualquer parte do mundo, devem ter
“liberdade” para “incorporar” as suas vivências e cultura na mesma língua
portuguesa, João Almino acrescentou: “E quando eu leio, por exemplo, um
escritor africano, eu quero sentir o sabor da língua da África, daquele lugar”.
A
escritora cabo-verdiana Maria Augusta Teixeira, também conhecida como Mana
Guta, defendeu que é da responsabilidade e da “militância” dos escritores, que
são os que “estão sempre na vanguarda” de soluções, “recuperar a memória oral”
cultural de cada país para uma “forma perene”, com a transcrição das histórias
para livros.
A
presidente da Assembleia Geral da Sociedade Cabo-verdiana de Autores e
vice-presidente da Autoridade Reguladora para a Comunicação Social considerou
estar numa posição, em Cabo Verde, de “juntar as pontas soltas” das duas
línguas no país insular, português e cabo-verdiano ou crioulo.
Mana
Guta, também gestora pública e professora universitária, defendeu “sair da
dicotomia: porque nós temos crioulistas e lusofonistas em Cabo Verde. A minha
postura é juntar as pontas soltas, precisamos das duas línguas”.
Para
Lídia Jorge, autora portuguesa de 26 obras e distinguida com numerosos prémios
portugueses e internacionais, mais do que diferenças, as identidades são também
formadas por contrastes, inclusive em Portugal.
“Eu
fiquei profundamente marcada por um país que era pobre, de estender a mão, mas
que queria ser ao mesmo tempo um país que dominava uma vasta zona do mundo”,
disse a professora, que já ensinou em Portugal, Angola e Moçambique e é membro
do Conselho de Estado, órgão político de consulta presidencial.
Entre
outros assuntos, foram discutidos o “impasse” do acordo ortográfico e as
abordagens sobre o “fim do mundo” na literatura, com os três autores a
concordarem que, de uma maneira ou outra, o mundo está “num momento de
transição” ou de “quase fim do mundo”, por causa da crise sanitária mundial
provocada pela pandemia de covid-19 desde início do ano passado.
Na
apresentação da conferência, o cônsul-geral de Cabo Verde em Boston, Hermínio
Moniz sublinhou que “mais do que nunca, precisamos de inclusão linguística,
porque a língua é uma arma muito poderosa”.
O
tema da língua e construção de identidades é, para o cônsul-geral do Brasil em
Boston, Benedicto Fonseca Filho, “vastíssimo” e “abre tantas possibilidades
(…), como relações de poder ou papel das migrações”.
João
Pedro Fins do Lago, cônsul-geral de Portugal em Boston, destacou que a
conferência “tripartida” e multicultural, no seu décimo aniversário, decorreu
numa nota “positiva de inclusão e de reconhecimento do papel da mulher na
literatura”, com a atribuição do Prémio Camões à escritora moçambicana Paulina
Chiziane.
“É
com imensa satisfação e com imenso orgulho que vimos um prémio tão importante
ser atribuído a uma mulher, a uma mulher africana, a um vulto da literatura
lusófona, que há muito merecia esse reconhecimento”, declarou o cônsul
português.
A
conferência, inicialmente apresentada em inglês e em português, teve a
assistência ‘online’ de dezenas de pessoas e pelo menos duas turmas de
estudantes nos Estados Unidos.
Entre
as entidades envolvidas na promoção da Conferência de Literatura Portuguesa
destacam-se o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, a Fundação
Luso-Americana para o Desenvolvimento e da Universidade de Massachusetts de
Boston. In “Inforpress” – Cabo Verde com “Lusa”
Sem comentários:
Enviar um comentário