O centro de Moçambique pode sofrer mais intempéries que o resto do país na próxima estação das chuvas, acentuando um padrão de anos anteriores, segundo a mais recente previsão sazonal
As
autoridades estão inclusivamente a planear um investimento num novo centro
meteorológico para aquela zona com apoio do Banco Africano de Desenvolvimento
(BAD), que se deve tornar realidade até 2024 e aumentar a precisão das
previsões e alertas. A nova estação chuvosa está a começar: acontece anualmente
de Outubro a Março.
Desta
vez, para a região centro do país prevê-se que possa cair chuva “acima do
normal” em “practicamente em todos os períodos” e isto sem ainda conhecer a
previsão ciclónica – cuja época vai de Novembro a Abril, refere Acácio Tembe.
Numa
sala com vários computadores, o chefe do departamento de previsão do Instituto
Nacional de Meteorologia (Inam), em Maputo, olha para os mapas que recebe de
serviços de satélite para antecipar o que se vai passar nos próximos dias.
Outros colegas traçam o padrão meteorológico sazonal.
Em
média, em cada época, formam-se nove a 12 sistemas de baixas pressões na bacia
do sudoeste do oceano Índico, dos quais cinco a sete chegam à categoria de
ciclone tropical.
Destes,
dois a três ciclones podem atingir o canal de Moçambique e depois chegar ao
país. “Na última época [2020/21] tivemos os ciclones Chalane, Eloise e Guambe”
a provocar inundações, estragos e mortes, recorda.
Segundo
dados oficiais, a conjugação de diferentes desastres naturais provocou 96
mortes na anterior época chuvosa em Moçambique.
O
período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória no
território: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas de dois dos maiores
ciclones (Idai e Kenneth) de sempre a atingir a nação lusófona, especialmente as
províncias de Sofala e Manica, no centro.
“Estamos
a trabalhar para instalar um centro regional de previsão de tempo na cidade da
Beira e que vai permitir fazer previsões mais precisas para as províncias
centrais”, sem depender apenas de modelos nacionais, refere Acácio Tembe.
O
projecto tem o apoio do BAD e está em fase de preparação para ser concretizado
nos próximos dois anos. “Vai permitir criar melhores condições” de previsão e
alerta “para aquela região que tem sido assolada nos últimos tempos” por alguns
dos mais graves desastres naturais, sublinha.
Além
de infraestruturas e equipamento, o investimento inclui formação de
meteorologistas que deve arrancar em breve, acrescenta. Nos terrenos no Inam,
no centro de Maputo, três antenas parabólicas ocupam o espaço exterior à
entrada do gabinete de previsões, ligadas a diferentes satélites que fornecem
imagens, sendo que boa parte dos dados também chega diretamente através de
redes fechadas na Internet a que o instituto tem acesso.
Mais
à frente, há uma estação automática e outra manual que realizam diferentes
medições: vento, temperatura, humidade, pluviosidade, entre outras.
Dezembro
e Janeiro costumam ser meses críticos, com os solos a começar a ficar saturados
e os níveis de precipitação ainda a aumentar, o que requer do Inam “mais
trabalho de monitorização e alerta” relativos às condições meteorológicas.
Acácio
Tembe prepara no seu computador as previsões que dão conta da aproximação de
vento forte. “No início e fim da época chuvosa há vendavais, fenómenos de curta
duração” que podem ser acompanhados por “trovoadas severas e queda de granizo”
devido a bruscas oscilações de temperatura – no caso, dias subitamente tórridos
com os termómetros a baterem nos 40º no Sul do país.
Outra
ambição do Inam passa por instalar estações meteorológicas em todos os
distritos – há inclusive um programa governamental intitulado “Um distrito, uma
estação” -, aumentando a rede que já produz previsões para 40, aqueles onde há
maior actividade económica e turismo.
“Com
dados locais é possível dar informação com maior precisão e antecipar quaisquer
fenómenos meteorológicos” com maior rigor, conclui Acácio Tembe, antes de mudar
de sala para iniciar uma intervenção para uma televisão local.
A
previsão do tempo continua a ser uma das informações diárias obrigatória para
os meios de comunicação social, com atenção redobrada durante a época chuvosa
que agora arranca em Moçambique. In “Ponto Final” - Macau
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