O
Centro Cultural São Paulo, equipamento da Secretaria Municipal de Cultura de
São Paulo, recebe, até 14 de novembro, a exposição “Poesia Experimental
Portuguesa”, no Piso Flávio de Carvalho O compilado de obras apresenta, pela
primeira vez ao público brasileiro, um panorama da poesia experimental
realizada em Portugal desde os anos 1960 até os dias atuais.
São
cerca de 80 trabalhos de 18 artistas portugueses, com curadoria de Bruna
Callegari e Omar Khouri. A coletânea percorre uma trajetória de seis décadas de
produção poética em diferentes formatos e suportes: impressões, pinturas,
caligrafias, fotografias, objetos, áudios e vídeos.
Apelidada
com as iniciais de Poesia Experimental, a PO-EX nunca se configurou como um
movimento fechado e teve pouca visibilidade no Brasil, embora ambos os países
compartilhem da mesma língua e os portugueses tenham sido influenciados pela
Poesia Concreta brasileira.
Na
exposição, destacam-se obras de artistas como E.M. de Melo e Castro, Ana
Hatherly, António Aragão, Salette Tavares, Silvestre Pestana, António Barros,
Fernando Aguiar, Abílio-José Santos, entre outros. Falecido no ano passado, o
poeta E. M. de Melo e Castro, pai da cantora Eugénia Melo e Castro, recebe
homenagem especial da curadoria.
A
Poesia Experimental sempre se configurou como uma prática artística de
resistência e transgressão. “Esta poesia nasce e se desenvolve no que se pode
chamar Era Pós-Verso, instaurada pela Poesia Concreta, nos anos de 1950. Os
experimentais são poetas que valorizam as visualidades todas, assim como as
técnicas que as possibilitam. Fizeram uso de todos os media que se apresentaram
acessíveis”, explica o curador e poeta brasileiro Omar Khouri.
“É
uma poesia que, desde o início, teve como característica a desmaterialização,
praticada à margem, que utilizou meios e materiais frágeis e de pouca
circulação, mas que se fundou em um conceitualismo muito forte”, explica a
curadora Bruna Callegari.
Em
suas viagens a Portugal, Bruna encontrou com artistas, colecionadores e
instituições de arte e recolheu um variado material, que compreende desde
revistas independentes, documentos, obras em papel, colagens, arte-postal,
registros em vídeo e objetos. “Apresentamos na exposição um recorte
significativo, com materiais originais que marcam todas as décadas desde os
anos 1960 até obras feitas em 2018. É um material rico e panorâmico dessa
poesia, que atravessou os tempos, tendo preservado e expandido o seu projeto de
resistência cultural e de radicalidade da linguagem”, declara a curadora.
A
exposição visa resgatar e evidenciar o histórico dos artistas e de sua valiosa
produção cultural. Ao longo do período expositivo, será lançado um
livro-catálogo, com edição de textos dos autores portugueses E.M de Melo e
Castro, Ana Hatherly e Fernando Aguiar, além de reprodução das obras em
exposição, em sua maioria nunca publicadas no Brasil. Estão previstas ainda
lives com os poetas Fernando Aguiar e Silvestre Pestana.
A
Poesia Experimental Portuguesa surgiu na década de 1960, desafiando métodos e
convenções pré-definidas na cena artística portuguesa. Reconhecida em outros
países como concreta, visual, espacial ou intersemiótica, autodenominou-se, em
Portugal, Poesia Experimental com o lançamento, em 1964, de revista de mesmo
nome, a qual alcançou o seu segundo número em 1966.
Dois
acontecimentos antecederam o aparecimento em Portugal de manifestações
originais da Poesia Experimental: primeiro, a rápida visita a Lisboa do poeta
concreto brasileiro Décio Pignatari em 1956 e, segundo a publicação em 1962,
pela Embaixada do Brasil em Lisboa, de uma compilação da Poesia Concreta do
grupo brasileiro Noigandres.
Em
cerca de 60 anos de existência, a Poesia Experimental segue em atividade. Cada
artista desenvolve uma maneira diferente de expressão da visualidade na poesia.
Ao longo dos anos, as novas gerações de poetas deram continuidade às
experimentações, mantendo sempre o princípio da invenção. Tudo pode virar
poesia: poemas-objetos, poesia visual, poesia-performance, poesia-cinética e
videopoesia. In “Mundo Lusíada” – Brasil
Artistas na exposição: Abílio-José
Santos, Américo Rodrigues, Ana Hatherly, António Aragão, António Barros, António
Dantas, António Nelos, César Figueiredo, M. de Melo e Castro, Emerenciano, Fernando
Aguiar, Gabriel Rui Silva, Jorge dos Reis, José-Alberto Marques, Nuno M.
Cardoso, Rui Torres, Salette Tavares e Silvestre Pestana.
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