O
rei João VI foi “astucioso” quando empreendeu a ida da corte portuguesa para o
Brasil, evitando a prisão da família real, face à iminente invasão napoleônica
em 1807, escreve Armando Seixas Ferreira num novo livro.
A
obra “1821. O Regresso do Rei” é apresentada pelo vice-almirante Henrique
Gouveia e Melo, no dia 12, às 18:00, na sala D. Luís do Palácio Nacional da
Ajuda, em Lisboa.
O
jornalista Seixas Ferreira realça que, ao escapar das tropas napoleônicas, João
VI, que assumira a regência devido aos problemas psicológicos da sua mãe, a
rainha Maria I, “desempenhou um papel crucial quando a soberania do reino foi
ameaçada e o país corria o risco de desaparecer”.
“Ao
transferir a sede da monarquia para o hemisfério sul, o regente dava uma lição
de estratégia a Bonaparte” e teve “o descaramento e a coragem para desafiar o
terrível Napoleão”, contrastando com a imagem de “um príncipe medroso, como era
tratado pelos jornais franceses”.
Armando
Seixas Ferreira partilha da opinião do historiador Oliveira Lima que afirmou
que o filho de Maria I “agiu com o único objetivo de garantir a sobrevivência
do reino”, não se deixando “aprisionar mantendo viva a nação portuguesa do
outro lado do Atlântico” e sublinha que “é muito mais justo considerar a
trasladação da corte para o Rio de Janeiro como uma inteligente manobra
política de que uma deserção cobarde”.
A
corte partiu de Lisboa nos inícios de novembro de 1801, enfrentou o oceano,
“debaixo de uma tempestade”, e mesmo escoltada por navios britânicos foi um
risco: “Se a esquadra naufragasse, seria o fim da dinastia e, possivelmente, de
Portugal, como hoje o conhecemos”.
Com
a família real, além de muitos materiais, joias, ouro e até alguma maquinaria,
seguiram 15000 pessoas, que enfrentaram ventos adversos, mas chegaram
“aclamados” a terras brasileiras.
Quando
exilado na ilha de Santa Helena, Napoleão reconheceu que foi com o desastre na
Península Ibérica “que se perdeu”, “até à capitulação [em 1815] em Waterloo”,
na atual Bélgica.
Após
a morte de Maria I, em março de 1816, João VI, em fevereiro de 1818, tornou-se
o primeiro monarca europeu a subir ao trono no continente americano, numa
“espetacular cerimônia”.
Apesar
do descontentamento dos portugueses pela ausência do monarca, João VI foi
“protelando” a partida do Brasil, porque “sabia que a viagem podia significar a
separação dos dois Estados”, como veio a acontecer 1822, mas como dissera ao
seu primogênito, primeiro imperador do Brasil e rei Pedro IV de Portugal,
preferia que essa separação fosse sob a égide da Casa de Bragança e que a coroa
ficasse com o seu filho “do que vê-la passar para as mãos de um aventureiro”.
A
obra de Seixas Ferreira centra-se essencialmente na viagem de regresso,
iniciada em abril de 1821, um rei que regressava “vitorioso mas carregado de
apreensões”.
Em
agosto desse ano eclodiria no Porto a revolução liberal e ao monarca ia-lhe ser
imposta uma Constituição, que retirava o poder absoluto ao rei, decidindo a
divisão de poderes legislativo, executivo e judicial.
Como
antecipa o autor no prólogo, “além do relato da jornada”, nesta obra são
“analisados os episódios mais marcantes do atribulado reinado de D. João VI
[que termina com a sua morte em março de 1826], com especial destaque para a
sua permanência no Brasil”.
A
obra de Armando Seixas Ferreira, jornalista na RTP, contou com a consulta de
fontes documentais inéditas, nomeadamente os manuscritos da nau de João VI, que
transportava o monarca, e “uma bibliografia com testemunhos dos principais
intervenientes”, além de uma atenta leitura dos diários de bordo, nomeadamente
do brigue “Reino Unido” e da corveta “Voador”, que escoltavam a esquadra
portuguesa.
“1821.
O Regresso do Rei”, de Seixas Ferreira, é publicado quando passam 200 anos do
regresso da corte a Portugal, e um ano antes dos 200 anos da independência do
Brasil (1822), “um país que D. João VI amou de verdade”. In “Mundo
Lusíada” – Brasil com “Lusa”
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