Nada
poderia ter preparado Mohammed Shah Nawaz Chowdhury para a grave realidade da
ilha de Kutubdia. Localizada no litoral de Bangladesh, estava rapidamente a ser
“comida” pelo mar. Muitos habitantes fizeram as malas e mudaram-se e o que não
conseguiram fazer afastaram-se gradualmente da costa.
Mas
um lampejo de esperança pode ser visto entre as ondas. Pouco acima do nível da
água, recifes incrustados de ostras brilham ao sol. Esses recifes são lares
activos da vida marinha, uma fonte potencial de rendimento para os habitantes
locais e, como espera Chowdhury, poderão tornar-se uma formidável defesa contra
o aumento do nível do mar.
A
ideia dos recifes de ostras de Kutubdia surgiu em 2012, quando Chowdhury era
investigador do Instituto de Ciências Marinhas da Universidade de Chittagong.
A
ideia havia funcionado antes nos Países Baixos e também teve sucesso nos EUA.
Agora, investigadores holandeses, aceitaram trabalhar em conjunto com Chowdhury
para tentar melhorar a situação em Kutubdia.
A
questão, naturalmente, era que Bangladesh e os Países Baixos estão a milhares
de kms de distância e têm contextos ambientais bem diferentes. “Eu não era
céptico, mas tínhamos que planear muito”, afirma Chowdhury.
Atingida
regularmente por tempestades, ciclones e pelo aumento do nível do mar, a costa
de Bangladesh é susceptível a muitas tensões climáticas e a ilha de Kutubdia é
um microcosmo desses desafios em sua forma mais violenta.
Quebra-mares de ostras
As
ostras constroem os ambientes agarrando-se a superfícies rígidas submersas e
unindo-se para criar estruturas de recife. Está documentado o seu papel na
filtragem e retenção de nutrientes da água, fornecendo locais de desova e
abrigo para os peixes, o que amplia a biodiversidade. Os recifes de ostras
fornecem habitat para outros animais, melhoram a qualidade da água e aumentam o
crescimento das algas marinhas.
Porém,
os investigadores interessaram-se especificamente pelo papel das ostras como
quebra-mares naturais. “O que desejamos é a sedimentação por trás da estrutura
do recife, formada naturalmente pelas ostras. Os recifes ampliam a faixa
litoral e acalmam as ondas”, afirma Petra Dankers, consultora de eco-engenharia
da Royal Haskoning DHV, parceira do projecto em Kutubdia.
A
compreensão das forças naturais que moldaram Kutubdia foi especialmente
importante porque, ao contrário de vários projectos de recifes de ostras noutras
partes do mundo (por exemplo, no Golfo do México), este não era a restauração
de um recife em deterioração. Era a introdução de novos recifes como estruturas
de engenharia.
Felizmente,
a região apresentou muitas das condições ideais necessárias, segundo Chowdhury
descobriu imediatamente. A temperatura da água era apropriada, bem como a
velocidade de fluxo da água, os níveis de pH, a salinidade e oxigénio existente
que permitiam vida já existente, como os fitoplânctons.
A
ilha de Kutubdia exibia alguns conjuntos de ostras a crescer naturalmente em
pilares de cimento, perto de um dos cais. E, para dar início ao novo recife, os
investigadores escolheram cimento em anéis circulares que os moradores locais
empilham e cobrem com um vaso sanitário.
É
que, embora as ostras possam crescer no cimento, elas não podem ser expostas ao
ar ou ao sol por mais de 20% do tempo”, afirma Chowdhury, pelo que recorreu à
comunidade nativa costeira para encontrar o ponto ideal para o recife
artificial. Os pescadores já conheciam bem os ritmos do aumento e diminuição
das marés ao longo das estações.
O
conhecimento dos ilhéus sobre a kostura (a palavra local para “ostra”) foi-lhes
valioso antes dos primeiros 300 kg de anéis irem para a água num teste em 2014
e quando, dois anos depois foram transportados para um destino final.
Os
investigadores esperavam que os recifes de ostras pudessem também ser uma fonte
nutritiva de alimento e ricas zonas de pesca. “Começamos a encontrar nos anéis,
caranguejos, percebes, anémonas, gastrópodes e vermes aquáticos que atraem
peixes” disse o investigador.
Embora
os peixes fossem bem-vindos, para a melhoria dos rendimentos dos pescadores
locais, a acumulação de sedimentos atrás do recife foi o que começou a fazer a
diferença. “Dependendo do seu ambiente, a sedimentação acumula-se gradualmente
a favor do vento”, segundo Dankers. “Nos Países Baixos, observamos 1 a 5
centímetros por ano. No Bangladesh, verificamos até 30 cm anuais.”
O
recife ajudou também os sedimentos a acumularem-se até 30 metros, dissipou as
ondas com menos de 50 centímetros, reduziu consideravelmente as de mais de um
metro e funcionou até em condições meteorológicas intensas – observadas quando
o ciclone tropical Roanu atingiu o local do estudo, em Maio de 2016 e a
vegetação também floresceu
“Conhecemos
as vulnerabilidades dos recifes vivos, como a susceptibilidade a doenças. Mas
as ostras são resistentes”, afirma Aad Smaal, professor da Universidade de
Wageningen que espera que as ostras se tornem parte de uma mudança de paradigma
da forma como observamos as defesas costeiras.
“A
ideia é usar recursos naturais e construir com a natureza, porque trabalhar
contra a natureza não é viável”, salienta. In “Jornal
Tribuna de Macau” – Macau com “Agências
Internacionais”
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