Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

França - Vai ser lançada uma campanha para aumentar a inscrições de alunos em português

Em causa está a reforma do ensino secundário francês que poderá ter impacto no ensino de Português a nível universitário naquele país



A reforma do ensino secundário em França, aprovada pelo Governo francês e que terá eco em 2021 poderá afetar o ensino da língua portuguesa também a nível universitário. “Poderá efetivamente ter um impacto direto no número de alunos que procuram uma especialização em português na universidade francesa”, avançam Adelaide Cristóvão, coordenadora do ensino português em França e Ana Paixão, diretora da Casa de Portugal-André de Gouveia e Leitora do Camões, I.P. na Universidade de Paris VIII.

As duas responsáveis explicam que muitos alunos que chegavam à universidade tinham aprendido português como terceira língua viva (LV) no secundário (lycée). Com a nova reforma do ensino secundário podem continuar a fazê-lo, mas já não tem a mesma pontuação no exame do 12° ano, “e esse facto reduz o número de alunos a optarem por estudar português como terceira língua”.

O português continua a ser ensinado como até aqui, como língua viva 1 (LV1), a partir do 6° ano, ou como LV2, a partir do 7° ano. A reforma do ensino secundário veio fazer-se sentir no 11° e 12° anos (1ère e Terminale). Para os dois últimos anos da escolaridade é agora criada uma área de especialidade: a LLCE – Línguas, Literaturas e Culturas Estrangeiras, que contemplava apenas o inglês, o espanhol, o alemão e o italiano, ou seja, com o português a ficar de fora nessa especialidade.

A Coordenação do EPE em França e o Embaixador de Portugal no país, Jorge Torres Pereira, juntaram esforços, que contaram também com o apoio de Embaixadores dos outros países lusófonos, no sentido de solicitar ao Ministério da Educação francês a inclusão do Português no LLCE, tendo sido mesmo enviada carta ao Ministro da tutela.

“Conseguiram-se resultados positivos. A especialidade LLCE foi alargada ao português em alguns liceus das academias de Paris, de Versailles e de Créteil e também à Guiana Francesa onde o português é muito ensinado”, sublinham Adelaide Cristóvão e Ana Paixão. Atualmente, as negociações prosseguem no sentido do português integrar a especialidade em todo o território francês.

O movimento associativo juntou-se à iniciativa. Foi o caso da Associação para o desenvolvimento dos estudos portugueses, brasileiros, da África e da Ásia lusófonas (ADEPBA), que enviou cartas ao Ministro da Educação francês e organizou abaixo-assinados que contribuíram para os resultados obtidos.

Momento político “é favorável”

Partiu ainda do Embaixador português a iniciativa de criar a Comissão de Acompanhamento do Português em França (CAPEF) que agrega professores, decisores políticos, associações, empresários, diplomatas e ainda a Embaixada do Brasil e a Coordenação do Ensino Português.

Adelaide Cristóvão e Ana Paixão revelam que a comissão está a preparar uma campanha para aumentar o número de inscritos em língua portuguesa logo a partir da primária, mas sobretudo no 2° e 3° ciclos (collège), “mobilizando pais e alunos não só de origens lusófonas, mas de vários horizontes geográficos, no sentido de afirmar a língua portuguesa em todas as suas vertentes”.

Em meio à movimentação já gerada, sublinham que o momento político das relações entre Portugal e França “é particularmente favorável”, dando como exemplo o Acordo de Cooperação Educativa e Linguística celebrado entre os dois países e recentemente ratificado e que reuniu a primeira comissão de acompanhamento no passado dia 16 de outubro, em Lisboa.

Apontam ainda outras iniciativas relevantes “para o bom entendimento político, escolar, académico, ou cultural” entre Portugal e França: a assinatura de parcerias ‘Erasmus +’ entre a academia de Paris e vários agrupamentos escolares da região de Lisboa em dezembro de 2019, a participação da Universidade de Lisboa no projeto das Universidades europeias lançado pelo Presidente Macron, a presença de França enquanto membro observador da CPLP desde junho de 2018 ou o lançamento da ‘Saison croisée/Programação cruzada’ Portugal – França em 2021.

“Neste contexto favorável das relações bilaterais entre os dois países, continuaremos a trabalhar pela afirmação da Língua Portuguesa no ensino primário, secundário e universitário francês, continuando a missão de a incluir em diferentes áreas académicas, neste momento marcante da celebração do centenário do ensino do português na universidade francesa”, asseguram. Ana Pinto – Portugal in “Mundo Português”

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