A
quem possa interessar…
…Estou
a folhear catálogos e convites antigos, a explorar gavetas, à procura de fotos
antigas de noites de abertura, a tentar lembrar-me de quem eu era há vinte
anos.
Quando
me perguntam como cheguei a Portugal, respondo muitas vezes, por acaso. Viemos
para ficar 20 dias e ficámos uma vida. Mas a verdade é que eu estava à procura
de um “acaso”. Podia ter acontecido na Holanda, na Grécia, ou em qualquer outro
lugar mas um feliz acidente trouxe-me a Portugal. A mesma sorte colocou o Luís
Madureira no meu caminho. Estava à procura de galerias e a oferecer os meus
quadros a quem tivesse a amabilidade de folhear o meu portfólio quando o meu
amigo e colega, Gustavo Fernandes, que era na altura o director artístico deste
Espaço me convidou a expor. Estou-lhe grato por isso. Aqui conheci o Luís
Madureira.
Nada
indicava que a nossa colaboração viesse a durar tanto tempo, muito menos que
nos tornássemos amigos. Somos diferentes nas línguas que falamos, na idade,
origem, experiência de vida e a nossa relação não parecia duradoura. Ele era o
senhor da velha guarda, sempre de fato e gravata e eu informal de cabelo
comprido e brinco. Nunca pensei sobreviver da arte neste País e ele não tinha
desejo e ambição de se tornar galerista. Contudo é óptimo profissional,
respeitado pelos clientes e apreciado pelos artistas. Num negócio onde as
carreiras aparecem e desaparecem de um dia para o outro e onde as galerias
abrem e fecham de temporada para temporada, manter uma galeria bem-sucedida
durante mais de vinte anos não é uma conquista pequena. Muito poucos conseguem.
O laico pode pensar que isso é fácil, que não existe um grande segredo no
negócio da arte, que bom gosto e uma dose de bom senso podem ser suficientes. Puro
engano. Ser bom galerista exige integridade pessoal: honestidade, modéstia, lealdade.
Estas são também as qualidades de uma pessoa que se deseja para um amigo.
Pesquisando
não consigo chegar ao número exacto de exposições que fizemos juntos mas foram
seguramente mais de dez individuais (algumas realizadas em espaços públicos e
não na Galeria LM) e mais de vinte coletivas. Lembro-me de cada montagem, de
cada inauguração, de todo o processo de preparação. Sempre foi divertido e empolgante.
Foi feito com amizade.
Tenho
muito gosto em dedicar esta exposição ao meu amigo, Luís Madureira.
Branislav Mihajlovic
Sem comentários:
Enviar um comentário