As abelhas destacam-se por disseminar o pólen e fertilizar vários tipos de flora selvagem, bem como culturas agrícolas essenciais, como o tomate, o mirtilo e a abóbora. No entanto, encontram-se ameaçadas pelo calor extremo e outros factores. Foi pensando na sua preservação, que nos últimos quatro anos, o activista ambiental, João Gomes, vem apostando na apicultura
A
apicultura é um ramo da zootecnia, voltada para a criação de abelhas. Essa
técnica, segundo o portal brasileiro revista agropecuária, pode ter por
objectivo a produção de mel, própolis, geleia real, pólen, cera de abelha e
veneno, ou mesmo fazer parte de um projecto de paisagismo.
Ao
Expresso das Ilhas, João Gomes conta que há já alguns anos que a apicultura é
desenvolvida pela Associação Vercellese Verso Santa Cruz, num projecto
financiado por uma igreja valdense na Itália. A referida associação, em
parceria com a Câmara Municipal de Santa Cruz, no interior da ilha de Santiago,
oferece formação em apicultura aos jovens daquela localidade.
“Eu,
por exemplo, beneficiei-me dessa formação e depois apaixonei-me por esse bicho
porque trabalho muito com conservação e protecção do meio ambiente. Como é uma
espécie que está em via de extinção, achei por bem fazer esta formação e uma
outra na Itália para adquirir mais conhecimento e propagá-lo em Cabo Verde”,
relata.
João
Gomes afirma que enquanto um multiplicador do conhecimento, vem desenvolvendo a
apicultura de modo a ajudar a agricultura no país.
Nos
últimos quatro anos de existência da apicultura, João construiu 11 colmeias, ou
famílias de abelhas.
“A
apicultura teve início na década de 90 em Santa Cruz, o projecto foi
interrompido por falta de apoio. Hoje estamos avançados. Contamos onze colmeias
povoadas. Vamos iniciar agora uma segunda acção de formação já que estamos na
preparação do apeado que está formado, o que permite dar uma formação de início
ao fim”, assegura.
Segundo
explica o activista, hoje é possível dar aos jovens uma formação em apicultura
do início ao fim, porque a existência de famílias de abelhas, permite ir além
da teoria. Diferente da época em que se formou, em que depois da teoria, era
preciso iniciar a apicultura do zero.
“Isso
está ultrapassado. Quem vem tomar formação, além da que eu tinha tomado, vai
poder assistir no terreno a algo que já está avançado. Isso vai ajudá-los muito
no processo de aprendizagem, o que é bom e dá para ver que Cabo Verde está num
bom caminho”, afirma.
Cada
colmeia pode ter entre 40 a 70 mil abelhas, dependendo do estado de saúde de
cada família. No caso das famílias estarem fortes, esclarece João Gomes, cada
colmeia pode conter até 70 mil indivíduos.
Importância da apicultura
João
Gomes expende que no país, assim como no resto do mundo, todas as abelhas estão
no activo na natureza. Daí que se torna importante que hoje, se capacitem
jovens de modo a multiplicar as colmeias que os apicultores devem ter
conservado devido a diminuição do número das mesmas na natureza.
“Se
corrermos o risco de perder todas as abelhas que estão no meio ambiente, será
um grande problema reintroduzi-las”, alerta.
Assim,
o activista ambiental reitera que se a apicultura for feita de forma
organizada, vai permitir ajudar as abelhas, independentemente das localidades
onde estiverem, independentemente das alterações climáticas que vêm afectando a
espécie.
Nas
suas declarações, garante que o primeiro objectivo deste projecto é a protecção
e conservação da espécie que está em via de extinção.
Entretanto,
aponta outros benefícios da apicultura como a produção do mel, própoles, cera,
pólen e geleia real, todos uma fonte de rendimento e uma ajuda para a saúde
humana.
“Ainda
não produzimos nada para venda já que a nossa prioridade é reproduzir as famílias
que temos e maximizá-las. Quando estiverem fortes e tiverem condições de
produzir mel e os outros derivados tanto para o consumo como para a
comercialização aí, sim, faremos isso”, diz.
Embora
ainda não sejam produzidas para serem comercializadas, João Gomes destaca que
há muita procura por esses produtos, sobretudo do mel e própoles.
“Porque
estamos a desenvolver um medicamento com própoles, álcool e cana-de-açúcar para
combater fungos e bactérias. Algumas pessoas deram-se conta e mesmo não tendo
para comercializar, algumas vezes temos tido procura. Porque por vezes
oferecemos a amigos e a novidade se espalha. Temos tido procura da ilha de Boa
Vista, mas sobretudo da ilha de Santiago, mais especificamente da cidade da
Praia, Santa Cruz e Tarrafal”.
Remoção de enxames em residências
Conforme
o entrevistado, a remoção de enxames em casas de família é algo corriqueiro.
Mas, o grupo enfrenta algumas dificuldades para tal.
“Há
lugares que são distantes e ir fazer uma captura requer custo. Se for um enxame
que invadiu uma casa e está numa árvore a remoção é fácil. Contudo, se for um
enxame que vive numa parede há já algum tempo, é mais difícil”, descreve
apontando para uma colmeia removida em Achada Santo António, Praia.
Para
remover aquela colmeia, especificamente, João Gomes narra que foram precisas
três noites, em que o grupo teve de regressar à Santa Cruz às 3h00 da manhã.
“Se
a pessoa tiver condições de suportar os custos nos trabalhos mais difíceis é
melhor, porque sair daqui de Santa Cruz, levar o carro, uma colmeia e uma
equipa de quatro a cinco pessoas, custa. Se for um local de remoção simples, um
lugar mais perto por exemplo, não custa nada”, compara.
Os
equipamentos do grupo de apicultores liderado por João Gomes foram doações da
Associação Vercellese Verso Santa Cruz. Outras foram trazidas da Itália ou
produzidas pelo próprio activista, apesar da possibilidade de importar.
Desafios
Na
apicultura, os enxames são recolhidos e alojados em caixas apropriadas chamadas
colmeias, durante a noite, onde continuam a trabalhar.
“As
abelhas têm apenas quatro horas de descanso. Logo no início do amanhecer, por
volta das 5h30 começam a sair das caixas para as suas actividades, em
diferentes lugares. Até o pôr-do-sol recolhem todo o pólen, néctar, cera e
outras coisas que precisam e regressam para as caixas”, detalha.
No
sítio de João Gomes, algumas caixas são produções suas, e outras vieram da
Itália. Aliás, frisa, o grupo recebeu, recentemente, 30 caixas colmeias,
desmontadas.
Para
João Gomes, o principal desafio na apicultura em Cabo Verde consiste em formar
as famílias devido à seca dos últimos anos. Isto porque as abelhas dependem da
flora apícola.
“Se
não houver flor, as abelhas morrem. E em todas as partes do mundo as abelhas
estão a morrer de fome e as nossas não são excepção”, pormenoriza.
Ao
se formar uma família, há uma grande preocupação em alimentar as abelhas que
estão a enfraquecer. E quando retiradas do seu habitat, João Gomes sublinha que
se não estiverem bem controladas acabam por morrer.
“Há
necessidade de capturar essas famílias, nutri-las, dar-lhes a força necessária
para se tornarem numa família forte. Para isso temos um suplemento que veio da
Itália, açúcar pasteurizado que é para alimentar as nossas abelhas e salvá-las.
Estamos no processo de resgatar todas as abelhas que estão fracas na natureza,
dar-lhes força para não sofrerem nenhum dano que possamos causar”, ressalva.
Em
cada caixa há um nutritor, trata-se de um depósito onde são depositadas um
xarope feito com um quilo de açúcar e um litro de água. O xarope, de acordo com
o entrevistado, fortifica as abelhas na falta de flora apícula.
A
ideia dos apicultores de Santa Cruz é até o final do ano ter pelo menos 20
colmeias povoadas.
“Estamos
com 11 colmeias povoadas, mas já fizemos mais de 50 capturas. Porque a
apicultura funciona da seguinte forma, quando uma caixa é nova, nunca recebeu
nenhuma abelha, fica difícil mantê-las. Ao contrário dos humanos que preferem
uma casa nova e bem construída. Às vezes é preciso muito cuidado e muita
técnica para capturar as abelhas, colocar numa caixa e mantê-la de modo a
formar uma família. No início era mais complicado, mas agora temos mais
conhecimento e conseguimos formar famílias rapidamente”, explica.
Apicultura para toda a ilha
João
Gomes refere que para um desenvolvimento da apicultura em toda a ilha de
Santiago, conta com um parceiro em Rui Vaz, Emileno Ortet, que trabalha com
agricultura.
O
objectivo é criar uma unidade de agricultura naquela localidade por ser cheia
de eucalipto, uma planta que produz grande quantidade de mel.
“Na
ilha de Santiago, na Serra Malagueta e Rui Vaz há uma grande potencialidade
para fazer o estudo da apicultura. E com o Emileno Ortet acredito que
brevemente conseguiremos montar uma unidade de apiado. Já temos algumas
colmeias preparadas para Rui Vaz e depois pretendo fazer alguma recolha de
abelhas no próprio Rui Vaz e levar outras daqui e de outros lugares da ilha de
Santiago”, avança.
A
apicultura que pretendem desenvolver, continua, é móvel. Assim, em toda a ilha
de Santiago, onde se verificar uma boa flora apícola, vão lá estar para
capturar as abelhas que depois serão fortificadas.
“Aliás,
Cabo Verde deve apostar muito na babosa, porque a babosa é uma flora apícola e
gostaria que Cabo Verde apostasse na plantação de plantas que são floras
apícolas. Há muitas plantas que não têm nada a ver com a apicultura e flora
apícola. E hoje todos os países do mundo apostam nestas plantas para salvar as
abelhas e o planeta”, recomenda. Sheilla Ribeiro – Cabo Verde in “Expresso
das Ilhas”
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