São
Paulo – Estudo preparado pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional
(Cedeplar), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgado pelo
jornal Valor Econômico, mostra que o Brasil está em franco processo de
desindustrialização, em razão de uma opção tomada pelos últimos governos em
favor do setor primário e da exploração dos recursos naturais, em detrimento do
setor industrial.
Segundo
o documento, entre 2016 e 2020, o número de indústrias competitivas, que são
aquelas que exportam mais que a média mundial, caiu de 196 para 167, enquanto a
participação dos produtos primários ligados ao agronegócio aumentou de 37,2%
para 44,3%. Como se sabe, a exploração descontrolada de produtos ligados ao
agronegócio pode causar maior intensidade de emissões de gases de efeito estufa
e de degradação ambiental, o que já tem causado protestos por parte de países
que defendem uma política ambientalista mais saudável.
Ainda
que, a princípio, não se possa condenar as atividades ligadas ao agronegócio,
que, nos últimos tempos, têm garantido o superávit na balança comercial, a
verdade é que só os produtos de média e alta tecnologia são capazes de
estimular o crescimento do número de empregos, movimentar o mercado interno e,
ao mesmo tempo, dar impulso à importação dos insumos necessários para a
agregação de valor aos equipamentos. E, portanto, mereceriam uma política mais
focada que viesse a interromper o atual processo de desindustrialização.
De
acordo com o estudo, os produtos de média tecnologia reduziram sua participação
na pauta exportadora de 20,2%, em 2016, para 14,2%, em 2020, enquanto as
exportações neste setor diminuíram 16,7%. Já os produtos de alta tecnologia
registraram uma queda de 5,2% para 3,1% naquele período. No total, a redução
nas exportações foi a mais elevada (30,6%). Enquanto isso, os produtos com
menor intensidade tecnológica tiveram um elevado crescimento, especialmente aqueles
ligados aos segmentos de ouro, madeira bruta, petróleo, soja e milho.
Obviamente,
não haveria razão para se citar o aumento da exportação de produtos primários, provocado
também pela demanda mundial por commodities, desde que não houvesse
ocorrido uma queda brutal nas vendas para o exterior dos produtos
industrializados. Para piorar, há as despesas que resultam do chamado custo
Brasil, ou seja, um conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas,
trabalhistas e econômicas que atrapalham o crescimento do País, influenciam
negativamente o ambiente de negócios e encarecem os preços dos produtos
nacionais e os custos de logística.
Essas
despesas representam mais de 30% do preço final dos manufaturados, tornando-os
pouco competitivos no mercado externo. Apesar disso, até agora. não houve uma
resposta firme por parte do governo para essa questão. Para explicar a queda, naturalmente,
também é exercida a desculpa da pandemia de coronavírus-19, que teria provocado
redução na procura mundial por bens manufaturados.
Embora
atualmente haja elevada tecnologia na extração de produtos primários,
especialmente nos do setor agrícola, o problema é que essas atividades promovem
a concentração da riqueza gerada, ou seja, criam poucos empregos, estimulando a
migração das pessoas do campo para as áreas urbanas, o que acelera as questões
sociais, com o aumento da população de rua.
Diante
disso, só resta ao País aguardar as tão anunciadas (e sempre adiadas) reformas,
que passam pela queda da carga tributária, modernização e ampliação da
infraestrutura, diminuição dos custos de financiamento, redução da burocracia e
da insegurança jurídica e investimentos em pesquisa e qualificação
profissional. Se essas reformas já tivessem sido feitas há uma ou duas décadas,
hoje o Brasil estaria colhendo os frutos do desenvolvimento. E o pior é que, diante
da atual baixa qualidade intelectual da representação pública, não se pode esperar
muito. Por enquanto. Liana Martinelli - Brasil
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Liana
Lourenço Martinelli, advogada, pós-graduada em Gestão de Negócios
e Comércio Internacional, é gerente de Relações Institucionais do Grupo Fiorde,
constituído pelas empresas Fiorde Logística Internacional, FTA Transportes e
Armazéns Gerais e Barter Comércio Internacional. E-mail: fiorde@fiorde.com.br.
Site: www.fiorde.com.br
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