Uma
sociedade detida a 100% pela Região Administração Especial de Oecusse-Ambeno
(RAEOA), em Timor-Leste, vai investir 11,8 milhões de euros na recapitalização
de um estaleiro naval na Figueira da Foz, centro de Portugal.
Com
o investimento de Timor-Leste nos Estaleiros Navais do Mondego (ENM), detidos
pela AtlanticEagle Shipbuilding, esta empresa passa a ter dois sócios: a
sociedade de desenvolvimento criada pela RAEOA, com 95% do capital e Bruno
Costa, gerente único da AtlanticEagle, com 5%.
Há
seis anos, em 2015, o Governo timorense adjudicou à AtlanticEagle Shipbuilding,
a construção de um ferry, o Haksolok, destinado à ligação com o enclave de
Oecusse e a ilha de Ataúro, para além de dois pontões de acostagem e
passadiços. Devido a dificuldades financeiras da empresa, o navio não foi
concluído e os estaleiros viriam a suspender a atividade em 2018.
Após
um pedido de insolvência, a AtlanticEagle Shipbuilding viu aprovado em 96% um
Plano Especial de Recuperação, com os votos favoráveis da Autoridade
Tributária, Segurança Social e do seu maior credor, precisamente a RAEOA.
Em
declarações à agência Lusa, Bruno Costa disse que o investimento de 14 milhões
de dólares (cerca de 11,8 milhões de euros) de Timor-Leste na capitalização da
empresa detentora dos ENM “não é um investimento só para acabar o ferry e os
pontões”.
“Esta
ideia de investimento é capitalizar para se poder competir no mercado [da
construção e reparação naval]. Timor não vem só buscar o ferry que está ali
parado. Num primeiro momento sim, será acabar o ferry e os pontões, mas a ideia
principal é uma perspetiva de investimento de longo prazo, para podermos
competir no mercado nacional e internacional e sermos competitivos”, explicou o
gerente da AtlanticEagle Shipbuilding.
Bruno
Costa adiantou que a recapitalização da empresa “se prevê imediata” e que o
investimento de Timor-Leste nos estaleiros pretende também “permitir uma
formação de timorenses e transferência de conhecimento e tecnologia”.
“[A
recapitalização] terá de ser imediata, porque o estaleiro terá de arrancar o
mais rápido possível, sem dúvida nas próximas semanas, para podermos começar a
trabalhar. E, obviamente, não só acabar as construções [o ferry e os pontões],
mas começar a trabalhar noutras possibilidades de encomendas que já existem e
em reparações”, enfatizou.
Quanto
ao navio, atracado ao cais dos estaleiros na margem esquerda do Mondego, em
frente ao porto comercial da Figueira da Foz e decorado em tons de azul, verde
e branco – atravessado, a todo o comprimento, por uma faixa vermelha e amarela,
cores presentes na bandeira de Timor-Leste – está “praticamente inalterado em
qualidade”, sublinhou Bruno Costa, estando cerca de 70% concluído.
“Faltam
cerca de 30% em termos de trabalhos globais. Todos os equipamentos principais
estão colocados dentro do navio, faltam os acabamentos, acomodações e concluir
os sistemas de eletricidade, automação e navegação”, frisou o gerente da
AtlanticEagle Shipbuilding.
Em
2015, e ainda segundo Bruno Costa, o contrato de construção do Haksolok foi
assinado por 13,3 milhões de euros, a que acrescem os pontões de acostagem: “No
global, em termos de contratos, são cerca de 20 milhões de euros”, disse.
Bruno
Costa, “apaixonado pela área naval”, é oriundo de uma família “ligada à
construção naval há 80 anos”, na região de Aveiro, nos estaleiros de São
Jacinto (encerrados em 2004) e na Naval Ria, atualmente propriedade da
Martifer, antes de chegarem aos estaleiros do Mondego, em 2012, pela mão do
pai, Carlos Costa (falecido em 2016) e outro sócio.
Quanto
aos trabalhadores dos ENM, o gerente da AtlanticEagle Shipbuilding “quer manter
a espinha dorsal do conhecimento que existia no Mondego e até em São Jacinto”.
“Grande
parte dos atuais [dos estaleiros da Figueira da Foz] mantêm-se, os que estão há
muitos anos e têm muito conhecimento. Em termos de quadros fixos, vamos
contratar até 40 pessoas. Depois, de acordo com os picos de trabalho, como em
qualquer estaleiro e consoante as necessidades, subcontratamos pessoal”,
sustentou.
Os
Estaleiros Navais do Mondego fazem reparações e construção naval em aço e
alumínio, e Bruno Costa pretende “apostar muito no alumínio”.
“É
uma aposta minha e Timor concorda. Somos o único estaleiro que constrói em
alumínio em Portugal, é um material nobre na construção, queremos manter esse
conhecimento e até exponenciá-lo”, afirmou. In “Mundo
Lusíada” – Brasil com “Lusa”
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