Lisboa
– Uma equipa de investigadores portugueses do Instituto de Tecnologia Química e
Biológica da Universidade Nova de Lisboa (ITQB NOVA), em Oeiras, descobriu três
compostos que podem reduzir o impacto da covid-19 a uma constipação.
Em
entrevista à Lusa, a investigadora coordenadora Cecília Arraiano salienta que
“cada um dos compostos em acção individual reduz 60 a 70% a actividade do vírus
SARS-CoV-2”, num projecto que aponta numa direcção distinta das vacinas e que
está em fase de registo de patentes e tem perspectivas de poder chegar
rapidamente ao mercado, porque dois estão aprovados para uso em outras doenças
pelo regulador americano: a FDA [Food and Drugs Administration].
“A
vacina é uma abordagem diferente, porque põe o hospedeiro a lutar contra o
vírus e nós lutamos directamente com o vírus, porque atacamos a ‘maquinaria’
interior. A vantagem é que [a nossa] é mais independente da resposta imunitária
do hospedeiro”, nota a geneticista, continuando: “A covid-19, que está tão
grave, passa a ser como uma constipação. Se uma pessoa não tiver outras
complicações, não vai para o hospital com uma constipação”.
O
trabalho desta equipa, que contou com a colaboração do Laboratório Nacional de
Referência de Saúde Animal do Instituto Nacional de Investigação Agrária e
Veterinária (INIAV), assenta na especialização dos investigadores em RNA e
ribonucleases, isto é, as moléculas que controlam os níveis de RNA na célula. E
na base da investigação está a existência de duas ribonucleases no SARS-CoV-2,
que desempenham um papel essencial na replicação do vírus.
“O
nosso objectivo era pôr o nosso conhecimento de forma a poder ajudar a
controlar a multiplicação do vírus e tornar esta doença – que tem sido tão
perigosa – mais ligeira”, frisa Cecília Arraiano, destacando a “garantia de
futuro” destas descobertas: “Quando entra nas células, o vírus normalmente pode
ter mutações e esta ‘maquinaria’ funcional é sempre conservada, o que dava uma
garantia de ser uma forma de atacar com futuro”.
Com
a ajuda da colega investigadora Margarida Saramago, Cecília Arraiano conta que
o projecto arrancou ainda durante o primeiro confinamento, em Abril/Maio de
2020, com os três fármacos a serem ‘encontrados’ nas bases de dados
internacionais, que contêm muitos milhares de compostos químicos. E, sustenta a
investigadora, todo este processo “foi uma grande aventura” para a instituição
e os profissionais.
“As
minhas colaboradoras fizeram um ‘screen’ e começaram a ver, tendo em
conta as características destas ribonucleases, quais seriam aqueles que
poderiam – como uma chave numa fechadura – encaixar nos sítios vulneráveis e
fazer com que se ligasse e não funcionasse bem”, refere, sem deixar de
enfatizar que a ambição é que seja rapidamente utilizado pelas pessoas para se
poder “voltar à normalidade que havia antes desta pandemia”.
Com
a investigação laboratorial terminada nesta fase, o futuro passa agora pelo
registo de patentes e pelo diálogo com as farmacêuticas. A investigadora
coordenadora do ITQB Nova adianta que já foi obtida uma “patente provisória” na
semana passada e que dentro de alguns dias devem avançar pedidos similares para
os outros dois compostos.
“Até
estar tudo seguro e conversado com as farmacêuticas, não podemos divulgar
porque, senão, qualquer país do mundo agarra e faz. Como foi tudo ‘made in
Portugal’ temos muito orgulho e queremos manter ‘made in Portugal’”, indica a
geneticista.
Esta
patente provisória já permite encetar conversações com as farmacêuticas, embora
seja um processo sobre o qual pendem algumas obrigações, além de estar ainda
‘presa’ por alguns detalhes.
Apesar
disso, Cecília Arraiano confirma que serão feitas “três patentes diferentes” –
uma por cada composto descoberto -, expressando a sua convicção de que agora este
tema não passa de uma questão burocrática.
“O
que gostávamos era que as farmacêuticas testassem isto (que nós já sabemos que
se faz em células de macaco com o vírus) em testes clínicos com pessoas com
covid-19. Tendo em conta a rapidez com que foram desenvolvidas estas novas
vacinas de RNA, em um ano, tenho a grande esperança de que seja também tudo
muito rápido”, indica, finalizando: “Esperamos mesmo é ver isto no mercado o
mais rápido possível”.
Em
Portugal, desde Março de 2020, morreram 17674 pessoas e foram contabilizados 1025869
casos de infecção confirmados, segundo dados da Direcção-geral da Saúde. In “Inforpress”
– Cabo Verde com “Lusa”
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