O município de Kiwaba Nzoji, a 95 quilómetros da cidade de Malanje, acolhe o acto central alusivo ao 4 de Janeiro, Dia dos Mártires da Repressão Colonial, a ser orientado pelo ministro da Defesa Nacional, Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, João Ernesto dos Santos “Liberdade”
A data, que rende homenagem aos Mártires da Baixa de Cassanje, assinala-se, este ano, sob o lema “Angola 50 anos: Preservar e valorizar as conquistas alcançadas, construindo um futuro melhor”.
Foi a 4 de Janeiro de 1961 que colonos portugueses reprimiram milhares de camponeses angolanos na Baixa de Cassanje, que se manifestaram contra as condições de trabalho impostas pelo regime colonial. Em reacção, o exército colonial matou milhares de camponeses, naquilo que ficou na história como o Massacre da Baixa de Cassanje, território que abrange as províncias de Malanje e da Lunda-Norte.
Nesse dia, trabalhadores agrícolas das plantações de algodão da companhia luso-belga Cotonang, na Baixa de Cassanje, revoltaram-se contra o trabalho escravo, destruindo plantações, pontes e casas.
A resposta dos colonos portugueses não tardou, com o envio da Força Aérea Portuguesa, que bombardeou indiscriminadamente a região, com projécteis de napalm, tendo provocado a morte de milhares de cidadãos.
Os acontecimentos da Baixa do Cassanje aumentaram a consciência de liberdade dos patriotas angolanos que, a 4 de Fevereiro do mesmo ano, resolveram desencadear uma luta armada contra o regime fascista português, que durou 14 anos, culminando com a proclamação da Independência, a 11 de Novembro de 1975.
A revolta de 4 de Janeiro de 1961 pode ser associada ao fim da II Guerra Mundial e à independência de vários países africanos, com destaque para o antigo Congo Belga, actual República Democrática do Congo (RDC), cujo território partilha uma vasta fronteira com Angola.
Retorno para feriado nacional
Cidadãos na província de Malanje defenderam o retorno do 4 de Janeiro como feriado nacional, devido à sua dimensão histórica na luta contra a ocupação colonial.
Graça Monteiro, filho da região do Ndongo e Matamba, disse ao Jornal de Angola que a data deveria ser assinalada com muita reflexão, em memória dos que lutaram e verteram o seu sangue para a conquista da liberdade do povo angolano.
“O 4 de Janeiro devia continuar a ser feriado, porque não sendo feriado, retira aquele carácter de homenagem póstuma àqueles que se sacrificaram pelo povo angolano, que foi ali duramente oprimido pela administração portuguesa”, sustentou.
O 4 de Janeiro, acrescentou, não pode ser apenas uma data de celebração nacional, devido à morte de milhares de angolanos neste acontecimento que deu lugar à luta contra o regime colonial.
Domingos Pedro disse que a revolta da Baixa de Cassanje foi o prelúdio da luta que conduziu à Independência Nacional.
“A revolta dos camponeses da Baixa de Cassanje é um acontecimento marcante na História de Angola, cuja repercussão e impacto político e histórico está registado com letras de ouro e que jamais será esquecido pelo povo angolano”, sublinhou.
No seu entender, o protesto dos camponeses da Baixa de Cassanje foi mais do que um acto de justa reivindicação de direitos, representou uma postura heroica cheia de bravura e determinação do povo angolano pela liberdade.
Despertar da consciência nacional
O professor de História do Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED) do Sumbe, Francisco Mendes Lopes, considerou a revolta da Baixa de Cassanje o despertar da consciência libertadora dos angolanos, perante o jugo colonial.
Francisco Mendes Lopes referiu que, com a revolta dos camponeses que reivindicavam contra o baixo preço do algodão estabelecido pelas autoridades coloniais, se abriu o caminho para, no mês seguinte, a 4 de Fevereiro de 1961, dar início à Luta Armada, e a 15 de Março do mesmo ano ocorrer a batalha da expansão da luta armada no Norte de Angola.
Quanto ao legado histórico da revolta dos camponeses da Baixa de Cassanje, Francisco Mendes Lopes exortou a juventude a apropriar-se da história das revoltas ocorridas, que faz parte da memória colectiva. “Os jovens devem ler bastante a nossa História, porque só assim poderão perpetuar o legado histórico do nosso país como nação”, apelou. In “Jornal de Angola” - Angola
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