Catarina Nascimento Andrade é a prova viva de como as raízes açorianas podem inspirar grandes projetos. Natural da ilha do Corvo, a mais pequena do arquipélago dos Açores, a jovem abraçou o mundo ao viver na Irlanda durante seis anos. No entanto, o chamamento das suas origens a trouxe de volta a Portugal, onde fundou a Sazorea, uma marca de cosmética sustentável que valoriza os recursos naturais dos Açores. Com dedicação e resiliência, Catarina transformou a saudade em inovação, criando um projeto que não só respeita a essência açoriana, mas também coloca as ilhas no mapa global da cosmética ética. O Bom Dia falou com a jovem empreendedora e partilha agora o seu interessante percurso que a levou a criar a Sazorea, abordando os desafios de empreender em Portugal e as lições aprendidas no regresso às suas origens
Para Catarina, a experiência de crescer na ilha do Corvo foi única, por ter sido uma vivência “tranquila e intimista” num lugar onde todos se conhecem e as relações interpessoais são muito próximas. “O isolamento geográfico do arquipélago faz com que nós, os açorianos, desenvolvêssemos um espírito de resistência, resiliência e autossuficiência, mas também de grande hospitalidade e união comunitária”, afirma Catarina. A ilha, com a sua paz e contacto direto com a natureza, proporcionou-lhe uma sensação de pertença e valores comunitários que marcaram a sua visão de vida e negócio.
O início
A ideia de criar a Sazorea surgiu do desejo de Catarina de representar os Açores e a sua cultura no mercado global da cosmética. O nome, o packaging e os ingredientes (criptoméria japónica, laurus azorica, gerânio, funcho e camellia japonica) da marca foram pensados para refletir a sua “açorianidade” e a proximidade com o mar. “Queria que tudo na marca fosse sobre os Açores, desde o nome, o packaging e os ingredientes”, explica a empreendedora, que viu na sua terra natal uma fonte de inspiração.
A experiência no estrangeiro
Catarina viveu na Irlanda entre 2015 e 2021, uma experiência que, apesar de difícil na adaptação, lhe permitiu ver os Açores sob uma nova perspetiva. “Saí de Portugal porque estava recém-formada e não conseguia encontrar emprego no nosso país”, recorda. Durante os anos na Irlanda, percebeu o valor das suas raízes: “quando estamos longe, aprendemos a valorizar mais o que é nosso”. A açoriana, formada em fisiologia cardíaca, trabalhou em hospitais, mas acabou por se sentir infeliz e desmotivada. Foi nesse momento que notou uma mudança drástica na sua pele, que se tornou seca, sem brilho e desequilibrada. Esse contexto levou-a a estudar cosmética e a criar fórmulas para cuidar da saúde da sua pele. Sem saber, em 2018, começou a dar os primeiros passos para a criação da sua marca.
Entretanto, obteve uma certificação como formuladora orgânica na Formula Botânica, uma escola do Reino Unido. Posteriormente, fez uma pós-graduação em Cosmetologia Avançada e, mais tarde, concluiu um mestrado em Ciências e Dermofarmácia.
Deixar tudo para trás
A perda repentina da sua avó e, um ano depois, do seu avô, fez com que Catarina questionasse toda a sua vida. “Tudo era demasiado breve. Estes acontecimentos devastadores foram a chama que acendeu de novo a minha paixão adormecida, fez perder o medo de sair da zona de conforto e perceber que a vida deveria ser sobre quem queremos ser e seguir a nossa intuição”. Era hora de voltar aos Açores para seguir o seu sonho.
Disciplina e resiliência
Criar a Sazorea não foi tarefa fácil. Catarina teve de conciliar os estudos em cosmética, o trabalho no hospital (na Irlanda) e o desenvolvimento da sua marca, um equilíbrio exigente que a obrigou a desenvolver a sua capacidade de gestão. “Foram tempos muito exigentes e que me obrigaram a ter muita disciplina e resiliência e, acima de tudo, a nunca perder o foco.” Os desafios ao iniciar o negócio foram muitos, incluindo a burocracia e a procura por financiamentos e parceiros. A escolha de ingredientes exclusivamente açorianos também representou um desafio. Catarina procurou produtores locais que pudessem fornecer os extratos naturais desejados, garantindo sempre a sustentabilidade na exploração dos recursos. “Estudando as plantas e percebendo o que poderíamos extrair de cada uma, foi só uma questão de encontrar os produtores que nos pudessem fornecer os extratos que queríamos”, sublinha.
Compromisso com o meio ambiente
A Sazorea é uma marca que coloca a sustentabilidade como um valor central. Catarina explica que o conceito da marca é minimalista, visando evitar o desperdício e concentrar o máximo benefício em cada produto. “Adotamos um conceito minimalista de skincare, que evita o desperdício de produtos e excesso dos mesmos.” Além disso, as embalagens são recicláveis e feitas com materiais reciclados, e a marca ainda colabora com a One Tree Planted, plantando uma árvore para cada produto vendido.
Para a empreendedora, o conceito de “clean beauty” vai além dos produtos: “Somos completamente próximos da nossa comunidade e transparentes sobre os nossos ingredientes e as nossas práticas. A nossa principal preocupação é enfatizar o cuidado com a pele e a saúde.”
Reconhecimento nacional e internacional
O produto mais popular da Sazorea é o sérum regenerador “The Wonder Complexion”, que tem conquistado os consumidores. Catarina e a sua equipa encontram-se a trabalhar em novos produtos. Para já, o feedback dos consumidores tem sido muito positivo: “O feedback que nos chega dos açorianos é de orgulho ao ver uma marca de skincare ter origem nas ilhas e estar a fazer sucesso nacional e também já internacional.”
Próximos passos
Os próximos passos para a Sazorea incluem afirmar-se no mercado de cosmética de nicho em Portugal e consolidar a sua expansão internacional. Catarina acredita que a marca pode tornar-se um “símbolo dos Açores” no mundo, associando o nome da marca à identidade açoriana. “Gostava muito que ficasse na história como a marca mais internacional com origem nos Açores”, assume.
Inspiração e conselhos
A jovem encontra inspiração nos Açores e nos seus avós, que sempre lhe incutiram os valores de autenticidade, transparência e superação. “Os meus avós sempre me fizeram acreditar que somos capazes de criar a nossa própria história.” Para aqueles que desejam empreender, especialmente aqueles ligados às suas raízes, Catarina deixa um conselho claro: “Se em algum momento tiverem uma ideia da qual não conseguem desistir de pensar, para seguirem o vosso instinto. Deus não coloca sonhos na nossa vida que não consigamos realizar.” A açoriana reforça ainda que, apesar das dificuldades e dos momentos solitários, o mais importante é manter o foco no objetivo e nunca desistir. “Se queremos viver o melhor do negócio, é com o pior que nos moldamos.”
Para a comunidade portuguesa no estrangeiro que pensa em voltar às suas origens para empreender, Catarina deixa uma mensagem de confiança. “Que o façam. Em Portugal temos capacidade para criar, inovar e produzir com qualidade.” O exemplo de Catarina é um testemunho de como as raízes podem ser uma fonte poderosa de inspiração para quem deseja criar algo único e bem-sucedido. Fabiana Bravo – Portugal in “Bom dia Europa”
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