Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 25 de janeiro de 2025

Macau - Presidente da Fundação Oriente lamenta “falta de vontade” de Portugal para resolver problemas da Escola Portuguesa

O presidente da Fundação Oriente está de novo em Macau e vai reunir-se com a Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, revelou, em entrevista ao Jornal Tribuna de Macau. No encontro com O Lam, Carlos Monjardino irá abordar, entre outros temas, a necessidade de um maior apoio ao Instituto Português do Oriente por parte do Executivo do território. O dirigente da Fundação Oriente considera que o papel do IPOR é “muito importante no trabalho que tem sido feito em termos de ensino do português a chineses”. Sobre a Escola Portuguesa de Macau, sublinha que o Governo de Portugal não tem mostrado tanta “vontade” como se desejava para resolver “os problemas pendentes” no estabelecimento de ensino



O trabalho desenvolvido pelo Instituto Português do Oriente (IPOR) em Macau, no que diz respeito ao ensino da língua portuguesa, “terá de ser mais apoiado pelo Governo do território”, considera o presidente do Conselho de Administração da Fundação Oriente.

Em mais uma visita à RAEM, antes de rumar a Goa, onde vai participar nas comemorações dos 30 anos da instalação da Fundação Oriente naquela antiga colónia lusa, Carlos Monjardino insiste na necessidade de haver uma maior ajuda ao IPOR, uma questão que já tinha enfatizado há cerca de um ano quando se deslocou ao território.

À semelhança do que fez então, o presidente da Fundação Oriente vai voltar a chamar a atenção do Governo da RAEM para esta matéria, através de uma reunião agendada com a Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, O Lam.

“Vou sensibilizá-la para a necessidade de haver uma maior ajuda ao trabalho que tem sido desenvolvido pelo IPOR no ensino da língua portuguesa a chineses, e não propriamente a portugueses nem a outras nacionalidades”, adiantou Carlos Monjardino, ao sublinhar que “o IPOR tem um papel de grande importância que merecia um maior apoio das entidades da RAEM”.

Em entrevista ao Jornal Tribuna de Macau, o dirigente da Fundação Oriente abordou igualmente a questão da falta de professores que a Escola Portuguesa de Macau (EPM) tem sentido nos últimos tempos.

Carlos Monjardino considera que “tem de haver boa vontade do Governo de Portugal para a resolução dos problemas que estão pendentes”. Até agora, “essa vontade não tem existido, ou pelo menos não tem sido tão boa quanto seria de esperar para uma escola que tem um papel fundamental no ensino do português fora de Portugal”, lamentou.

“A Escola Portuguesa deveria ser mais acarinhada e os problemas resolvidos mais rapidamente”, acentuou o responsável da Fundação Oriente, instituição cuja saída da estrutura gestora da EPM foi oficializada em Setembro de 2015, numa altura em que já não contribuía para o orçamento do estabelecimento de ensino. Na altura, com a formalização dos novos estatutos, estabeleceu-se também a mudança permanente para Macau da sede da Fundação da Escola Portuguesa.

Relativamente à velha questão das instalações do edifício da Escola Portuguesa, o presidente da Fundação Oriente lamentou que isso não tivesse sido resolvido há anos. O local onde se situava o antigo Hotel Estoril chegou a ser apontado como uma hipótese para uma eventual mudança de instalações, entre diversas possibilidades exploradas ao longo de vários anos, entre as quais a venda do terreno à Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM).

“O edifício estava paredes meias com o casino [Grand Lisboa] e não fazia sentido ter ali uma escola tão encostada ao casino”, lembra Carlos Monjardino. Provavelmente, “para a STDM dava jeito e nós íamos buscar dinheiro para depois fazermos as instalações da EPM noutro local”, acrescentou.

Questionado sobre os factores que impediram a concretização desses planos, o dirigente da Fundação Oriente disse não fazer ideia das razões. “Isso já me ultrapassa, foi fora do meu reinado, digamos assim”, referiu, confirmando que, na altura, a Fundação atribuiu uma verba, que não foi retribuída pelo facto de não ter havido mudança de instalações. “Na altura, houve com certeza uma reacção da minha parte, mas a verba também não foi assim tão avultada, pelo que me lembro”, observou, sem indicar um valor concreto.

Em Abril de 2014, o então ministro da Educação e Ciência de Portugal encerrou o ‘dossiê’ EPM, anunciando formalmente que a instituição manter-se-ia nas instalações onde continua a funcionar actualmente. A decisão teve em consideração dois aspectos: o da estabilidade do local e dos alunos e professores e o da duração da localização escolhida, segundo explicou na altura Nuno Crato.

Relativamente ao destino da verba concedida pela Sociedade de Jogos de Macau, de Stanley Ho, à Fundação Escola Portuguesa de Macau, de cerca de 65 milhões de patacas, para a mudança de instalações da EPM – que não se realizou – o ministro atestou então que “há, de facto, um donativo”, depositado nas contas da Fundação, pelo que “há um processo de diálogo que a fundação agora vai ter de encetar com a SJM, porque parte desse donativo estava assegurado para o funcionamento da escola”.

Numa entrevista que concedeu ao JTM em Abril de 2023, Carlos Monjardino dizia que teria de haver uma solução para a questão das instalações da EPM, contudo, ressalvava: “Muito francamente eu não vejo também razão para estar a aumentar muito as instalações da Escola Portuguesa, porque a procura é relativamente pequena, é aquela que é e vai crescer pouco. Porque são os filhos dos expatriados, quem quer fazer cursos em Lisboa…”. Confrontado com a realidade do crescimento do número de alunos de língua materna chinesa a ingressar na Escola, Monjardino insistia, ainda assim, que o aumento da procura pelo ensino na Escola Portuguesa ou pelo ensino do Português aqui seria “pouco”. “Se me enganar, ainda bem”, acrescentava.

Obras na Casa Garden finalizadas em Maio

Relativamente às obras na Casa Garden, Carlos Monjardino – que desempenhou também o cargo de governador substituto do Governo de Macau entre 1986 e 1987 – deseja que a conclusão seja uma realidade em Abril. “Mas, a delegada Catarina Cottinelli disse-me que talvez só em finais de Maio”, adiantou.

Este edifício histórico, situado no Centro Histórico de Macau e classificado como Património Mundial da UNESCO, é considerado um marco significativo do património cultural da região. Construída no final do século XVIII, a Casa Garden tem sido um espaço de intercâmbio cultural e social, além de ser a sede da Fundação Oriente, cuja missão é servir a comunidade local e promover a cultura.

As obras, que tiveram início no mês de Dezembro, incluem a recuperação do exterior, a consolidação da estrutura da cobertura e fachadas, bem como o restauro dos elementos arquitectónicos que compõem a fachada, como as persianas e outros detalhes decorativos.

A empreitada vai ser subsidiada pelo Instituto Cultural, a quem a Fundação Oriente agradeceu pelo “apoio fundamental” e pela “contribuição para a implementação do Plano de Salvaguarda do Património Histórico de Macau”, segundo referiu anteriormente o organismo.

“Esta colaboração é vital para garantir que a Casa Garden não só mantém a sua integridade estrutural, mas também continua a ser um espaço activo de cultura e diálogo”, sublinhou a Fundação Oriente. Sublinhou ainda que a renovação é motivo de entusiasmo, sendo que, uma vez concluídas as obras, a Fundação Oriente espera reiniciar as actividades culturais, “que são essenciais para a comunidade de Macau”. Vítor Rebelo *Macau in “Jornal Tribuna de Macau” 


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