Uma professora da disciplina de Matemática deverá iniciar brevemente funções de docência na Escola Portuguesa de Macau. Como não recebeu autorização para vir para o território com licença especial aprovada pelo Ministério da Educação, terá optado por se reformar, podendo assim leccionar na EPM. Outra professora vinda de Portugal começa esta segunda-feira, 6, a dar aulas de Informática. Ficam a faltar professores para Economia e Físico-Química, depois das saídas de Diana Massada, dispensada, e Gonçalo Alvim, por opção antes de saber do indeferimento dos Serviços de Educação. Diana Massada pondera apresentar queixa na DSEDJ e na DSAL. O presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação diz que a questão da falta de docentes “está controlada”
A primeira inicia funções já hoje, com o arranque do segundo período, tendo sido autorizada a vir para Macau com licença especial e vai dar aulas de Inteligência Artificial. A segunda não recebeu essa permissão de Lisboa, optando, segundo fonte contactada pelo Jornal Tribuna de Macau, por solicitar a reforma, depois de ter estado afastada em virtude de baixa médica prolongada.
A este jornal, o director da EPM confirmou a vinda da professora, mas ao ser questionado sobre a veracidade do pedido de reforma em Portugal da docente, Acácio de Brito respondeu, através de mensagem escrita, com um simples “está resolvido”, sem mais detalhes. O mesmo responsável também não disse quando a professora irá entrar em funções.
Com o preenchimento das duas vagas, a EPM verá desanuviar-se um pouco o panorama algo preocupante para alunos e pais, ainda que haja outras disciplinas sem professores, concretamente Economia e Físico-Química.
Neste caso, dois docentes haviam sido contratados localmente para leccionar até ao final do ano, mas no final do período acabaram por sair.
Trata-se de duas situações distintas. Diana Massada (Economia) foi dispensada. Gonçalo Alvim (Matemática e Físico-Química) não quis continuar.
Em declarações à Tribuna de Macau, Diana Massada disse não corresponder à verdade um comunicado difundido pela direcção da EPM, em especial quando este refere que “dado o atraso da vinda e a ausência de determinados docentes de Portugal, foram temporariamente contratados dois docentes locais e a título experimental para colmatar algumas dessas lacunas”.
A professora dispensada desmente que tenha sido contratada em regime experimental. “Isso não é verdade”, garante. “Nem a lei de Macau prevê esta situação de contratos experimentais, nem nunca me foi falado de qualquer contrato em regime de experiência. Portanto, é incorrecto dizer que nós fomos contratados à experiência. É mentira, pelo menos na minha parte”, assevera.
Diana Massada revelou ainda que foi contratada oralmente pelo director da escola. “Na ausência de um contrato escrito e aos olhos da lei de Macau, eu tenho um contrato sem termo”, lembra. Assim sendo, a professora universitária está a avaliar, com um advogado, o que fazer, quer junto da Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), quer a nível das queixas que possa vir a apresentar à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), “quer até de outras acções que possam ser necessárias para o meu bom nome”.
Tudo isto, porque considera “um bocadinho difamatórias e inverdadeiras as declarações quer da direcção no comunicado que divulgou, quer do presidente da Associação de Pais com as declarações que fez”.
Algum tempo depois de começar a dar aulas, prossegue, “a direcção apresentou-me um contrato escrito que não correspondia àquilo que tínhamos acordado”. Nessa altura, “eu comecei a solicitar reuniões com o director para esclarecer a questão contratual e até para falar de outros assuntos relacionados com as aulas, e ele nunca teve disponibilidade”. “Quando finalmente nos reunimos foi para me dispensar, tendo-me confessado que a ordem veio do presidente da Fundação da EPM, Jorge Neto Valente”.
Diana Massada refuta também considerações do comunicado quando este refere que “não obstante o currículo profissional e o mérito desses contratados locais, a escola apercebeu-se de algumas dificuldades, recebeu feedback de pais, encarregados de educação e alunos e concluiu que seria melhor encontrar outra solução”. A visada afirma que nunca houve uma reunião consigo, desde o início, “de ninguém”, para falar de procedimentos ou de expectativas.
Os alunos ficam, assim, para já, sem professora de Economia, mas, segundo disse ao Jornal Tribuna de Macau o presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação da EPM, Filipe Figueiredo, “a situação está controlada”. Diana Massada, que repartia as suas funções pela Escola duvida que isso seja uma realidade. “Como é que pode estar controlado? Mesmo que haja um novo professor, irá ter ainda menos tempo do que que eu para dar a matéria, sem preparação, porque os alunos precisam de se adaptar ao estilo de ensino, ao método de ensino, e o professor adaptar-se aos alunos”.
Desgaste e dificuldades provocaram saída
O segundo professor substituto explicou também a este jornal as razões da sua saída. “Confirmo ter sido eu a mostrar a minha indisponibilidade para continuar”, disse Gonçalo Alvim, sublinhando que dar aulas representava uma carga lectiva de 24 horas semanais, que com o passar das semanas “fui concluindo ser muitíssimo, sobretudo para quem começa a leccionar”.
“Os professores têm um trabalho imenso de preparação das aulas, elaboração e correção de exames, além de todos os procedimentos e burocracias necessárias, daí que todo o tempo que tinha não chegava e isso acabava por afectar o tempo com a família”, explicou.
Gonçalo Alvim reconhece que sentiu dificuldades “em manter a regular disciplina que se exige nas salas”. “Nem sempre conseguia que todos os alunos acompanhassem a matéria, houve negativas, houve insatisfação de alguns pais, houve queixas na DSEDJ – fonte preferida de alguns para se queixarem”, contou.
No entanto, ressalva, “não foi tudo negativo”, tendo gostado da relação que criou com muitos dos estudantes. “Gostei também da escola e dos professores com quem me relacionei, mas, no cômputo geral, achei que estava a ser bastante desgastante, que não tinha o apoio que no ensino se exige dos pais – para quem os filhos olham em busca de orientação, quer se queira quer não – e que não iria conseguir manter o ritmo que seria necessário nos segundo e terceiro trimestres”, justificou.
O arquitecto paisagista, que estudou Matemática e Física até ao primeiro ano da faculdade, percebeu também que “a escola não está preparada para dar o apoio necessário a um novo professor, tendo este de procurar o seu próprio caminho”. Sobre o ambiente que encontrou, afirma que “vive-se um certo clima de insatisfação, ou crispação, pelas razões que se conhecem, e que não é o melhor ambiente para quem começa de novo”. Apesar de tudo, diz, “pareceu-me haver professores óptimos, amigos, simpáticos, que procuram ajudar dentro do possível”.
O professor tomaria mais tarde conhecimento, pelo director, na altura em que transmitiu a sua decisão de não continuar, que a autorização para leccionar pedida pela EPM à DSEDJ fora indeferida.
No comunicado divulgado na sexta-feira, a Direcção da EPM salienta que “tem plena consciência que leccionar a alunos do 3º ciclo e do secundário é uma tarefa complexa e pedagogicamente desafiante”, e agradece “a disponibilidade, dedicação e empenho desses docentes”.
Por outro lado, garante que “a escola está a envidar todos os esforços para assegurar o normal funcionamento das aulas e respectivo currículo escolar, em particular aos alunos que vão ter exames de aferição e exames nacionais”. Vítor Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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