Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Macau - Professora pede reforma em Portugal para leccionar Matemática na Escola Portuguesa

Uma professora da disciplina de Matemática deverá iniciar brevemente funções de docência na Escola Portuguesa de Macau. Como não recebeu autorização para vir para o território com licença especial aprovada pelo Ministério da Educação, terá optado por se reformar, podendo assim leccionar na EPM. Outra professora vinda de Portugal começa esta segunda-feira, 6, a dar aulas de Informática. Ficam a faltar professores para Economia e Físico-Química, depois das saídas de Diana Massada, dispensada, e Gonçalo Alvim, por opção antes de saber do indeferimento dos Serviços de Educação. Diana Massada pondera apresentar queixa na DSEDJ e na DSAL. O presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação diz que a questão da falta de docentes “está controlada”

A questão da falta de professores em algumas disciplinas na Escola Portuguesa de Macau (EPM) continua a ser a grande “dor-de-cabeça” dos responsáveis da instituição para o ano lectivo em curso. No entanto, duas das lacunas existentes quando as aulas começaram, em Setembro de 2024, estão aparentemente resolvidas, com a vinda de duas docentes vindas de Portugal para leccionar Informática e Matemática.

A primeira inicia funções já hoje, com o arranque do segundo período, tendo sido autorizada a vir para Macau com licença especial e vai dar aulas de Inteligência Artificial. A segunda não recebeu essa permissão de Lisboa, optando, segundo fonte contactada pelo Jornal Tribuna de Macau, por solicitar a reforma, depois de ter estado afastada em virtude de baixa médica prolongada.

A este jornal, o director da EPM confirmou a vinda da professora, mas ao ser questionado sobre a veracidade do pedido de reforma em Portugal da docente, Acácio de Brito respondeu, através de mensagem escrita, com um simples “está resolvido”, sem mais detalhes. O mesmo responsável também não disse quando a professora irá entrar em funções.

Com o preenchimento das duas vagas, a EPM verá desanuviar-se um pouco o panorama algo preocupante para alunos e pais, ainda que haja outras disciplinas sem professores, concretamente Economia e Físico-Química.

Neste caso, dois docentes haviam sido contratados localmente para leccionar até ao final do ano, mas no final do período acabaram por sair.

Trata-se de duas situações distintas. Diana Massada (Economia) foi dispensada. Gonçalo Alvim (Matemática e Físico-Química) não quis continuar.

Em declarações à Tribuna de Macau, Diana Massada disse não corresponder à verdade um comunicado difundido pela direcção da EPM, em especial quando este refere que “dado o atraso da vinda e a ausência de determinados docentes de Portugal, foram temporariamente contratados dois docentes locais e a título experimental para colmatar algumas dessas lacunas”.

A professora dispensada desmente que tenha sido contratada em regime experimental. “Isso não é verdade”, garante. “Nem a lei de Macau prevê esta situação de contratos experimentais, nem nunca me foi falado de qualquer contrato em regime de experiência. Portanto, é incorrecto dizer que nós fomos contratados à experiência. É mentira, pelo menos na minha parte”, assevera.

Diana Massada revelou ainda que foi contratada oralmente pelo director da escola. “Na ausência de um contrato escrito e aos olhos da lei de Macau, eu tenho um contrato sem termo”, lembra. Assim sendo, a professora universitária está a avaliar, com um advogado, o que fazer, quer junto da Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), quer a nível das queixas que possa vir a apresentar à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), “quer até de outras acções que possam ser necessárias para o meu bom nome”.

Tudo isto, porque considera “um bocadinho difamatórias e inverdadeiras as declarações quer da direcção no comunicado que divulgou, quer do presidente da Associação de Pais com as declarações que fez”.

Algum tempo depois de começar a dar aulas, prossegue, “a direcção apresentou-me um contrato escrito que não correspondia àquilo que tínhamos acordado”. Nessa altura, “eu comecei a solicitar reuniões com o director para esclarecer a questão contratual e até para falar de outros assuntos relacionados com as aulas, e ele nunca teve disponibilidade”. “Quando finalmente nos reunimos foi para me dispensar, tendo-me confessado que a ordem veio do presidente da Fundação da EPM, Jorge Neto Valente”.

Diana Massada refuta também considerações do comunicado quando este refere que “não obstante o currículo profissional e o mérito desses contratados locais, a escola apercebeu-se de algumas dificuldades, recebeu feedback de pais, encarregados de educação e alunos e concluiu que seria melhor encontrar outra solução”. A visada afirma que nunca houve uma reunião consigo, desde o início, “de ninguém”, para falar de procedimentos ou de expectativas.

Os alunos ficam, assim, para já, sem professora de Economia, mas, segundo disse ao Jornal Tribuna de Macau o presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação da EPM, Filipe Figueiredo, “a situação está controlada”. Diana Massada, que repartia as suas funções pela Escola duvida que isso seja uma realidade. “Como é que pode estar controlado? Mesmo que haja um novo professor, irá ter ainda menos tempo do que que eu para dar a matéria, sem preparação, porque os alunos precisam de se adaptar ao estilo de ensino, ao método de ensino, e o professor adaptar-se aos alunos”.

Desgaste e dificuldades provocaram saída

O segundo professor substituto explicou também a este jornal as razões da sua saída. “Confirmo ter sido eu a mostrar a minha indisponibilidade para continuar”, disse Gonçalo Alvim, sublinhando que dar aulas representava uma carga lectiva de 24 horas semanais, que com o passar das semanas “fui concluindo ser muitíssimo, sobretudo para quem começa a leccionar”.

“Os professores têm um trabalho imenso de preparação das aulas, elaboração e correção de exames, além de todos os procedimentos e burocracias necessárias, daí que todo o tempo que tinha não chegava e isso acabava por afectar o tempo com a família”, explicou.

Gonçalo Alvim reconhece que sentiu dificuldades “em manter a regular disciplina que se exige nas salas”. “Nem sempre conseguia que todos os alunos acompanhassem a matéria, houve negativas, houve insatisfação de alguns pais, houve queixas na DSEDJ – fonte preferida de alguns para se queixarem”, contou.

No entanto, ressalva, “não foi tudo negativo”, tendo gostado da relação que criou com muitos dos estudantes. “Gostei também da escola e dos professores com quem me relacionei, mas, no cômputo geral, achei que estava a ser bastante desgastante, que não tinha o apoio que no ensino se exige dos pais – para quem os filhos olham em busca de orientação, quer se queira quer não – e que não iria conseguir manter o ritmo que seria necessário nos segundo e terceiro trimestres”, justificou.

O arquitecto paisagista, que estudou Matemática e Física até ao primeiro ano da faculdade, percebeu também que “a escola não está preparada para dar o apoio necessário a um novo professor, tendo este de procurar o seu próprio caminho”. Sobre o ambiente que encontrou, afirma que “vive-se um certo clima de insatisfação, ou crispação, pelas razões que se conhecem, e que não é o melhor ambiente para quem começa de novo”. Apesar de tudo, diz, “pareceu-me haver professores óptimos, amigos, simpáticos, que procuram ajudar dentro do possível”.

O professor tomaria mais tarde conhecimento, pelo director, na altura em que transmitiu a sua decisão de não continuar, que a autorização para leccionar pedida pela EPM à DSEDJ fora indeferida.

No comunicado divulgado na sexta-feira, a Direcção da EPM salienta que “tem plena consciência que leccionar a alunos do 3º ciclo e do secundário é uma tarefa complexa e pedagogicamente desafiante”, e agradece “a disponibilidade, dedicação e empenho desses docentes”.

Por outro lado, garante que “a escola está a envidar todos os esforços para assegurar o normal funcionamento das aulas e respectivo currículo escolar, em particular aos alunos que vão ter exames de aferição e exames nacionais”. Vítor Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


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