Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Estados Unidos da América - Os macaenses na diáspora têm uma identidade cultural forte, conclui estudo

Para avaliar a identidade cultural da comunidade na diáspora, o Projecto de Estudos Macaenses e Portugueses da Universidade da Califórnia analisou as respostas a um inquérito de 327 macaenses, espalhados por 10 países e 200 cidades



Apesar de em diferentes pontos do mundo, os macaenses na diáspora mantêm ligações familiares, sobretudo através da Internet, e têm uma forte identidade cultural. São as principais conclusões de um estudo do Projecto de Estudos Macaenses e Portugueses da Universidade da Califórnia, que avaliou, de 30 de Junho até agora, 327 pessoas, em 10 países. Os resultados vão ser publicados no início do próximo mês, mas o Ponto Final conversou antes com o director deste departamento, Roy Xavier.

Com o objectivo de determinar quantos descendentes de macaenses da diáspora mantêm as suas ligações familiares e identidade cultural, foi distribuído um inquérito com 11 perguntas a milhares na diáspora, com a ajuda do Conselho das Comunidades Macaenses e das 13 Casas de Macau espalhadas pelo mundo. “Encontrei também muitos macaenses através da Internet, das redes sociais e da minha correspondência pessoal”, acrescenta Roy Xavier.

Uma identidade forte com recurso à tecnologia

A principal conclusão que o investigador retira é que a “identidade cultural da comunidade macaenses é muito forte”, apesar dos 500 anos de história e de migrações. Afinal, cerca de 70 por cento dos inquiridos identificou-se logo como “macaense e luso-asiático”.

Em segundo lugar, conclui ainda que estavam bastante conscientes de onde vinham as suas famílias no que toca à história. “Muitas das pessoas que inquiri olham para a sua história através dos antepassados, da história e, muitas vezes, do meu trabalho”, diz, acrescentando: “Estão muito conscientes de onde vêm as suas famílias, seja de Portugal, Goa, Macau, Hong Kong, Xangai ou outros sítios.”

Outro ponto interessante deste estudo diz respeito à dimensão das famílias, importante para estimar a “dimensão da população luso-asiática” no mundo. “Percebemos que a média era de 30 ou 35 membros vivos, família imediata ou alargada, enquanto 20 por cento têm mais de 100 membros vivos, muitos espalhados pelo mundo”, diz. Mas como mantêm o contacto? “Percebemos que usam especialmente as redes sociais — fazem-no, sobretudo, por divertimento, mas também para manter o contacto”, refere, explicando que “isto é particularmente relevante para uma comunidade na diáspora, que está espalhada em diferentes países”. É assim que conseguem “manter a sua identidade cultural”, recorrendo à tecnologia para conseguirem “a consciência história” do seu local de origem. “E, muitas vezes, isso é traduzido ou comunicado aos seus filhos”, acrescenta.

As principais diferenças referiam-se ao tipo de população, se é activa ou se já está reformada. “Neste caso, tivemos uma participação de mais de 50 por cento de reformados”, diz, explicando que isso é “compreensível”, já que se trata do grupo “com mais interesse em aprender sobre a história e passar a mensagem à geração seguinte”.

Como a população parece estar mais velha, o uso dos média parece mais proeminente. E, se o primeiro inquérito, realizado em 2012, foi feito, sobretudo, por email e distribuído em papel, “agora tudo foi feito através da Internet e das redes sociais”, permitindo que mais pessoas possam participar. O número de pessoas que responderam, ainda que não pareça muito grande, “é bastante bom”.

Sobre o sítio onde se encontram, a maioria parece estar concentrada nos Estados Unidos, Austrália, Brasil e Europa, enquanto uma menor percentagem está na Ásia. “Ficámos surpreendidos por perceber que 10 por cento da comunidade ainda se encontra, de alguma maneira, no sudeste asiático”, refere, acrescentando: “Menos estão em Macau, mas mais em Hong Kong e à volta do sudeste asiático.”

Sobre os motivos que o levam a coordenar este estudo, Roy Xavier realça que se trata de um esforço para “apurar a identidade e de que forma esta consegue manter-se ao longo dos anos”, mas também, considerando os últimos desenvolvimentos políticos em Macau e Hong Kong, torna-se particularmente importante a percepção que existe nas duas regiões administrativas especiais. “Muitas pessoas na diáspora, especialmente a geração mais jovem, os que têm entre 20 e 55 anos, trabalham em sectores ligados à tecnologia e penso que é uma das chaves do seu interesse na China”, diz, explicando que o gigante asiático, especialmente na Grande Baía, tem um grande foco nesta área. “Por isso, parte do estudo é perceber se a identidade cultural dos macaenses pode traduzir-se numa forma de ligar o Ocidente e o Oriente”, conclui.

O que se procurou avaliar

Ao inquérito responderam macaenses (ou luso-asiáticos), definidos no estudo como “descendentes de portugueses mestiços da Ásia com ligações familiares na China, Sudeste Asiático e Índia, e especificamente de Goa, Macau, Hong Kong, Xangai, Cantão, Japão, Malásia, Singapura ou Timor”. Os seus antepassados não precisavam de ser de Macau, mas devia haver uma ligação cultural na sua família com os portugueses na Ásia durante os últimos 500 anos.

O inquérito contém 11 perguntas, em português e em inglês, preparadas pelo Projecto de Estudos Portugueses e Macaenses, da Universidade da Califórnia, e pela Escola de Saúde Pública da Universidade do Estado da Geórgia, ambas nos Estados Unidos.

As primeiras oito perguntas procuraram recolher informação demográfica e determinar as identidades culturais no seio das comunidades macaenses (ou luso-asiáticas) espalhadas pelo mundo. As últimas perguntas pretenderam aferir as condições físicas e mentais de todos os inquiridos.

Procurando perceber se a identidade e memória, através da família, se mantinha ou, como refere Roy Xavier, se se identificavam com a identidade cultural, procurou perceber em que categorias os inquiridos se enquadravam — euro-asiáticos, luso-asiáticos, europeus, chineses, americanos. “Estávamos a tentar perceber se eles retinham a identidade cultural de Macau, como luso-asiáticos, no geral, e macaenses, em particular, e queríamos ver onde eles se enquadravam e ter uma ideia do tamanho da população”, diz. No inquérito, perguntaram-lhes, numa escala, onde eles se situavam, para além da faixa etária e género. “Inquirimos sobre a identidade, onde estão localizados, de onde vêm as famílias — Portugal, Goa, Macau, Xangai, Hong Kong, até ao Sudeste Asiático, incluindo Timor”, acrescenta.

Este estudo, que já tinha sido realizado três ou quatro vezes anteriormente, desta vez incluía duas perguntas sobre saúde. “Uma sobre saúde em geral, por se tratar de uma população activa, mas também reformada”, refere, acrescentando que a outra diz respeito à saúde mental. “Se sentem ansiedade e coisas do género, quantos dias por mês não se sentem bem”, diz.

Os motivos do estudo

Na introdução dos resultados preliminares do estudo, divulgados em Agosto no site Macstudies.net, o investigador Roy Xavier, também ele macaense, explica os motivos, pessoais e profissionais, que o levam a querer estudar esta comunidade. “Para perceber os papéis que os macaenses (luso-asiáticos) tiveram no desenvolvimento de Macau, Hong Kong, Xangai e outras regiões do sudeste asiático, e a sua migração para outros países depois da Segunda Guerra Mundial”, diz. Outro motivo é “para documentar as histórias dos membros da comunidade, passada e presente, cujas biografias e escritos testemunham o desenvolvimento colonial, a expansão do comércio da China e as origens da actual economia global”, declara ainda, acrescentando um último item: “Usar o Projecto de Estudos Portugueses e Macaenses e as redes sociais para envolver qualquer pessoa que esteja interessada em perceber, contribuir e preservar a história cultural dos macaenses de origem portuguesa.”

Tratando-se esta da quarta vez que realiza um estudo do género, Roy Xavier, afirma que “este tem sido refinado ao longo dos anos”. Luciana Leitão – Portugal in “Ponto Final” 


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