“Sunday Morning Forever” é o nome da exposição que Konstantin Bessmertny vai levar à Galeria Monumental, em Lisboa. Através das obras, que caricaturam Churchill, Roosevelt e Estaline, o pintor que vive em Macau há 30 anos quer “iluminar o presente confuso” e “juntar as pessoas num mundo sem guerra nem autocratas loucos”. A mostra é inaugurada no sábado
Quando
Konstantin Bessmertny tinha 12 anos, um homem bateu à porta de sua casa – em
Blagoveshchensk, na antiga URSS – e pediu para falar com a sua avó. Ali,
explicou que conhecia Yakov, avô de Konstantin, e que sabia o que lhe tinha
acontecido nos últimos dias de vida: tal como muitos outros homens da vila,
Yakov tinha sido preso pela polícia secreta soviética para nunca mais voltar a
casa.
A
história é contada por Bessmertny no catálogo da exposição “Sunday Morning
Forever”, que é inaugurada em Lisboa, na Galeria Monumental, este sábado. As
obras de Bessmertny ficam em exposição até dia 10 de Setembro.
O
episódio da infância do pintor sediado em Macau há 30 anos serve para explicar
a série de obras a serem apresentadas em Lisboa, que caricaturam figuras como
Winston Churchill, Franklin D. Roosevelt e Estaline, a partir de piadas que se
contam sobre eles.
“Desde
a visita daquele desconhecido, comecei a fazer a minha própria investigação e
consegui encontrar uma história sobre um dos meus tios afastados que foi
condenado a dez anos de prisão por ter contado uma piada sobre Estaline. Ele
contou a piada a amigos seus e um dos quais denunciou-o depois às autoridades”,
conta o artista, questionando: “Alguém ainda sabe a piada? Quão poderosa poderá
ser para que os lacaios de um tirano façam tudo para impedir as pessoas de rir?
Ninguém me disse. Será que foi esquecida porque era proibida?”.
Konstantin
Bessmertny, inspirado pela história da sua família, começou então a procurar
piadas sobre Estaline. Piadas essas que ia ilustrando nas telas. “O riso é a
ruína dos tiranos, é tão puro e simples que tem a capacidade de nos libertar do
mal e degradar aqueles que estão injustamente no poder”, diz o artista no
catálogo da exposição de Lisboa.
Ao
Ponto Final, o artista deixa mais pistas sobre a exposição. Diz que estes são
“tempos difíceis” para quem nasceu na antiga URSS, especialmente para aqueles
que – como Konstantin Bessmertny – têm origens e identidades mistas. Os
antepassados do artista são da actual Ucrânia. “Temos uma responsabilidade pelo
que se passa actualmente na Europa”, diz, sublinhando: “Espero que a minha
exposição ajude a iluminar o presente confuso e possa juntar as pessoas num
mundo sem guerra nem autocratas loucos”.
Porquê
“Sunday Morning Forever”? Porque “já temos problemas suficientes e, em
situações como esta, a arte deve responder com luz e esperança”, responde.
Bessmertny já apresentou as suas obras em Portugal por diversas vezes.
“Instalei-me em Macau em 1992 e descobri Portugal pouco depois. Fiquei
espantado com o país e não há um ano que passe sem que eu passe lá o meu tempo
a trabalhar”, assinala Bessmertny. O artista colabora com a Galeria Monumental
há mais de 20 anos. André Vinagre – Macau in “Ponto
Final”
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