Governo aponta 1 de Maio como data oficial e assinala a data. No entanto, o jurista Eurico Pinto Monteiro destaca a data de 7 de Julho de 1975 como a do encerramento definitivo do campo. Presidentes de Cabo Verde, Portugal e Guiné-Bissau e um representante da Presidência da República de Angola estiveram no Tarrafal
Logo
após o 25 de Abril em Portugal, um dos compromissos assumidos pelo Movimento
das Forças Armadas (MFA) foi o da libertação dos presos políticos do Campo de
Chão-Bom no Tarrafal, onde permaneciam detidos catorze cabo-verdianos, dois
guineenses e cinquenta angolanos.
No
dia da revolta, relata a investigadora portuguesa Sandra Maria da Cunha Pires
na sua tese de Doutoramento, “a segurança à volta do campo é reforçada com
dispositivos militares e policiais e dias depois verifica-se novo reforço com
armas pesadas, conforme o previsto no Protocolo do MFA: as instalações
prisionais de qualquer natureza, onde, até ao momento, se encontrem presos
políticos, serão ocupadas pelas Forças Armadas”.
Cinco
dias depois, a 30 de Abril, os presos presentes no campo são informados que a
sua libertação pode acontecer no dia seguinte.
Jaime
Schofield, entrevistado por Ana Mouta Faria, citada por Sandra Maria da Cunha
Pires, recorda a concertação entre o MFA e PAIGC.
“Mobilizámos,
pessoas, viaturas, carros… Mas não sabíamos [...] qual era a profundidade, a
repercussão da ideia da mobilização. O que é certo é que toda a [ilha de]
Santiago esteve à volta do campo de concentração. Foi [uma] coisa jamais vista!
A grande manifestação popular é uma coisa impressionante. [...] toda a
população à volta do campo de concentração, até à libertação. [...] os
militantes do PAIGC estavam lá. Com o Jorge Querido à cabeça, porque ele é que
representava Santiago junto do PAIGC. Mas foi uma ebulição [...] que teve
impacto”.
Sandra
Maria da Cunha Pires recorda que esta foi, também, a primeira acção concertada
entre o MFA e elementos do PAIGC o qual, no dia da libertação (1 de Maio),
mobilizou e concentrou um elevado número de manifestantes em frente ao campo de
Chão Bom para assistirem à saída de quase sete dezenas de prisioneiros.
1º de Maio de 1974 ou 7 de Julho de 1975?
O
1º de Maio ficaria assim marcado como sendo o dia oficial da libertação dos
prisioneiros do campo do Tarrafal.
O
jurista Eurico Pinto Monteiro, no entanto, tem uma visão diferente sobre o
tema.
“O
encerramento definitivo da ala do (juridicamente) Campo de Trabalho do
Tarrafal, ou do (politicamente) Campo de Concentração do Tarrafal, destinada a
presos políticos, teve lugar no dia 7 de Julho de 1975 e não a 1 de Maio de
1974”, refere.
“Tal
narrativa não corresponde à verdade no que tange à data do encerramento!”,
defende o jurista.
“Sabe-se
que uma das primeiras e principais medidas delineadas pelo Movimento das Forças
Armadas e pelas Forças Armadas Portuguesas locais foi a libertação dos presos
políticos do Campo de Chão-Bom no Tarrafal, onde permaneciam detidos catorze
cabo-verdianos, dois guineenses e cinquenta angolanos, em cumprimento do
Decreto-lei 173/74, de 26 de Abril, da Junta de Salvação Nacional, que
decretava a amnistia dos crimes políticos, cuja interpretação foi aclarada pelo
delegado do Procurador da República em S. Vicente, Custódio Simões,
conjuntamente com os advogados Arlindo Vicente Silva, Felisberto Vieira Lopes e
David Hopffer Almada”.
Para
sustentar a sua opinião, Eurico Pinto Monteiro relembra que a 17 e 18 de
Dezembro de 1974 foram detidas 72 pessoas em todo o país que foram
posteriormente encaminhadas para Tarrafal.
Nos
“tristes eventos de 17 e 18 de Dezembro de 1974, da responsabilidade das
autoridades militares portuguesas (Movimento das Forças Armadas e Forças
Armadas Portuguesas), com o aval do Alto-Comissário [de Cabo Verde], resultaram
a prisão, ilegal e arbitrária, de setenta e dois indivíduos, sobretudo nas
ilhas de Santiago e São Vicente, mas também em Santo Antão, Fogo, Brava e Sal,
que ousaram ter ideia outra sobre o processo de descolonização preconizado pelo
PAIGC”.
Desse
total, “cinquenta e oito foram internados na prisão do Tarrafal de cuja ala da
prisão destinada a presos políticos foi reaberta para o efeito pelas
autoridades coloniais portuguesas, com autorização do Alto-Comissário de Cabo
Verde”.
Do
total de detidos no Tarrafal “foram libertados trinta e nove até à data da
independência, com excepção de dezanove deles que foram transferidos, num avião
militar, para a prisão de Caxias, em 7 de Junho de 1975 e aí abandonados à sua
sorte”.
Sandra
Maria da Cunha Pires recorda estas detenções: “As manifestações contra a
PIDE/DGS ou de ‘caça aos Pides’ terão ocorrido em dois momentos bem separados
no tempo: um primeiro nos dias subsequentes ao 25 de Abril prolongando-se pelo
mês seguinte, sem registo de detenções; e um segundo no início de Dezembro, das
quais resultaram 72 indivíduos presos, embora se chegue a afirmar que estes
detidos pertenciam aos partidos rivais do PAIGC”.
“Na
sua maioria, as capturas foram efectuadas sob a acusação de «provocadores em
nome de grupos políticos não reconhecidos» à excepção de oito delas cuja
justificação mencionava expressamente terem sido informadores da PIDE/DGS”,
acrescenta a investigadora portuguesa.
39
presos acabariam por ser libertados e outros 19 transferidos para Portugal, em
11 de Junho de 1975. Além disso, “foram transferidos para o foro civil os
processos relativos a 10 indivíduos”.
Na
tese, Sandra Maria da Cunha Pires refere que “facilmente identificámos alguns
destes nomes como afectos a partidos cabo-verdianos sem ligação ao PAIGC, como
Ângelo Lima, Aires Leitão da Graça e António Gumersindo Ribas Chantre”.
O
campo do Tarrafal só seria oficialmente extinto pelo primeiro Governo da
República, liderado por Pedro Pires, sendo Ministro da Justiça David Hopffer
Almada, “através do Decreto-Lei nº 3/75, de 19 de Julho”, refere Eurico Pinto
Monteiro.
“Fica
assim demonstrada que a ala da prisão do Tarrafal destinada a presos políticos
não foi encerrada no dia primeiro de Maio de 1974, como pretende o Governo, com
libertação dos presos políticos, que lutavam pela independência dos seus
países, mas, sim, a 7 de Julho de 1975, com a libertação dos presos políticos
que não concordavam com o projecto político de Independência de Cabo Verde
preconizada pelo PAIGC”, defende o jurista. André Amaral – Cabo Verde in “Expresso
das Ilhas”
Sem comentários:
Enviar um comentário