Um estudo internacional, em que participa Nuno Peixinho, investigador do Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) de Coimbra, revela uma vasta presença de antigos gelos de dióxido de carbono (CO2) e monóxido de carbono (CO) em Objetos transneptunianos (TNOs), sugerindo que o CO2 pode ter existido na formação do nosso Sistema Solar.
Esta
investigação, publicada na Nature Astronomy, sugere que o gelo
de CO2 era abundante nas regiões exteriores frias do enorme disco de gás e
poeiras em rotação a partir do qual se formou o nosso Sistema Solar,
normalmente conhecido por disco protoplanetário.
Os
investigadores descreveram a deteção de dióxido de carbono em 56 TNOs e
monóxido de carbono em 28, de uma amostra de 59 objetos observados com o novo
Telescópio Espacial James Webb (JWST). De acordo com o estudo, o dióxido de
carbono está presente nas superfícies de virtualmente toda a população
transneptuniana, independentemente das suas famílias e do tamanho do corpo,
enquanto o monóxido de carbono foi detetado apenas em objetos com alta
abundância de dióxido de carbono.
«É
a primeira vez que observamos um grande número de TNOs na região do
infravermelho, que não nos é acessível com telescópios na superfície da Terra,
então, de certa forma, tudo o que vimos com a análise dos dados obtido com o
JWST é impressionante e único», considera Nuno Peixinho, coautor do estudo.
«Não
esperávamos descobrir que o dióxido de carbono fosse tão omnipresente na região
para além de Neptuno, a Cintura de Kuiper, e menos ainda que o monóxido de
carbono estivesse presente em tantos TNOs. Esta descoberta pode ajudar-nos
ainda mais a compreender a formação do nosso Sistema Solar e como estes
pequenos objetos celestes podem ter migrado de umas regiões para outras, algo
que sabemos ter acontecido, mas que ainda tem muitas pontas soltas», acredita o
investigador da FCTUC.
Os
Objetos transneptunianos, que orbitam o Sol na Cintura de Kuiper, situada para
além de Neptuno, são relíquias muito bem preservadas do processo de formação
planetária. Estas descobertas ajudam a impor restrições importantes sobre onde
esses objetos foram formados no Sistema Solar primordial, como chegaram à
região que habitam hoje e como as suas superfícies se alteraram e evoluíram
desde a sua formação. Como se formaram e sempre se encontraram a grandes
distâncias do Sol, e são bem mais pequenos que os planetas, contêm ainda a
informação original e não processada sobre a composição original do disco
protoplanetário, daí serem considerados verdadeiros “fósseis” do Sistema Solar.
Segundo
o estudo, o dióxido de carbono é comumente encontrado em muitos objetos do
nosso sistema solar. As possíveis razões para a falta de deteções anteriores de
gelo de dióxido de carbono em TNOs incluem não só as fortes limitações
observacionais no infravermelho, como o dióxido de carbono estar essencialmente
enterrado sob camadas de outros gelos menos voláteis, como o gelo de água, ou
outro material refratário/rochoso, ou mesmo devido à sua recombinação com
outras moléculas em consequência da permanente irradiação cósmica que estão
sujeitas.
«A
descoberta simultânea de dióxido de carbono e monóxido de carbono nos TNOs
parece ser algo natural, mas ao mesmo tempo levanta muitas questões. Embora o
dióxido de carbono tenha provavelmente sido acumulado logo da nuvem que gerou o
nosso disco protoplanetário, a origem do monóxido de carbono é mais incerta»,
ressalva o astrofísico.
«O
CO é um gelo muito volátil mesmo nas muito frias superfícies dos TNOs. Não
podemos descartar a possibilidade de o monóxido de carbono ter sido
originalmente acumulado e de alguma forma ter sido retido até à presente data.
No entanto, os dados sugerem que o mais provável é ter sido produzido pela
irradiação de outros gelos contendo carbono não sendo, portanto,
verdadeiramente original», conclui.
Este
trabalho faz parte do programa Discovering the Surface Compositions of
Trans-Neptunian Objects (DiSCo-TNOs), liderado pelos cientistas planetários
Mário Nascimento De Prá e Noemí Pinilla-Alonso, do Florida Space Institute
(FSI) da Universidade da Flórida Central. Universidade de Coimbra - Portugal
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