Investigadora e produtora de cacau, a luso-venezuelana Anakarina Silva quer levar a sua marca, Catacacao, da Venezuela para o mercado europeu, a começar por Portugal, onde tem raízes e confessou à Lusa ter “um coraçãozinho português”
“O
cacau venezuelano é muito apreciado na Europa. É conhecido como um dos melhores
cacaus do mundo e é utilizado para melhorar ou realçar os sabores, porque
produzimos cacau de sabor fino”, disse, avançando que a sua marca, Catacacao, foi fundada em 2017 e
que vai apostar agora no mercado europeu.
“Queremos
exportar para a Europa, e Portugal é o primeiro país onde queremos estar, e a
partir daí fazer a distribuição. Temos um produto de qualidade para exportação
e os manuais de procedimentos já estão prontos”, disse, sublinhando que tem
raízes, família e “um coraçãozinho português”
Anakarina
Silva explicou que, além da matéria-prima, podem ser exportados subprodutos
como a manteiga de cacau, cacau em pó, pasta de cacau, licor de cacau e cacau a
100%.
“Em
Portugal há ‘chocolatiers’ muitos bons e refinados, dos melhores da Europa, que
podem usar a nossa matéria-prima para formular os melhores chocolates”, frisou.
Produtora
e investigadora, Anakarina alertou que as alterações climáticas estão a afetar,
em baixa, a produção de cacau na Venezuela, país onde a produção média ronda as
26 000 toneladas anuais, das quais mais de 50% são exportadas para a Europa e o
Japão.
“As
alterações climáticas e a seca têm afetado muitíssimo a produção. O cacau tem
subido de preço porque há pouca oferta, porque a produção caiu muito devido ao
clima, a seca tem sido muito longa”, disse.
Chef
internacional, Anakarina Silva explicou que os produtores estão à espera das
chuvas que tornam as árvores bonitas, verdejantes e que contentam os
cacaueiros, mas há preocupação, porque, depois do fenómeno El Niño, que
produziu longa seca, esperam La Niña, que pode gerar intensas chuvas e
inundações, que afetam também a produção.
“Sinto
que os cacaueiros vão ficar stressados com tanta seca e chuvas prolongadas”,
frisou.
Anakarina
explicou que, se um cacaueiro não tiver um sistema de irrigação, dará frutos
para colheita duas vezes por ano, em dezembro e junho, quando pode dar cacau
durante todo o ano.
Apesar
de a Venezuela ser um país produtor de cacau, “sempre disseram que talvez não
crescesse em Caracas por causa do clima e da altitude”, mas, em Los Campitos,
onde produz o chocolate Catacacao, ela própria tem mais de 100 árvores de
cacau, de diferentes origens e regiões do país.
“Fazemos
todo o processo, desde a árvore e a semente. Torramos, debulhamos, descascamos,
cuidando cada processo até chegar à barra de chocolate. O nome de Catacacao vem
de catar, que significa saborear (…) Fazemos chocolates desde a semente, desde
a origem. Não misturamos cacau, trabalhamos com cacau de origem.”, afirmou.
Anakarina
explicou ainda que “cada cacau tem um sabor diferente” e que está a fazer um
viveiro, um “banco genético”, que depois poderá ser usado nas distintas regiões
do país.
“A
genética do cacau venezuelano é realmente muito valiosa. Temos uma grande
variedade de cacau crioulo”, disse, precisando que cada região do país tem
tradições associadas.
“Em
quase todos os lugares, quando estendem o cacau para o secar ao sol, cantam
canções da região. São práticas ancestrais que não mudam, que são diferentes e
isso é mágico. É por isso que eu digo que quando se come um chocolate de uma
região, está-se a saborear as tradições desse lugar”, disse.
Anakarina
Silva lamentou que nem todos os chocolateiros tenham a possibilidade de
conhecer o campo onde nasceu o cacaueiro, o produtor, a rastreabilidade que
identifica a origem de cada chocolate. In “Bom dia
Europa” - Luxemburgo
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