Que as nossas crianças e jovens possam
aprender português no sistema público de ensino é fulcral para o futuro da
nossa língua. A Galiza é uma potência lusófona com data de validade quase a
expirar, mas com a aprendizagem de português a data de validade torna-se
infinita
Este
ano académico começa com uma novidade histórica no sistema de ensino público da
Galiza, estou a falar do facto de termos, pela primeira vez, professores de
língua portuguesa oficialmente reconhecidos como tal. Se já há uns anos que os
nossos estudantes podem escolher como língua estrangeira o português, também é
certo, e de justiça, dizer que esta matéria estava a ser lecionada por pessoas
que tinham um empenho particular em desempenhar esta tarefa, fosse pelos
motivos que fossem.
A
estes professores que iniciaram o ensino do português no secundário só temos
muito a agradecer por terem aberto este caminho e por terem sido capazes de
solucionar todos os entraves que a administração colocou e tenta colocar todos
os dias para que o português no secundário não seja uma realidade. Este grupo
de docentes foi pioneiro no seu trabalho e por isso deve ser reconhecido.
Ora
bem, as condições destes docentes nunca foram as ótimas. Estamos a falar de que
se estava a lecionar uma matéria no sistema de ensino público que não tinha
nenhum especialista nessa matéria, estamos a falar de que não houve formação
específica para esta pessoas em todos estes anos ofertada pela Conselharia
correspondente. Falamos de que quando um destes docentes faltava ao seu posto
de trabalho era substituído por uma pessoa à que não se lhe exigia conhecimento
na matéria, e como estas muitas.
Mas
este mês de setembro ficará para a história porque se incorporam ao sistema de
ensino público quatro pessoas com vaga na especialidade de português.
Finalmente a administração resolveu convocar estas vagas há tanto desejadas.
Mas convido para a reflexão: foram convocadas estas vagas apenas pela vontade
desta Conselharia? Para mim, um absoluto não. Estas quatro vagas de português são
o resultado duma reivindicação social história. Uma reivindicação abandeirada
pelo movimento reintegracionista galego mas não só, pois o movimento
nacionalista, em geral, sempre apoiou esta batalha, assim como outro tipo de
coletivos que viam no caminho da aprendizagem do português uma saída para o
galego, uma saída laboral, uma saída económica, etc.
Só
temos que virar a cabeça atrás e lebrar quando ainda se faziam pintadas nas
paredes com legendas tipo “ Português no ensino desde já” campanha que levou
avante o MDL (Movimento Defesa da Língua) há 20 anos. Estamos a falar de mais
de 20 anos de luta social para que o estudo do português no secundário seja uma
relaidade. E hoje fazemos história, e o movimento social que manteve esta luta
durante todos estes anos deve sentir imenso orgulho nisso.
Nos
últimos anos a associação DPG (Docentes de Português na Galiza) centrou muitos
dos seus esforços em trabalhar para contribuir desde a profissionalidade neste
objetivo e devemos agradecer a estas pessoas o grande trabalho voluntário que
leva feito até hoje.
Que
as nossas crianças e jovens possam aprender português no sistema público de
ensino é fulcral para o futuro da nossa língua. A Galiza é uma potência
lusófona com data de validade quase a expirar, mas com a aprendizagem de
português a data de validade torna-se infinita.
Desejo
aos novos professores de língua portuguesa na Galiza o melhor no seu desempenho
docente e que sempre sintam orgulho em saberem que têm um trabalho fruto duma
conquista social, por vezes a utopia consegue-se. Teresa Carro – Galiza in “Sermos Galiza”
Teresa Carro Sobral – É professora de português na Escola Oficial de Idiomas
de Ponte Vedra, faz parte do Movimento Reintegracionista Galego desde 1996,
quando trabalhava com a “Associação NH” de Ponte Vedra, fez parte do MDL e é
sócia da AGAL.
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