A Escola Portuguesa de Macau e o
Jardim de Infância D. José da Costa Nunes vão iniciar mais um ano lectivo, em
ambos os casos com mais alunos face ao ano passado. Na EPM, 75% dos alunos que
ingressam no primeiro ano não têm o Português como língua materna
Inicia-se
na segunda-feira mais um ano lectivo na Escola Portuguesa de Macau (EPM) com
612 matrículas: 277 no primeiro ciclo, 115 no segundo, 109 no terceiro e 111 no
ensino secundário, disse o presidente da direcção da EPM em entrevista ao
Jornal Tribuna de Macau. Este ano “75% dos alunos que vão frequentar o primeiro
ano não têm o Português como língua materna”, avançou Manuel Machado,
acrescentando que a tendência corresponde “a uma inversão em relação ao que se
verificava há uns anos”.
Manuel
Machado disse que o facto de haver uma maior percentagem de alunos de língua
materna não portuguesa traz “novos desafios”. “Quando nos apercebemos desta
realidade, e não querendo obviamente fechar as portas aos alunos que nos
procuram, tivemos reuniões de trabalho com os professores que iam assegurar o
primeiro ano, no sentido de serem delineadas as estratégias que entendemos ser
necessárias para dar reposta a esta nova realidade, de forma a que os alunos
adquiram as ferramentas linguísticas necessárias ao acompanhamento do currículo
na EPM”, explicou.
Manuel
Machado defende que em situações como esta, em que as crianças aprenderão
Português como língua estrangeira, “tem de se privilegiar o ensino do Português
relativamente às outras áreas. Não quer dizer que não se ensinem as outras
áreas, mas a aposta tem de ser na língua portuguesa”. Está previsto que os
alunos tenham 400 minutos de Português por semana.
Segundo
dados divulgados pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), no
ano lectivo de 2019/2020, o número total de alunos contabilizados na RAEM é de
82 683, que se traduz numa subida de 2,6% em comparação com o ano lectivo
anterior. Em 2018 havia 80 556 alunos. De acordo com o comunicado da DSEJ, o
número de alunos têm vindo a aumentar de forma contínua desde 2013/2014.
Quanto
aos professores, o número é de 8029, verificando-se um aumento de 3,6% em
comparação com o ano passado – em 2018 contabilizaram-se 7751 professores. A
DSEJ diz ainda que o rácio entre professores e alunos está de acordo com as
metas estabelecidas para o decénio 2011-2020: no que respeita à educação
infantil, é de um para 13,9, no ensino primário de um para 12,8, e no
secundário de um para nove.
Nova organização curricular
Este
ano lectivo, a EPM enfrenta uma “nova realidade”, que se prende com uma nova
organização curricular, implementada na sequência da legislação que já existe
em Portugal, e que é referente à flexibilização curricular. Os decretos,
explicou Manuel Machado, “têm a ver com o ensino inclusivo e com a organização
curricular”, sendo que “a filosofia aponta para o sucesso e a progressão de
todos os alunos ao longo da escolaridade obrigatória, embora obviamente a
ritmos diferentes”.
O
processo de ensino é encarado de uma forma diferente: “Não somos todos iguais e
avançamos nas diferentes dimensões do processo de ensino e aprendizagem a
velocidades diferentes. Mas o facto de avançarmos a velocidades diferentes, não
significa que não venhamos todos a ter sucesso”, afirmou. E isso é tido em
conta.
Os
decretos-lei saíram o ano passado em Portugal, tendo sido já aplicados no ano
lectivo transacto. “Macau não aplicou porque a organização curricular da EPM,
ao contrário da de outras escolas portuguesas no estrangeiro, está dependente
de legislação própria”, esclareceu.
De
acordo com o Ministério da Educação, a gestão do currículo – numa percentagem
superior a 25% da carga horária das matrizes curriculares do ensino básico e do
ensino secundário – pode ser definida pelas escolas através de planos de
inovação, que devem ser submetidos à aprovação da equipa de coordenação
nacional do respectivo programa. Manuel Machado indicou que a proposta
elaborada pela EPM foi enviada para o Ministério da Educação e que ainda está a
ser analisada, porém já tem “o feedback
necessário para poder avançar”.
Mas
então o que significa isto na prática? “Os grupos disciplinares e os
departamentos curriculares vão ter de trabalhar uns com os outros no sentido de
em conjunto planearem o trabalho a desenvolver nos diferentes anos de
escolaridade”, clarificou. Por exemplo, a disciplina de matemática ao nível do
8º ano “terá de planear o seu trabalho dentro do departamento, mas também com
as Ciências, o Português, o Inglês e as outras disciplinas, no sentido de a
visão que os alunos tenham do processo de ensino-aprendizagem seja uma visão
holística”. Ou seja: “A compartimentação que existia entre as disciplinas é
algo que tende a diluir-se e a desaparecer. Esta é uma grande diferença, quer
para os alunos, quer para os professores”.
Manuel
Machado adiantou que em Julho a EPM recebeu dois responsáveis do Ministério da
Educação para dar 25 horas de formação aos professores, professores do ensino
especial e psicólogos sobre o novo decreto-lei e o ensino inclusivo tendo em
conta a nova lei. Algo a que pretende dar continuidade durante o próximo ano
lectivo.
Costa Nunes com 276 crianças
Por
outro lado, hoje arranca o ano lectivo 2019/2020 no Jardim de Infância D. José
da Costa Nunes com 276 crianças, adiantou Marisa Peixoto ao Jornal Tribuna de Macau.
Um
aumento do número de alunos que estava já previsto desde o ano passado, indicou
o presidente da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), Miguel
de Senna Fernandes. Assim sendo, este ano haverá mais uma turma para crianças
com três anos. No total são 12, com 23 alunos cada.
Miguel
de Senna Fernandes disse que não haverá “grandes mudanças no Costa Nunes” e que
prevê “um começo de aulas bastante suave”, apesar de ainda não terem conseguido
recrutar um professor de ensino especial de Portugal. “Não tem sido fácil, ao
contrário do que estávamos à espera, porque em Portugal também há muita
solicitação de professores do ensino especial e portanto Macau acaba por não
atrair”, explicou.
Segundo
Marisa Peixoto, o docente terá de ser de língua portuguesa, mas poderá até ser
contratado no território. “Esperamos ter a situação resolvida o mais rápido
possível. Estamos a aguardar resposta de uma candidata”, adiantou.
Até
que o problema esteja resolvido, o Costa Nunes continuará a contar com o ensino
especial, recorrendo aos recursos humanos de que já dispunha no ano passado.
Questionado
sobre se estão planeadas novas actividades extracurriculares, Miguel de Senna
Fernandes disse que não há pretensões de o fazer, ressalvando, contudo, que há
abertura, no caso de a directora e corpo docente considerarem necessário. Catarina Pereira e Inês Almeida – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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