Representantes
dos governos de Cabo Verde, Angola e São Tomé e Príncipe querem dar mais
destaque à medicina tradicional chinesa. Vários membros de países lusófonos
encontram-se em Macau por ocasião do Fórum de Cooperação Internacional de
Medicina Tradicional Chinesa, que arrancou ontem e que reúne mais de 700
participantes do território.
O
ministro da Saúde e da Segurança Social de Cabo Verde, Arlindo do Nascimento do
Rosário, afirmou que a criação de um centro africano de medicina tradicional
chinesa seria “uma mais-valia para o país, não apenas no sector da saúde, mas
também (…) em relação ao turismo”. As declarações do governante foram
realizadas à margem do Fórum de Cooperação Internacional de Medicina
Tradicional Chinesa que começou ontem em Macau e que reúne mais de 700 participantes
do território, do interior da China, da Ásia, Europa e de países lusófonos.
“Será,
de facto, uma mais-valia, não só para Cabo Verde, mas também para a própria
China e para Macau, ter um ponto em África, num país que é estável, um país que
oferece condições para que seja (…) uma plataforma de entrada para o continente
africano e para a costa ocidental africana”, sublinhou, lembrando que está em
causa um mercado de pelo menos 200 milhões de pessoas. “Tal como em Portugal
que se construiu também um centro de Medicina Tradicional Chinesa, em Lisboa,
para a Europa, porque não em Cabo verde, para África?”, argumentou o ministro.
Arlindo
do Nascimento Rosário frisou que em Cabo Verde a indústria farmacêutica já
produz cerca de 40% dos medicamentos da medicina convencional consumidos no
país. “É uma indústria em expansão, que está a desenvolver-se, também virada
para a região africana, para os países africanos de língua oficial
portuguesa”, salientou. “Razão pela qual a aposta nesta área é também “uma
oportunidade que se oferece a Cabo Verde para o seu sector farmacêutico, não só
a nível da medicina convencional, mas tradicional também”, concluiu.
A
criação de legislação para regulamentar a actividade, em 2020, é uma das
prioridades, declarou à Lusa a assessora para a implementação da medicina
tradicional em Cabo Verde, Leila Rocha. Outro dos objectivos imediatos passa
por “começar a trabalhar num estudo sobre plantas medicinais autóctones, de
forma a introduzi-las no mercado”, acrescentou.
A
intenção é, por um lado, “recuperar a medicina tradicional cabo-verdiana” e,
por outro, “introduzir a Medicina Tradicional Chinesa”, explicou. A 19 de Maio,
Cabo Verde assinou um acordo com o Parque Científico e Industrial de Medicina
Tradicional Chinesa Guangdong-Macau, com o objectivo de aprofundar a cooperação
com a China. A parte chinesa é responsável pela consultoria técnica e política,
formação profissional e apoio no controlo da qualidade. Já Cabo Verde está
encarregue de ajudar o Parque na promoção do registo, comércio, formação e cooperação
sobre os projectos da indústria dos medicamentos tradicionais e suplementos
alimentares.
Medicina tradicional a potenciar turismo de saúde em São
Tomé e Príncipe
São
Tomé e Príncipe quer reforçar o desenvolvimento da medicina tradicional para
potenciar o turismo de saúde, algo que será reflectido no Orçamento Geral de
2020, disse o ministro da Saúde, Edgar Neves, à margem do fórum. O governante
valorizou a relação entre a medicina tradicional e a economia, nomeadamente o
turismo, “uma das fontes futuras do desenvolvimento” do país, que pode ser
potenciada através da cooperação chinesa.
Esta
aposta vai estar reflectida na preparação do Orçamento Geral do Estado para
2020 e “será uma rubrica importante para (…) alavancar definitivamente a
medicina tradicional em São Tomé e Príncipe”, afirmou. “As oportunidades não se
deixam escapar”, destacou, explicando por que razão é também um desafio para o
país: “porque encaramos este processo como muito importante para o serviço
nacional de saúde”.
O
mercado regional de 200 milhões de pessoas, sustentou, justifica o
desenvolvimento do turismo de saúde em São Tomé e Príncipe, potenciado pela
medicina tradicional, “que pode e deve jogar um papel de plataforma de ‘venda
de serviços’ para essa região”. “A nossa agenda deve aproveitar a nossa posição
estratégica. E [justifica] que nos comportemos como um mercado de turismo de
saúde”, considerou Edgar Neves.
Contudo,
apesar das “boas condições” que o país oferece, “importa agora é ter as
infra-estruturas e ter a funcionalidade e assistência necessária para garantir
serviços de qualidade”, ressalvou o ministro.
Angola,
por sua vez, mostrou vontade em juntar médicos e farmacêuticos para apostar na
medicina tradicional africana. O secretário para a Saúde Pública de Angola,
José Manuel Vieira Dias da Cunha, disse que pretende juntar médicos e
farmacêuticos para se definir um plano de acção que promova o desenvolvimento
da medicina tradicional africana no país.
O
governante afirmou que, depois do que viu em Macau, nomeadamente o Parque
Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa, está a pensar em
juntar “a Ordem dos Médicos com a associação dos médicos tradicionais (…), e
mesmo a Ordem dos Farmacêuticos”. “Poderíamos tentar elaborar um plano de
acção, com um cronograma bem definido, das acções que vamos de ter de realizar
no sentido de desenvolvermos a medicina tradicional angolana e ver que tipo de
cooperação podemos vir a ter com a medicina tradicional chinesa”, explicou o
secretário de Estado.
O
secretário de Estado sublinhou a importância de se apostar num maior
aproveitamento das plantas autóctones para se desenvolver a medicina
tradicional africana e para se produzir medicamentos de forma industrializada.
“Se formos bem sucedidos a esse nível e se se provar a eficácia dos
medicamentos, isso abre obviamente uma porta muito grande para a exportação”,
argumentou. “Está elaborado o plano estratégico de medicina tradicional e,
provavelmente ainda antes deste ano acabar, será aprovado. (…) A partir daí
vamos dar o pontapé de saída e todo o salto para o desenvolvimento da medicina
tradicional no nosso país”, concluiu.
Moçambique precisa de regular urgentemente medicina
tradicional para controlar privados
Uma
dirigente do Ministério da Saúde de Moçambique disse ontem que o país precisa
urgentemente de regulamentar as actividades da medicina tradicional para
responder e controlar a crescente oferta privada. As declarações da directora
nacional da Medicina Tradicional e Alternativa do Ministério da Saúde,
Felisbela Gaspar, foram também à margem do Fórum de Cooperação Internacional de
Medicina Tradicional Chinesa, que arrancou ontem na RAEM. “Para o sector
privado, precisamos de regulamentação urgente para o podermos controlar melhor,
para fazer um registo nacional desta actividade”, afirmou a dirigente.
“Temos
muitos pedidos de entidades privadas que querem desenvolver esta área da
medicina tradicional, alternativa e complementar e nós não estamos a dar
resposta. (…) Precisamos de regulamentação que controle esta actividade no
país”, reforçou.
Moçambique
é o país africano lusófono com o qual a China, através de Macau, tem garantido
um maior desenvolvimento da cooperação na área da Medicina Tradicional Chinesa.
Até ao momento, 300 técnicos moçambicanos já receberam formação na área, mas
muita da atenção chinesa prende-se com a obtenção de licenças de
comercialização de medicamentos. In “Ponto Final” - Macau
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