Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Macau - Países lusófonos focados na medicina tradicional chinesa



Representantes dos governos de Cabo Verde, Angola e São Tomé e Príncipe querem dar mais destaque à medicina tradicional chinesa. Vários membros de países lusófonos encontram-se em Macau por ocasião do Fórum de Cooperação Internacional de Medicina Tradicional Chinesa, que arrancou ontem e que reúne mais de 700 participantes do território.

O ministro da Saúde e da Segurança Social de Cabo Verde, Arlindo do Nascimento do Rosário, afirmou que a criação de um centro africano de medicina tradicional chinesa seria “uma mais-valia para o país, não apenas no sector da saúde, mas também (…) em relação ao turismo”. As declarações do governante foram realizadas à margem do Fórum de Cooperação Internacional de Medicina Tradicional Chinesa que começou ontem em Macau e que reúne mais de 700 participantes do território, do interior da China, da Ásia, Europa e de países lusófonos.

“Será, de facto, uma mais-valia, não só para Cabo Verde, mas também para a própria China e para Macau, ter um ponto em África, num país que é estável, um país que oferece condições para que seja (…) uma plataforma de entrada para o continente africano e para a costa ocidental africana”, sublinhou, lembrando que está em causa um mercado de pelo menos 200 milhões de pessoas. “Tal como em Portugal que se construiu também um centro de Medicina Tradicional Chinesa, em Lisboa, para a Europa, porque não em Cabo verde, para África?”, argumentou o ministro.

Arlindo do Nascimento Rosário frisou que em Cabo Verde a indústria farmacêutica já produz cerca de 40% dos medicamentos da medicina convencional consumidos no país. “É uma indústria em expansão, que está a desenvolver-se, também virada para a região africana, para os países africanos de língua oficial portuguesa”, salientou. “Razão pela qual a aposta nesta área é também “uma oportunidade que se oferece a Cabo Verde para o seu sector farmacêutico, não só a nível da medicina convencional, mas tradicional também”, concluiu.

A criação de legislação para regulamentar a actividade, em 2020, é uma das prioridades, declarou à Lusa a assessora para a implementação da medicina tradicional em Cabo Verde, Leila Rocha. Outro dos objectivos imediatos passa por “começar a trabalhar num estudo sobre plantas medicinais autóctones, de forma a introduzi-las no mercado”, acrescentou.

A intenção é, por um lado, “recuperar a medicina tradicional cabo-verdiana” e, por outro, “introduzir a Medicina Tradicional Chinesa”, explicou. A 19 de Maio, Cabo Verde assinou um acordo com o Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa Guangdong-Macau, com o objectivo de aprofundar a cooperação com a China. A parte chinesa é responsável pela consultoria técnica e política, formação profissional e apoio no controlo da qualidade. Já Cabo Verde está encarregue de ajudar o Parque na promoção do registo, comércio, formação e cooperação sobre os projectos da indústria dos medicamentos tradicionais e suplementos alimentares.

Medicina tradicional a potenciar turismo de saúde em São Tomé e Príncipe

São Tomé e Príncipe quer reforçar o desenvolvimento da medicina tradicional para potenciar o turismo de saúde, algo que será reflectido no Orçamento Geral de 2020, disse o ministro da Saúde, Edgar Neves, à margem do fórum. O governante valorizou a relação entre a medicina tradicional e a economia, nomeadamente o turismo, “uma das fontes futuras do desenvolvimento” do país, que pode ser potenciada através da cooperação chinesa.

Esta aposta vai estar reflectida na preparação do Orçamento Geral do Estado para 2020 e “será uma rubrica importante para (…) alavancar definitivamente a medicina tradicional em São Tomé e Príncipe”, afirmou. “As oportunidades não se deixam escapar”, destacou, explicando por que razão é também um desafio para o país: “porque encaramos este processo como muito importante para o serviço nacional de saúde”.

O mercado regional de 200 milhões de pessoas, sustentou, justifica o desenvolvimento do turismo de saúde em São Tomé e Príncipe, potenciado pela medicina tradicional, “que pode e deve jogar um papel de plataforma de ‘venda de serviços’ para essa região”. “A nossa agenda deve aproveitar a nossa posição estratégica. E [justifica] que nos comportemos como um mercado de turismo de saúde”, considerou Edgar Neves.

Contudo, apesar das “boas condições” que o país oferece, “importa agora é ter as infra-estruturas e ter a funcionalidade e assistência necessária para garantir serviços de qualidade”, ressalvou o ministro.

Angola, por sua vez, mostrou vontade em juntar médicos e farmacêuticos para apostar na medicina tradicional africana. O secretário para a Saúde Pública de Angola, José Manuel Vieira Dias da Cunha, disse que pretende juntar médicos e farmacêuticos para se definir um plano de acção que promova o desenvolvimento da medicina tradicional africana no país.

O governante afirmou que, depois do que viu em Macau, nomeadamente o Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa, está a pensar em juntar “a Ordem dos Médicos com a associação dos médicos tradicionais (…), e mesmo a Ordem dos Farmacêuticos”. “Poderíamos tentar elaborar um plano de acção, com um cronograma bem definido, das acções que vamos de ter de realizar no sentido de desenvolvermos a medicina tradicional angolana e ver que tipo de cooperação podemos vir a ter com a medicina tradicional chinesa”, explicou o secretário de Estado.

O secretário de Estado sublinhou a importância de se apostar num maior aproveitamento das plantas autóctones para se desenvolver a medicina tradicional africana e para se produzir medicamentos de forma industrializada. “Se formos bem sucedidos a esse nível e se se provar a eficácia dos medicamentos, isso abre obviamente uma porta muito grande para a exportação”, argumentou. “Está elaborado o plano estratégico de medicina tradicional e, provavelmente ainda antes deste ano acabar, será aprovado. (…) A partir daí vamos dar o pontapé de saída e todo o salto para o desenvolvimento da medicina tradicional no nosso país”, concluiu.

Moçambique precisa de regular urgentemente medicina tradicional para controlar privados

Uma dirigente do Ministério da Saúde de Moçambique disse ontem que o país precisa urgentemente de regulamentar as actividades da medicina tradicional para responder e controlar a crescente oferta privada. As declarações da directora nacional da Medicina Tradicional e Alternativa do Ministério da Saúde, Felisbela Gaspar, foram também à margem do Fórum de Cooperação Internacional de Medicina Tradicional Chinesa, que arrancou ontem na RAEM. “Para o sector privado, precisamos de regulamentação urgente para o podermos controlar melhor, para fazer um registo nacional desta actividade”, afirmou a dirigente.

“Temos muitos pedidos de entidades privadas que querem desenvolver esta área da medicina tradicional, alternativa e complementar e nós não estamos a dar resposta. (…) Precisamos de regulamentação que controle esta actividade no país”, reforçou.

Moçambique é o país africano lusófono com o qual a China, através de Macau, tem garantido um maior desenvolvimento da cooperação na área da Medicina Tradicional Chinesa. Até ao momento, 300 técnicos moçambicanos já receberam formação na área, mas muita da atenção chinesa prende-se com a obtenção de licenças de comercialização de medicamentos. In “Ponto Final” - Macau

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