Cabo Verde está empenhado no investimento na área da
Medicina Tradicional Chinesa e a RAEM tem-se afigurado como um apoio ao
desenvolvimento deste sector através do Parque Científico e Industrial em
Hengqin. Em entrevista ao Jornal Tribuna de Macau, o Ministro da Saúde e Segurança
Social do país africano assegurou que irão continuar a ser dados passos
“seguros” para uma parceria “mutuamente vantajosa” entre Cabo Verde, a China e
Macau
O
Ministro da Saúde e Segurança Social Cabo Verde veio à RAEM para participar no
Fórum de Cooperação Internacional de Medicina Tradicional 2019 da China
(Macau), uma das áreas que o país pretende desenvolver.
“Este
ano tive o gosto de vir [ao Fórum] na medida em que estamos a começar a
implementar um projecto de medicina tradicional chinesa em Cabo Verde, em
conjunto com o Parque Científico e Industrial de Macau. Nesse sentido, temos
todo o interesse, por um lado, em aprofundar o que já é o nosso conhecimento da
medicina tradicional, mas também de conversar e reunir com as entidades não só
do Parque, mas também aqui de Macau”, frisou Arlindo Nascimento do Rosário em
entrevista ao Jornal Tribuna de Macau.
Questionado
sobre a importância de Macau no contacto com a China, o governante frisou que o
território “serve de facto como plataforma entre a China e os Países de Língua
Oficial Portuguesa e é nessa base que, com Macau, podemos desenvolver projectos
com a China, mas também de ligação directa entre a RAEM e Cabo Verde”. “É nessa
linha que entra Macau”.
Ao
mesmo tempo, através do Parque Industrial, Macau “tem sido um dos motores para
o desenvolvimento” da Medicina Tradicional Chinesa no país.
“Estamos
no bom caminho. Acredito que, com toda a abertura que tem havido da parte das
entidades governamentais de Macau e da China, iremos continuar a dar passos que
queremos que sejam seguros para que seja uma parceria mutuamente vantajosa
entre Cabo Verde, a China e Macau”, destacou.
Arlindo
Nascimento do Rosário fez questão ainda de mencionar que Macau inaugurou
recentemente a Licenciatura em Medicina na Universidade de Ciência e Tecnologia
que conta com uma estudante de Cabo Verde.
No
entanto, a relação com a China não fica por aqui. “Temos uma relação muito
forte com a China como um todo em várias áreas, por exemplo, também a questão
da segurança das cidades e da videovigilância”.
Arlindo
Nascimento do Rosário voltou ainda a falar da intenção de criar um centro africano
de Medicina Tradicional Chinesa. “Cabo Verde, pela sua posição geoestratégica e
estabilidade política, é um país que oferece óptimas condições. É nesse sentido
que mostrámos a nossa disponibilidade para trabalhar na eventual possibilidade
de se instalar um centro de medicina tradicional. É uma proposta que ainda terá
de ser aprofundada, discutida e aprovada pelas partes”, disse.
A
cooperação com a China na área da saúde envolve também infra-estruturas. “A
China desde há muitos anos tem enviado equipas médicas, sobretudo na área da
cirurgia, ginecologia, obstetrícia para Cabo Verde, mas também ajuda nas
infra-estruturas, na construção de um bloco moderno pediátrico de um dos
principais hospitais de Cabo Verde”, explicou Arlindo Nascimento do Rosário.
“Digamos que tem sido uma cooperação muito forte no que diz respeito às
infra-estruturas, recursos humanos, e é algo que queremos aprofundar cada vez
mais” sem perder de vista as necessidades da medicina convencional.
Relativamente
ao que Cabo Verde oferece no âmbito desta cooperação, Arlindo Nascimento do
Rosário indicou que a relação com a China não se baseia no “eu dou-te isto e tu
dás-me aquilo”. “Tem sido uma relação baseada naquilo que a China propõe como
país que tem vindo a desenvolver-se. Acho que está dentro da sua política
apoiar e ajudar os países com maiores dificuldades. É evidente que se pergunta
o que é que Cabo Verde, um país tão pequeno, pode dar”, admitiu.
Porém,
destaca: “somos um país pequeno, evidentemente, mas oferecemos à China a possibilidade
de desenvolver outras relações e de mostrar ao mundo que há outros interesses
que não são apenas em termos económicos”.
Sistema de saúde universal
Outra
vertente em que o governo de Cabo Verde tem trabalhado tem a ver com melhorar o
índice de cobertura do sistema de saúde, actualmente em 63%. “Cabo Verde tem
dado passos importantes ao nível da cobertura universal. Entendemos essa
questão não só como a qualidade de acesso mas a universalidade e facilidade de
acesso. Cabo Verde tem um sistema de saúde com uma rede de infra-estruturas
muito importantes distribuídas em todas as ilhas. Estamos a aumentar também a
prestação de cuidados em termos de trabalhadores”, salientou.
Além
disso, apontou Arlindo Nascimento do Rosário, o serviço nacional de saúde em
Cabo Verde é “tendencialmente gratuito”. “Ninguém fica sem cuidado por questões
económicas”, assegurou. De qualquer modo, há problemas a resolver. “Temos de
continuar a aumentar o número de trabalhadores, o rácio de médicos por
habitante, de enfermeiros por habitante. Também precisamos de continuar a
consolidar a resposta às situações que ainda carecem de evacuação, como
cancros”, reconheceu.
“Estamos
num país que está a passar por um processo de transição. Com o aumento da
esperança média de vida, também o volume de doenças tem tendência a aumentar,
não só do foro oncológico mas cardiovascular, metabólico como a diabetes. Tudo
isso traz desafios importantes que estamos a enfrentar”, sublinhou Arlindo
Nascimento do Rosário.
No
âmbito da ampliação da cobertura do sistema nacional de saúde, o principal
desafio tem a ver com a própria condição do país. “Cabo Verde é um país
constituído por ilhas que tem desafios importantes. Não conseguimos ter
hospitais em todas as ilhas. Temos um serviço diferenciado de prestação de
cuidados, com a sua complexidade, que termina nos dois hospitais centrais. Um
grande desafio porque é resultante da própria condição arquipelágica de Cabo
Verde são as evacuações inter-ilhas”.
Outra
questão premente está relacionada com as doenças crónicas como insuficiências
renais terminais e situações de hemodiálise. “O nosso grande desafio são as
doenças crónicas que têm vindo a aumentar”.
Arlindo
Nascimento do Rosário pretende também desenvolver a indústria farmacêutica
ligada à produção de medicamentos convencionais, não só para abastecimento da
demanda interna mas também “como forma de expandir para outros países”. “Existe
um mercado potencial que poderá ser explorado”, defendeu. Inês Almeida –
Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
Sem comentários:
Enviar um comentário