Na cidade chinesa de Dongguan, 300 cientistas trabalham
num dos raros aceleradores de partículas mundiais, cuja missão pode resumir o
sonho de Pequim para a China e para a mega metrópole mundial de comércio livre,
anunciada para 2030
O
China Spallation Neutron Source (CSNS), sediado numa das cidades da anunciada
mega metrópole mundial, baptizada de Grande Baía, tem como caderno de encargos
três dos objectivos reiteradamente assumidos por Pequim: a segurança nacional,
o desenvolvimento científico e a promoção da tecnologia de ponta, como
aceleradores da economia.
Aquele
que é o primeiro acelerador de partículas de grande escala e de alta potência a
ser construído na China – fruto de um investimento de quase 191 milhões de
euros -, começou a operar em 2018. É recente, mas já se pensa na sua expansão,
explicou aos jornalistas um dos cientistas responsáveis, Yu Bao, numa visita a
cidades da Grande Baía organizada pelo Gabinete de Ligação do Governo Central
em Macau.
Na
província chinesa de Guangdong, que oferece uma das cidades ao projecto da
Grande Baía, a ambição de Pequim traduz-se na aposta na inovação tecnológica,
no investimento de larga escala em acessibilidades (aeroportos, comboios de
alta velocidade e pontes de dimensões únicas no mundo), bem como na promoção
das energias renováveis, num país cujo modelo de desenvolvimento económico
sacrificou os índices ambientais da esmagadora maioria das principais cidades
chinesas.
Em
Zhongshan, um porta-voz da entidade que está a gerir a construção de uma das
maiores pontes do mundo explicou os detalhes técnicos de um projecto estimado
em mais de quatro mil milhões de euros que vai ligar aquela cidade à vizinha
Shenzhen, localizada na fronteira com Hong Kong, sede das principais firmas
tecnológicas do país, como é o caso do grupo de telecomunicações Huawei.
O
projecto, cujo custo está estimado em mais de quatro mil milhões de euros e
deverá estar concluído em 2024, obrigou à criação de uma ilha artificial e
prevê um túnel atravessado por oito faixas de rodagem, único no mundo.
A
ponte vai crescer um pouco mais a norte daquela que é a maior travessia
marítima do mundo, inaugurada em Outubro e que custou cerca de dois mil milhões
de euros, que liga já a província de Guangdong, através de Zhuhai, Macau e Hong
Kong.
No
início do ano, foi anunciada uma outra travessia entre as duas
infra-estruturas. As autoridades tornaram público o relançamento de um plano
para ligar as duas zonas económicas especiais chinesas de Zhuhai e Shenzhen
que, além da travessia automóvel, vai garantir uma linha ferroviária de alta
velocidade.
Ainda
em Zhongshan, está localizado um centro de operações da Mingyang Smart Energy,
uma fabricante de turbinas eólicas e fornecedora de soluções integradas de
energia limpa que ocupa o 37.º lugar entre as 500 maiores empresas mundiais de
novas energias e o primeiro lugar no ‘ranking’ de inovação eólica em alto mar.
Este é mais um exemplo dado pelas autoridades chinesas para legitimar a ideia
de que é compatível o compromisso de viragem ambiental no país e o
desenvolvimento da economia, tanto mais porque a empresa é responsável por uma
receita anual na ordem dos 12,7 mil milhões de euros.
As
autoridades chinesas continuam a enfatizar indicadores gerais do desempenho
económico da região e no sucesso empresarial num mercado de grande escala que
vai resistindo à guerra comercial com os Estados Unidos.
Em
Cantão, aquele que é o quinto fabricante de automóveis da China, o Guangzhou
Automobile Group, fez questão de destacar a sua aposta na produção de carros
eléctricos, em sublinhar as suas parcerias internacionais e a aposta na
inovação tecnológica para crescer no mercado mundial, tendo apresentado no
último ano fiscal um lucro na ordem dos 1,5 mil milhões de euros, empregando
quase 100 mil funcionários.
No
primeiro dos três dias de visita, uma responsável local pela comissão de
promoção da Grande Baía expressou a vontade de Cantão “aprender” com Macau e
Hong Kong a desenvolver a economia num “mercado aberto”, um desejo para aquela
que é ‘somente’ a quarta maior cidade chinesa, com uma população com cerca de
15 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) de 290 mil milhões de
euros, a registar um crescimento a rondar os 7% na primeira metade deste ano.
No
final da visita, o vice-director-geral do Departamento de Publicidade e Cultura
do Gabinete de Ligação do Governo Popular Central em Macau, Yin Rutao,
coincidiu na análise sobre uma das mais-valias do território junto das outras
economias que integram o projecto regional: a experiência enquanto economia
assente num mercado livre.
A
escala da Grande Baía, que junta Hong Kong, Macau e nove cidades chinesas
(Cantão, Dongguan, Foshan, Huizhou, Jiangmen, Shenzhen, Zhaoqing, Zhongshan e
Zhuhai), é sempre caraterizada pelos analistas como impressionante: tem um PIB
de 1,2 biliões de euros, maior que o da Austrália, Indonésia e México, países
que integram o G20, e uma população de 70 milhões, superior a nações como
França, Reino Unido ou Itália. João Carreira – Macau “Agência Lusa” in “Ponto
Final”
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