Uma exposição antológica da obra de Miguel Palma, com 54
peças que refletem o trabalho de um artista que vive "em sobressalto"
com a modernidade, está em exposição no Museu Coleção Berardo, em Lisboa
A
mostra intitula-se "Miguel Palma. (Ainda) O Desconforto Moderno", tem
curadoria de Miguel von Hafe Pérez, e apresenta uma panorâmica dos últimos
trinta anos do trabalho de um artista fascinado pelo mundo das tecnologias, e
pelo seu impacto na vida quotidiana e na natureza.
Durante
uma visita guiada aos jornalistas, na presença do curador e da diretora
artística do museu, Rita Lougares, questionado pela agência Lusa sobre o título
da exposição, Miguel Palma justificou: "Eu muitas vezes sinto-me
desconfortável, até como artista, e não tem a ver com não gostar, mas com uma
inquietação e sobressalto".
"Esse
sobressalto é o resultado de uma urgência que eu sempre senti no trabalho, que
não é o de fazer por fazer. Tem a ver com uma vigilância. Eu sinto-me sempre
não obrigado, mas orientado para essa vontade de construir algo porque é
importante, porque tem de ser feito, e muitos dos meus trabalhos passam por
essa posição do tudo ou nada", explicou.
Com
séculos e séculos de avanço das tecnologias, que continuam a surgir, Miguel Palma
continua também a sentir-se "desconfortável", e a criar: "Se o
mundo fosse confortável, eu não faria arte", justificou.
A
obra de Miguel Palma respira movimento, engenharia, mecânica, e existe através
de engenhos, maquetes, aparelhos nascidos do mundo automóvel, da aeronáutica ou
navegação.
Para
o espaço desta exposição criou especificamente uma nova obra - "A
Montanha" (2019) - que teve apoio à produção do Museu Coleção Berardo.
Rita
Lougares disse, na visita, que o Museu Berardo pretende investir mais no apoio
à produção de obras de arte contemporânea portuguesa, porque "a Coleção
Berardo é bastante internacional, e não tem muitos artistas portugueses".
Miguel
Palma, nascido em 1964, em Lisboa, foi descrito pelo curador Miguel von Hafe
Pérez como "um artista que se apropria das narrativas de uma modernidade
em permanente questionamento para melhor refletir sobre o presente".
A
arquitetura, a natureza, e a tecnologia em geral estão presentes em obras
icónicas como "Engenho" (1993), um veículo que criou e que levou de
Lisboa para Serralves escoltado pela polícia, como recordou o curador.
Também
é possível ver o "Googleplane", um avião em escala natural
pertencente à Coleção Berardo, que volta a estar suspenso no espaço expositivo,
e também diversas maquetes e uma série de pintura criadas com a poluição de um
dos seus engenhos.
"A
criatividade do artista desdobra-se numa pulsão construtiva que convoca e
problematiza conceitos como o progresso, a degenerescência, a velocidade e o
fracasso", apontou Hafe Pérez.
A
exposição apresenta uma seleção antológica do trabalho de Miguel Palma que
cobre um arco cronológico de trinta anos, e transita entre a escultura, o
vídeo, a instalação, o desenho e a performance.
Além
de obras de escala monumental nunca antes apresentadas em Portugal, como é o
caso de "Cinq temps" (2016), produzida para o MuCEM, em Marselha, o
artista criou a "Montanha" (2019), em ferro, que expele neve, e será
agora apresentada pela primeira vez, no Museu Berardo, no Centro Cultural de
Belém.
Aquilo
que Miguel Palma propõe em forma de obras de arte "são considerações de uma
espessura existencial absolutamente única".
"A
sua curiosidade e o modo como articula diferentes horizontes do saber sublinham
a capacidade de nos reinventarmos, dissimulando a inexorável lei maior, que é a
da vitória do tempo sobre a finitude humana", sublinha o curador sobre um
artista que tem a sua obra representada nas instituições de referência.
O
Centro Galego de Arte Contemporânea (CGAC), com sede em Santiago de Compostela,
Galiza, Espanha, recebeu, em 2015, uma antológica do artista.
A
exposição ficará patente até 19 de janeiro de 2020. In “RTP” –
Portugal com “Lusa”
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