Os
compradores internacionais valorizam atualmente o calçado português em 28%,
quando em 2005 a referência à origem Portugal desvalorizava imediatamente o
produto em 30%, segundo um estudo da Católica Porto Business School.
Elaborado
para determinar como o local de produção influencia a percepção de valor do
produto por parte dos clientes estrangeiros, o estudo baseia-se numa prova cega
realizada em fevereiro deste ano junto de 80 retalhistas e importadores
estrangeiros durante a feira internacional de calçado Micam, em Milão, Itália.
Conforme
explicou Susana Costa e Silva, da Católica Porto Business School, durante a
apresentação do estudo que decorreu dia 6 no Porto, do trabalho resultou que,
face a um par de sapatos avaliado em 100 euros “a olho nu”, os compradores
avaliam-no em 128 euros (+28%) quando sabem que é ‘made in [fabricado em] Portugal’.
Em
2005, pelo contrário, os compradores desvalorizavam o calçado português em 30%,
ou seja, só estavam dispostos a pagar 70 euros pelo produto após verem a
etiqueta de origem, enquanto em 2015 uma prova cega semelhante apontava para um
défice de imagem do ‘made in Portugal’ na ordem dos 18%.
Comparando
a valorização do calçado português face ao italiano, a investigadora da Católica
referiu que “quando não se mostra a origem as pessoas tendem a ligeiramente a
preferir o calçado nacional”, mas quando é revelado o país produtor “há um
diferencial de 19% em que o calçado italiano é mais valorizado que o
português”, apesar de este ‘gap’ ter
vindo a diminuir.
De
acordo com o estudo da Católica Porto Business School, a qualidade do produto,
o ‘know how’ (conhecimento) no
processo produtivo e a qualificação de mão de obra são os principais “atributos
que [os compradores internacionais] espontaneamente atribuem ao calçado
português”.
Salientando
que, “pela primeira vez na história, o público internacional está disponível
para pagar mais pelo calçado português”, o diretor de comunicação da Associação
Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus
Sucedâneos (APICCAPS) explica esta valorização com o investimento de 6,4
milhões de euros feito em promoção externa do setor nos últimos dez anos e que
se traduziu num aumento superior a 47% (equivalente a 700 milhões de euros) das
exportações, para cerca de 1,9 mil milhões de euros.
“Por
cada 14 cêntimos que investimos conseguimos alavancar 100 euros de exportação”,
destacou Paulo Gonçalves, avançando que até ao final de 2020 o investimento
previsto para promoção de empresas e marcas é de mais dois milhões de euros.
Como
principais desafios de futuro para a indústria portuguesa do calçado, o
secretário de Estado da Internacionalização – que esteve presente na sessão de
apresentação do estudo – apontou a aposta no ‘e commerce’ (comércio eletrônico), com a consequente alteração da
estrutura dos canais de distribuição, as questões da sustentabilidade e as
colocadas pelas alterações climáticas, pelos efeitos que têm na moda e no
momento de compra dos produtos.
“Estes
são elementos de gestão de grande complexidade para os próximos anos”,
considerou Eurico Brilhante Dias, salientando que o setor português do calçado
é um exemplo de “trabalho muito bem feito” ao nível da “sofisticação” do
negócio e da “construção de uma economia com maior valor acrescentado”.
Para
o presidente executivo da APICCAPS, Manuel Carlos, a indústria portuguesa de
calçado distingue-se dos principais concorrentes por “competências” cada vez
mais valorizadas como a produção de pequenas séries, a resposta rápida e a
proximidade dos mercados.
“Quanto
à percepção da marca temos perspetivas que não podemos quantificar, mas que são
muito boas. Temos um histórico de saber fazer que será um dos ativos que vamos
aprofundar muito”, avançou. In “Mundo Lusíada” – Brasil com “Lusa”
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