Ataques de grupos armados no norte do país africano deslocaram 100 mil pessoas, 1 milhão precisam de assistência humanitária para sobreviver, numa área que concentra recursos naturais, tem sido alvo de extremistas há vários anos
Em
Moçambique, o deslocamento é a consequência recente de uma série de emergências
sobrepostas, incluindo violência armada, choques climáticos, surtos de doenças
e uma grave escassez de recursos.
Desde
janeiro, mais de 95 mil pessoas fugiram da violência em Cabo Delgado e o acesso
humanitário está a tornar-se cada vez mais frágil.
Insegurança
Dados
do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários,
Ocha, citam que ataques recentes de grupos armados entre 20 e 28 de julho
provocaram o deslocamento de milhares de pessoas nos distritos de Chiúre,
Ancuabe e Muidumbe.
Paola
Emerson é chefe Ocha em Moçambique. De Cabo Delgado, ela relata à ONU News a
situação na província.
“Neste
momento quase 50 mil pessoas foram deslocadas, em cerca de uma semana, na
sequência de ataques em Chiúre, onde mais de 42 mil pessoas foram deslocadas,
mas também em Ancuabe e em Muidumbe. As pessoas que fugiram das suas casas
precisam de todo o tipo de ajuda para recuperar desta situação, isso inclui
assistência básica humanitária que vai desde comida, lonas e proteção.”
Crianças separadas das famílias
A
insegurança, em alguns distritos de Cabo Delgado, persiste e as pessoas em
movimento frequente não têm documentação civil.
Há
relatos que Chiúre foi a zona mais atingida, com mais de 42 mil pessoas
desalojadas, deste número mais da metade são crianças.
A
chefe do Escritório das Nações Unidas, Ocha, afirma que a falta de documentação
pode afetar a pessoas deslocadas de se movimentarem livremente, e terem acesso
a serviços básicos para manterem os seus meios de subsistência.
“Muitos
perderam os seus documentos de identificação e isso afeta os serviços de base,
uma situação preocupante sobretudo em Chiúre é que mais de 60% de deslocados
são crianças e há indicações de muitas crianças estão separadas das suas
famílias.”
Parceria mútua
As
autoridades moçambicanas estão em prontidão e apoiam as pessoas deslocadas,
muitas delas inicialmente recebidas na sede Chiúre e posteriormente
encaminhadas para lugares seguros.
As
Nações Unidas e parceiros trabalham em coordenação com o governo para apoiar
quem precisa, segundo a chefe do Ocha em Moçambique.
“Em
termos das Nações Unidas e ONG, imediatamente começaram a dar apoio com um pacote
básico de assistência que inclui comida para umas semanas, algumas lonas, bens
de higiene básica e bens não alimentares tal como panelas, cobertores, isto
numa situação em que o financiamento humanitário está muito baixo, cerca de 20%
foi providenciado até esta altura neste ano que levou a cortes maciços na
assistência que está a ser dada na província de Cabo Delgado.”
De
acordo com a Organização Internacional para Migrações, OIM, o número de
famílias deslocadas quase triplicou numa semana, atingindo 444 domicílios ou 1946
pessoas incluindo mais de 1,2 mil crianças.
Financiamento urgente
A
violência forçou os moradores da aldeia de Nanduli a procurar refúgio em Chiote
e Ancuabe Sede. Em Muidumbe, os grupos armados não declarados incendiaram casas
na aldeia de Magaia e perto de Mungue.
Quase
500 famílias fugiram para locais de deslocamento próximos, onde o acesso
humanitário permanece limitado.
Para
o Ocha, há necessidade de financiamento urgente para atender às crescentes
necessidades humanitárias, que permanecem agudas e generalizadas.
“É
necessário para o futuro manter esta capacidade resposta rápida num contexto em
que continua a haver deslocamento internos, neste ano só, cerca de 100 mil
pessoas já foram deslocadas e em que há que ainda a necessidade de apoiar mais
de 1 milhão de pessoas que precisam desesperadamente assistência humanitária
para sobreviverem.”
Até
julho, apenas 19% do Plano de Resposta Humanitária de Moçambique para 2025
havia sido financiado.
Dos
US$ 352 milhões solicitados, apenas US$ 66 milhões foram recebidos, forçando as
agências a reduzir as suas metas de resposta em mais de 70%. Atualmente, elas
visam ajudar apenas 317 mil pessoas, abaixo da meta de 1,1 milhão no início do
ano.
Sem comentários:
Enviar um comentário