O município de Cascais acolhe durante o mês de agosto o XII Encontro de Jovens Lusos, iniciativa promovida pela associação Cap Magellan, que ao longo de seis dias reúne cerca de meia centena de jovens com raízes portuguesas numa iniciativa que este ano tem como tema “A ação climática e o compromisso cívico dos jovens: ferramentas para um futuro sustentável”
A
sessão de abertura da presente edição teve lugar esta quinta-feira, 7, no
Centro Cultural de Cascais. Ao púlpito dirigiram-se o presidente da Câmara
local, Carlos Carreiras; o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas,
Emídio Sousa; e também a dirigente da associação Cap Magellan, Lurdes Abreu.
No
rescaldo desta cerimónia oficial, Lurdes Abreu destacou ao Bom Dia que a grande
novidade deste ano prende-se com o facto de o encontro se ter agora aberto a
todos os jovens lusófonos e lusodescendentes e falantes de português residentes
na Europa.
“Esta
é a XII edição, agora chamada Encontro de Jovens ‘Lusos’ – e não
‘Lusodescendentes’ – porque é um evento para todos os que falam a língua. Por
exemplo, temos um jovem do Peru que vive na Europa e que fala português, e é
por isso que tem cá o seu lugar”, sublinhou.
A
alteração da denominação de um evento com mais de uma década de existência tem
também uma justificação ideológica, segundo Lurdes Abreu. Nas palavras da
presidente desta associação, “não há como definir o que é um lusodescendente.
Podíamos ter aqui uma dissertação de quatro horas que não chegaríamos a uma
resposta seria correta”.
Desta
forma, Lurdes Abreu considera importante “abraçar” todos os falantes da língua
de Camões que queiram conhecer a realidade em Portugal e dar o seu contributo
sempre que possível.
Este
ano, a Cap Magellan voltou a organizar o Encontro de Jovens Lusos em Cascais,
cidade que já conhece bem desde 2018. Naquele ano, foi o concelho escolhido por
ser a Capital da Juventude. Em 2025, a seleção esteve, em muito, ligada à
temática que vai ser abordada ao longo da próxima semana.
“Faz
todo o sentido discutirmos este tema ligado ao ambiente aqui. É uma cidade
virada para o mar e para a sustentabilidade, uma cidade que faz muita coisa
pelo ambiente”, justificou.
Foram,
no total, 50 os jovens que viajaram para Portugal ao abrigo deste projeto,
financiado pelo programa Erasmus+ e que também conta com o apoio do Município
de Cascais, do Instituto Português da Juventude (IPDJ), da Fundação António
Pargana e da Fundação Inatel.
“Muitas vezes ouvimos os jovens aqui em Portugal, mas
porque é que não vamos conhecer a opinião dos jovens lá fora?”
Para
a dirigente da maior associação de jovens lusodescendentes do mundo, a opinião
de quem vive além-fronteiras e tão importante quanto a de quem mora no país.
“Estranhamos
cada vez mais que as comunidades virem as costas a Portugal. É o momento de
trazermos as comunidades de volta e de mostrarmos que as valorizamos. A Cap
Magellan já faz isso há 12 edições. Queremos que a juventude participe, porque
se dizemos que os jovens são os líderes do futuro, temos que os ouvir desde já.
É o que vão poder fazer neste encontro, com várias atividades associadas à
sustentabilidade”, vincou.
Instada
a comentar as palavras do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas,
Emídio Sousa, na sessão de abertura do Encontro, Lurdes Abreu aproveitou para
tecer fortes críticas ao estado do ensino da língua portuguesa no estrangeiro.
Minutos
antes, Emídio Sousa havia instado a meia centena de jovens presentes a falar
português em casa sempre que possível ou a procurar as escolas de língua
portuguesa ou a Rede de Ensino de Português no Estrangeiro.
Em
resposta, a dirigente da Cap Magellan disse entender “perfeitamente o desafio
lançado”, mas declarou não poder recriminar os portugueses das novas gerações
que não falam a língua por falta de oportunidade.
“Sou
uma antiga emigrante, estive lá fora, não posso colocar essa pressão de falar
perfeitamente português à terceira e à quarta geração. Eu falo bem português
por sorte. Os meus pais ensinaram-se a língua, é a minha língua materna, mas
nunca tive acesso ao ensino da língua portuguesa na escola. E este é o meu
caso, mas também de muitos jovens no estrangeiro. Por isso, os jovens que não
têm facilidade de falar português, respeito perfeitamente, não é uma escolha
deles. É um conjunto de circunstâncias”, afirmou perentória.
Em
seguida, apontou baterias aos países de acolhimento, dizendo que estes “também
têm uma parte da responsabilidade do declínio da valorização da língua
portuguesa”.
A
título de exemplo, deu a sua opinião sobre o país onde cresceu.
“Em
França o português ainda é visto como língua de imigração, não como uma língua
de trabalho e de futuro, e isto tem que mudar. França é um observador da CPLP
que não faz absolutamente nada para valorizar e desenvolver o ensino da língua
portuguesa”, rematou. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo
Sem comentários:
Enviar um comentário