Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Nações Unidas - Português lembra trabalho com a Organização em zonas de guerra e desastres

Pedro Matos é funcionário do Programa Alimentar Mundial há 17 anos. Antes de se tornar trabalhador humanitário, estava ligado à engenharia espacial. O Dia Mundial dos Trabalhadores Humanitários foi criado pela ONU em 2003 e celebra-se neste 19 de agosto


Antes de vestir o colete bege e de calçar as botas de campo para enfrentar furacões, guerras e campos de refugiados, Pedro Matos trabalhava no espaço.

Ligado à engenharia espacial, o português lidava com imagens de satélite e cartografia. Passava os dias a criar mapas para apoiar missões humanitárias, até que percebeu que não queria ficar atrás do ecrã, como ele próprio lembra.

Mapas e resposta

“A dada altura começou a não chegar. Eu não quero estar a fazer mapas para as outras pessoas irem fazer respostas humanitárias. Eu quero agarrar nesses mapas e ser eu a fazer a resposta.”

A decisão levou-o até ao Programa Alimentar Mundial, WFP, das Nações Unidas, onde primeiro desenvolveu mapas já no terreno e depois passou a coordenar operações de emergência do WFP.

Desde então, já passou por dezenas de países e esteve no epicentro de crises como o furacão Idai em Moçambique, o início da guerra na Ucrânia ou os campos de refugiados Rohingya no Bangladesh.

Como responder a uma crise

Numa breve passagem por Lisboa, conversou com a ONU News e explicou que a coordenação numa emergência é como “mover um governo inteiro”, onde cada agência da ONU representa um “ministério” e a resposta só funciona quando todos chegam juntos para assegurar as quatro áreas essenciais numa resposta de crise: comida, abrigo, água e saúde.

Pedro Matos acaba de regressar de uma missão no Bangladesh, onde esteve em resposta em Cox’s Bazar, o maior campo de refugiados do mundo, com 700 mil pessoas.

Já lá tinha estado em 2018, no auge da crise, quando “um milhão de pessoas atravessaram a fronteira num mês”. Hoje, apesar de continuarem num “limbo”, aponta melhorias como casas e estradas mais resistentes às monções, fogões a gás e reflorestação, como explicou à ONU News.

“Conseguimos dar condições melhores para as pessoas viverem neste limbo com um bocadinho mais de conforto”.

O valor de um Prémio Nobel

Apesar das dificuldades e dos riscos, Pedro Matos não tem dúvidas sobre a lição mais importante que aprendeu. “As pessoas são essencialmente boas. Quando confrontados com a proximidade da tragédia, as pessoas querem ajudar o próximo, mesmo que o próximo seja muito diferente.”

Em 2020, o WFP foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz, reconhecimento que Pedro Matos recebeu com humildade.

“O nosso trabalho é muito invisível, apesar de alimentarmos 120 milhões de pessoas todos os dias. Deu-nos um palco para podermos alertar para crises como o Congo, o Mianmar, o Sudão ou Gaza, que muitas vezes passam despercebidas”.

O português alerta para as muitas crises que saíram das manchetes, mas continuam ativas. O seu trabalho é também dar-lhes voz. ONU News – Nações Unidas


Sem comentários:

Enviar um comentário