Pedro Matos é funcionário do Programa Alimentar Mundial há 17 anos. Antes de se tornar trabalhador humanitário, estava ligado à engenharia espacial. O Dia Mundial dos Trabalhadores Humanitários foi criado pela ONU em 2003 e celebra-se neste 19 de agosto
Antes
de vestir o colete bege e de calçar as botas de campo para enfrentar furacões,
guerras e campos de refugiados, Pedro Matos trabalhava no espaço.
Ligado
à engenharia espacial, o português lidava com imagens de satélite e
cartografia. Passava os dias a criar mapas para apoiar missões humanitárias,
até que percebeu que não queria ficar atrás do ecrã, como ele próprio lembra.
Mapas e resposta
“A
dada altura começou a não chegar. Eu não quero estar a fazer mapas para as
outras pessoas irem fazer respostas humanitárias. Eu quero agarrar nesses mapas
e ser eu a fazer a resposta.”
A
decisão levou-o até ao Programa Alimentar Mundial, WFP,
das Nações Unidas, onde primeiro desenvolveu mapas já no terreno e depois
passou a coordenar operações de emergência do WFP.
Desde
então, já passou por dezenas de países e esteve no epicentro de crises como o
furacão Idai em Moçambique, o início da guerra na Ucrânia ou os campos de
refugiados Rohingya no Bangladesh.
Como responder a uma crise
Numa
breve passagem por Lisboa, conversou com a ONU News e explicou que a
coordenação numa emergência é como “mover um governo inteiro”, onde cada
agência da ONU representa um “ministério” e a resposta só funciona quando todos
chegam juntos para assegurar as quatro áreas essenciais numa resposta de crise:
comida, abrigo, água e saúde.
Pedro
Matos acaba de regressar de uma missão no Bangladesh, onde esteve em resposta
em Cox’s Bazar, o maior campo de refugiados do mundo, com 700 mil pessoas.
Já
lá tinha estado em 2018, no auge da crise, quando “um milhão de pessoas
atravessaram a fronteira num mês”. Hoje, apesar de continuarem num “limbo”,
aponta melhorias como casas e estradas mais resistentes às monções, fogões a
gás e reflorestação, como explicou à ONU News.
“Conseguimos
dar condições melhores para as pessoas viverem neste limbo com um bocadinho
mais de conforto”.
O valor de um Prémio Nobel
Apesar
das dificuldades e dos riscos, Pedro Matos não tem dúvidas sobre a lição mais
importante que aprendeu. “As pessoas são essencialmente boas. Quando
confrontados com a proximidade da tragédia, as pessoas querem ajudar o próximo,
mesmo que o próximo seja muito diferente.”
Em
2020, o WFP foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz, reconhecimento que Pedro
Matos recebeu com humildade.
“O
nosso trabalho é muito invisível, apesar de alimentarmos 120 milhões de pessoas
todos os dias. Deu-nos um palco para podermos alertar para crises como o Congo,
o Mianmar, o Sudão ou Gaza, que muitas vezes passam despercebidas”.
O
português alerta para as muitas crises que saíram das manchetes, mas continuam
ativas. O seu trabalho é também dar-lhes voz. ONU News – Nações Unidas
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