O barítono português Jorge Chaminé, nascido no Porto em 1956 e radicado há vários anos em França, onde é presidente-fundador do Centro Europeu de Música de Bougival, partilhou nas suas redes sociais uma carta aberta com o título “Para onde vai Portugal?”, escrita a 14 de agosto, no Porto
O
texto surge dias após a morte do pai do músico, quase centenário, que, segundo
Jorge Chaminé, partiu com plena consciência do mundo em que vivia. “Na véspera
da sua morte, perguntou-me com os olhos cheios de lucidez e gravidade: ‘Para
onde vai Portugal?’”, recorda.
Na
carta, o artista evoca essa interrogação como um legado e um apelo. Num tom de
reflexão crítica, o barítono denuncia problemas estruturais do país, apontando
para a falta de coordenação nos incêndios, a crise nas urgências hospitalares,
a emigração dos jovens e o abandono da cultura. Segundo ele, Portugal
“atravessa algo mais subtil e mais perigoso: a erosão lenta do seu tecido
cívico, a desvalorização do pensamento, a desertificação da escuta e da
compaixão.”.
O
barítono estende ainda a sua reflexão ao plano global, questionando o rumo do
mundo perante as alterações climáticas e a persistência de lógicas políticas e
económicas que considera cegas: “Para onde vai a nossa Casa comum, este planeta
azul que se incendeia, se asfixia, se afoga – e que continua a ser governado
por lógicas de acumulação e cegueira?”
Jorge
Chaminé sublinha que a carta
não deve ser lida como uma acusação, mas antes como um apelo à consciência, à
lucidez e à coragem de recomeçar. Dirige-se a cidadãos, artistas, professores,
profissionais de saúde e políticos, pedindo que não deixem morrer “o que ainda
pulsa” em Portugal.
“Não
é tarde. Mas é urgente”, conclui o músico, afirmando a sua fidelidade a um país
de “dignidade, beleza, resistência e esperança”. In “Bom dia
Europa” - Luxemburgo
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