Toda
vez que um jornalista é demitido, vem logo a pergunta - foi por razão política?
Estudante de jornalismo aspirando chegar a um dos grandes órgãos de informação
da chamada mídia hegemônica, se não tiver muito jogo de cintura, pode viver
essa situação.
Essa
instabilidade é mais frequente quando a situação política do país vive um
momento de transição como aconteceu no Brasil com o Golpe de 1964. Neste caso,
não havia garantia para jornalista carimbado como janguista ou favorável às
reformas de base de Goulart. Teria muita sorte se, como o hoje nonagenário e na
ativa Jânio de Freitas, trabalhasse nessa época na Última Hora do Samuel
Wainer, jornal que na linguagem atual, poderia ser definido como populista de
esquerda.
Nos
dias de hoje, com a polarização atual, pode haver demissão por questão de ordem
econômica, por renovação da equipe ou mesmo demissão voluntária, provocada por
suspeita de tendência política diferente do pensar da família ou do grupo
proprietário do órgão de informação, seja jornal, televisão, revista ou canal.
E
aqui chegamos à nossa curiosidade - qual teria sido a razão da demissão da
colega jornalista Daniela Lima, dois anos depois de ter sido contratada? A
GloboNews explica com poucas palavras: a demissão ocorreu por conta do
"movimento permanente de renovação do Canal". Fica uma pergunta: as
renovações na GloboNews são feitas a cada dois anos?
Ou
a demissão foi por outro motivo? Vale a pena observar a opinião de alguns
colegas. Mas antes, é bom fazer uma rápida busca pela IA que, sem preocupação
política, aceita a versão patronal de uma grande reformulação nos 30 anos do
GloboNews e, indiscreta, fala num salário de 20 mil reais, pequeno se
convertido para a moeda europeia, equivalente ao salário mínimo suíço. Daniela
tinha o comando do programa matinal Conexão Globo News.
Álvaro
Borba, ex-Meteoro agora Arvro,
dedicou, no seu canal Youtube, um vídeo à demissão de Daniela Lima, informando
que a contratação, há dois anos, da jornalista tinha sido, segundo GloboNews
para renovar seus quadros antes da comemoração dos 30 anos do programa, no
próximo ano. Mas sua demissão dia 25 de agosto significa que ela não estará na
festa.
Na
nota que publicou, Daniela não deu nenhuma pista quanto ao seu desligamento -
"depois de dois anos, deixo a GloboNews com a sensação de missão cumprida,
cabeça erguida, sedenta pelos próximos desafios. Viva o novo". Na
linguagem do Linkedin, isso significa estar procurando emprego.
Daniela
não foi a única fora da Globo, houve também a Eliane Cantanhêde e Mauro
Paulino. Como isso aumentou a curiosidade, a Globo soltou um comunicado:
"Eliane Cantanhêde, Daniela Lima e Mauro Paulino não integram mais o time
da GloboNews, que agradece a eles a valiosa parceria na apresentação e análise
dos importantes acontecimentos".
Arvro
conta que a direita passou a ver na Daniela uma espécie de porta-voz da Suprema
Corte, o STF, e mostrou a alegria do advogado Delton Dallagnol e da comemoração
do canal Auriverde com a demissão da jornalista. Daniela logo passou a ser um
alvo preferido dos bolsonaristas e o próprio Bolsonaro, antes mesmo da demissão
da Daniela, já havia a ela se referido com chacota ao ouvir um de seus
comentários. Até Eduardo Bolsonaro
comemorou no Texas a demissão de Daniela dizendo num de seus delírios "a
família Marinho demitiu Daniela com medo de sofrer sanções pela Lei
Magnitsky". Dallagnol especulou sobre uma mudança da Globo com relação ao
STF por pressão de Trump.
No
canal Meteoro, Sophia
La Banca fala da cota minimamente progressista na mídia
hegemônica citando Flávia Oliveira na GloboNews, Tiago Amparo, na Folha,
Sakamoto no Uol, e lembra que a proximidade das eleições e a recuperação de
Lula depois dos ataques do Trump parece fazer com que essa cota de
progressistas possa ser reduzida.
A
observação parece procedente e pode ser tomada como um prenúncio de maus
acontecimentos diante do chamado motim dos deputados e senadores bolsonaristas,
que se sentem apoiados por Trump e representados nos EUA pelo deputado federal
licenciado Eduardo Bolsonaro. Depois de terem atacado e saqueado a sede do
Executivo, Legislativo e Judiciário, há dois anos, os líderes bolsonaristas
queriam agora, com o chamado motim, paralisar o Congresso para impor uma
anistia e uma intervenção no STF, esperando receber apoio de Trump para
provocar o Golpe? Felizmente Hugo Motta controlou o motim!
Especulações
à parte, não se pode esquecer a primeira tentativa de Golpe de Trump nos EUA
para falsear as eleições de meio termo no Texas, com uma lei dividindo as
atuais 38 circunscrições e permitindo ao Texas ter mais 5 deputados trumpistas
no congresso em 2026. Diante dessa jogada política, os deputados democratas decidiram não
dar quorum para a votação legal e fugiram para os Estados de Illinois e Nova
York. Isso criou um clima de tensão e o governador trumpista do Texas promete
cassar os mandatos dos democratas, já que não pode prendê-los, ameaça
considerada legalmente impossível.
Esse
clima de pré-instabilidade democrática favorecendo o fortalecimento do método
Trump de governo já é levado a sério pela GloboNews como dá a entender Eduardo
Bolsonaro?
De
acordo com o site 247, a demissão de Daniela Lima foi depois de uma pesquisa da
Qauest, segundo a qual parte dos assinantes considerava de esquerda parte da
programação. Daniela era o principal alvo da crítica como progressista, por sua
postura em análises políticas e postagens nas redes sociais com críticas a
ministros conservadores do STF. Não houve um comentário do 247 sobre os
resultados da pesquisa do Quaest ou crítica da GloboNews em favor de Daniela.
O
canal Diário do Centro do Mundo
assinala a demissão de Daniela mesmo a Globo sabendo "que ela sofria
ameaças e usava carro blindado". Citando Fábia Oliveira, do canal
Metrópoles, conta que a "vida de Daniela virou do avesso, nos últimos
anos, por ser alvo constante de bolsonaristas, que comemoraram abertamente sua
demissão".
O
DCM deixou a seguinte observação, endereçada aos jornalistas: "o episódio
expõe uma crescente vulnerabilidade de comunicadores em um ambiente político
radicalizado, em que vozes dissonantes, como a de Daniela Lima, viram
alvos". Rui Martins – Suíça
___________
Rui Martins é
jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador
do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas,
que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos
emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da
Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto
Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça,
correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
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