Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Macau - O mundo infinito de Cristina Leiria

Cristina Leiria, arquitecta e escultora portuguesa que idealizou o Centro Ecuménico Kun Iam, no NAPE, deu a conhecer alguns pormenores sobre este “espaço de silêncio”, como os pontos de energia, as representações da “terceira visão” e o “mundo infinito”. Durante uma visita guiada, sugeriu a concepção de “um grande espaço cultural”, ligando o Centro Ecuménico ao Centro de Ciência e ao Centro Cultural, lamentando que o Governo não ouça as suas propostas


O Centro Ecuménico Kun Iam, no NAPE, foi idealizado, no final dos anos 1990, pela arquitecta e escultora portuguesa Cristina Leiria. Inaugurado em Março de 1999, tem como objectivo ser um espaço de silêncio e meditação. Cristina Leiria organizou uma visita guiada pelo espaço e chamou a atenção para pormenores que podem passar despercebidos aos residentes e turistas que passam pelo local.

A arquitecta começou por salientar que o Centro Ecuménico “foi criado com uma única finalidade: proporcionar às pessoas de Macau e aos seus visitantes um espaço unicamente para o silêncio”.

No istmo de 60 metros que liga a Avenida Dr. Sun Yat-sen à ilha artificial onde está a estátua de Kun Iam, há uma flor de lótus desenhada nas pedras da calçada portuguesa, uma prenda deixada pelo calceteiro Zé Fernando a Cristina Leiria.

“Vamos entrar no mundo infinito, na nossa mente, na nossa imaginação”, avisou a escultora antes de prosseguir. “Descobri com este trabalho que a minha missão neste mundo era encontrar o infinito”, afirmou.

Entre os vários elementos que encontramos na calçada portuguesa do istmo que leva até ao Centro, há um desenho de um olho. É aqui que nos devemos “lembrar que o que vamos desenvolver são capacidades que não dependem do nosso tacto, é a terceira visão – é o grande olho”.

Mais à frente, há “pontos energéticos calculados por um professor de feng-shui e confirmados por um mestre de geometria sagrada” e um símbolo do infinito, para quem está de frente para a estátua, ou um “8”, para quem a vê de lado. Ao caminhar em direcção à estátua de Kun Iam, entramos num “mundo infinito”; quando, à saída do espaço, as pessoas se sentam no banco que está ao lado do símbolo, vêem o número da sorte, explicou.

No caminho para o Centro, a arquitecta alertou também para pormenores como as representações de um sol e de uma lua desenhados na pedra e as possíveis interpretações dos humores da deusa a cada passo.

Já no interior do espaço, ouvia-se Rão Kyao enquanto Cristina Leiria ia apontando para os painéis com pinturas, figuras, símbolos e textos relacionados com Lao Tse, Confúcio, Mêncio e Buda – tudo pintado em papel de arroz. A arquitecta destacou também a entrada da luz solar no espaço. Novamente da parte de fora do Centro Ecuménico mas nas traseiras da estátua, Cristina Leiria apontou para uma inscrição no pé da deusa onde se lê “Governo de Macau” e a sua assinatura.

Com 20 metros de altura e com um peso de 50 toneladas, a estátua de Kun Iam é composta por cerca de 50 peças fundidas em bronze. A base da estátua, em forma de flor de lótus, é constituída por uma Sala de Contemplação onde se pode repousar, ouvir música e ler. O andar inferior oferece uma Sala Polivalente com capacidade para 50 pessoas, que é dedicada a concertos, conferências, visionamento de filmes e outras actividades multiculturais como exposições de arte.

Cristina Leiria lembrou que, em 2014, apresentou vários projectos ao Governo da RAEM para dinamizar aquela zona, ligando tanto o Centro Cultural, como o Centro de Ciência ao Centro Ecuménico através de passagens superiores, “ligando tudo num grande espaço cultural”. No entanto, as suas propostas não têm sido ouvidas pelas autoridades, queixou-se.

A arquitecta tem tentado marcar reuniões com o Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, com a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, O Lam, e com a presidente do Instituto Cultural, Leong Wai Man: “Levo envelopes grandes para dar nas vistas desde Dezembro, mas eles não me recebem”. Contudo, não se sente ignorada. “Não, eles têm outras prioridades. Não me importo que me chamem chata, eu tenho esse objectivo”. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”


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