Cristina Leiria, arquitecta e escultora portuguesa que idealizou o Centro Ecuménico Kun Iam, no NAPE, deu a conhecer alguns pormenores sobre este “espaço de silêncio”, como os pontos de energia, as representações da “terceira visão” e o “mundo infinito”. Durante uma visita guiada, sugeriu a concepção de “um grande espaço cultural”, ligando o Centro Ecuménico ao Centro de Ciência e ao Centro Cultural, lamentando que o Governo não ouça as suas propostas
O
Centro Ecuménico Kun Iam, no NAPE, foi idealizado, no final dos anos 1990, pela
arquitecta e escultora portuguesa Cristina Leiria. Inaugurado em Março de 1999,
tem como objectivo ser um espaço de silêncio e meditação. Cristina Leiria
organizou uma visita guiada pelo espaço e chamou a atenção para pormenores que
podem passar despercebidos aos residentes e turistas que passam pelo local.
A
arquitecta começou por salientar que o Centro Ecuménico “foi criado com uma
única finalidade: proporcionar às pessoas de Macau e aos seus visitantes um
espaço unicamente para o silêncio”.
No
istmo de 60 metros que liga a Avenida Dr. Sun Yat-sen à ilha artificial onde
está a estátua de Kun Iam, há uma flor de lótus desenhada nas pedras da calçada
portuguesa, uma prenda deixada pelo calceteiro Zé Fernando a Cristina Leiria.
“Vamos
entrar no mundo infinito, na nossa mente, na nossa imaginação”, avisou a
escultora antes de prosseguir. “Descobri com este trabalho que a minha missão
neste mundo era encontrar o infinito”, afirmou.
Entre
os vários elementos que encontramos na calçada portuguesa do istmo que leva até
ao Centro, há um desenho de um olho. É aqui que nos devemos “lembrar que o que
vamos desenvolver são capacidades que não dependem do nosso tacto, é a terceira
visão – é o grande olho”.
Mais
à frente, há “pontos energéticos calculados por um professor de feng-shui e
confirmados por um mestre de geometria sagrada” e um símbolo do infinito, para
quem está de frente para a estátua, ou um “8”, para quem a vê de lado. Ao
caminhar em direcção à estátua de Kun Iam, entramos num “mundo infinito”;
quando, à saída do espaço, as pessoas se sentam no banco que está ao lado do
símbolo, vêem o número da sorte, explicou.
No
caminho para o Centro, a arquitecta alertou também para pormenores como as
representações de um sol e de uma lua desenhados na pedra e as possíveis
interpretações dos humores da deusa a cada passo.
Já
no interior do espaço, ouvia-se Rão Kyao enquanto Cristina Leiria ia apontando
para os painéis com pinturas, figuras, símbolos e textos relacionados com Lao
Tse, Confúcio, Mêncio e Buda – tudo pintado em papel de arroz. A arquitecta
destacou também a entrada da luz solar no espaço. Novamente da parte de fora do
Centro Ecuménico mas nas traseiras da estátua, Cristina Leiria apontou para uma
inscrição no pé da deusa onde se lê “Governo de Macau” e a sua assinatura.
Com
20 metros de altura e com um peso de 50 toneladas, a estátua de Kun Iam é
composta por cerca de 50 peças fundidas em bronze. A base da estátua, em forma
de flor de lótus, é constituída por uma Sala de Contemplação onde se pode
repousar, ouvir música e ler. O andar inferior oferece uma Sala Polivalente com
capacidade para 50 pessoas, que é dedicada a concertos, conferências,
visionamento de filmes e outras actividades multiculturais como exposições de
arte.
Cristina
Leiria lembrou que, em 2014, apresentou vários projectos ao Governo da RAEM
para dinamizar aquela zona, ligando tanto o Centro Cultural, como o Centro de
Ciência ao Centro Ecuménico através de passagens superiores, “ligando tudo num
grande espaço cultural”. No entanto, as suas propostas não têm sido ouvidas
pelas autoridades, queixou-se.
A
arquitecta tem tentado marcar reuniões com o Chefe do Executivo, Sam Hou Fai,
com a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, O Lam, e com a presidente
do Instituto Cultural, Leong Wai Man: “Levo envelopes grandes para dar nas
vistas desde Dezembro, mas eles não me recebem”. Contudo, não se sente
ignorada. “Não, eles têm outras prioridades. Não me importo que me chamem
chata, eu tenho esse objectivo”. André Vinagre – Macau in “Ponto
Final”
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