Ao pintar uma tela de 10 metros numa floresta, a artista plástica Christina Oiticica viu a natureza intervir. Primeiro passou-se ao achar que estava a atrapalhar a sua obra. Depois abraçou a ideia. A partir daí, a artista brasileira desenvolveu uma técnica em que permite que a natureza aja sobre as suas criações. O seu mais recente trabalho poderá ser conferido pelo público português. Depois de passar por 17 países, Christina Oiticica expõe pela primeira vez em Portugal com “Fauna e Flora”, uma mostra em parceria com o estadunidense Blake Jamieson. A coleção estará no Palácio Biester, na Luka Art Gallery, dentro do Palácio Biester, em Sintra, de 16 de julho a 17 de agosto.
“Conheço
Portugal quase todo. Já fui muitas vezes ao país. E há muito tempo que queria
ter uma exposição para o público português”, afirma Christina Oiticica, que é
casada com o escritor Paulo Coelho e lembra a primeira vez que o casal esteve
cá: “Foi para o lançamento de um livro do Paulo e ficamos hospedados num hotel
de Sintra. É uma cidade que gosto muito. Lembro que adorei o Palácio da Pena, o
Castelo dos Mouros… e também os doces portugueses. Amo todos”.
Quem
for à galeria de Sintra vai poder conferir o resultado de um processo de
intervenção da natureza que durou nove meses. Foi o tempo que os quadros feitos
em parceria por Christina e Blake ficaram enterrados em Monthey, em Suíça, onde
a brasileira vive. A técnica é chamada de Land Art, foi criada nos anos 1960 e
tem Christina como um de seus expoentes.
“A
nossa proposta foi deixar por nove meses porque é o período de uma gestação. E
depois disso, vimos a semente crescer sobre a nossa obra”, explica a artista.
Christina
iniciou, por acaso, essa bem-sucedida parceria com a natureza, que já a levou a
experiências em vários cantos do mundo. Ela já enterrou os seus quadros na
Amazônia, no Japão, na Índia, no Rio de Janeiro, numa aldeia indígena na Bahia
e chegou a ter mais de mais de 100 obras sob a terra no Caminho de Santiago de
Compostela.
“A
técnica começou em 2003, na França. Estávamos morando num hotel, eu tinha uma
exposição em Paris e precisava trabalhar. Era complicado trabalhar no quarto
porque sujava tudo, ficava com cheiro de tinta. E eu recebi uma tela de 10
metros e decidi pintar na floresta. Deixei o quadro por lá para secar e caía
uma folha, depois um inseto. Eu ficava estressada, achando que ia estragar o
quadro. Mas comecei a ver que a natureza estava interferindo na tela e resolvi
aceitar. Pensei: “Vou usar isso e começar a trabalhar em parceria com a
natureza”. Essa tela de 10 metros, que era um rolo, eu fui desenrolando a cada
estação ao longo de um ano e criei a obra que chamei de “Quatro estações”. Eu
ia pintando e enterrando. A partir daí, fui explorando outros espaços para
manter essa parceria com a natureza”, conta.
A
dupla com Blake Jamieson iniciou-se de forma inusitada: pelo Twitter. O artista
estadunidense é fã de Paulo Coelho e entrou em contato com Christina. Depois de
conversarem, surgiu uma conexão e a vontade de trabalharem juntos. Foi a
brasileira que sugeriu o tema “Fauna e Flora”. Christina ficou com a Fauna e
Blake, com a Flora.
“Serão
11 telas na exposição, sendo nove que foram desenterradas e uma delas,
transformada num quadro tríptico. O Blake me mandou as telas, eu incluí as
borboletas e enterramos em Monthey (Suíça). Fizemos uma performance, com a
participação de umas 50 pessoas, que vieram ajudar a colocar os quadros na
natureza. Eram amigos nossos que trabalham com arte. Depois, todos voltaram
para desenterrar as obras. Foi emocionante”, lembra Christina, que depois
trabalhou na preparação das obras que serão vistas pela primeira vez em
Portugal.
Sobre Christina Oiticica
Christina
Oiticica nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, em 1951. Mora em Genebra desde 2008.
Estudou na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro (1969-1975), Arquitetura no
Centro Universitário Bennett (1976-1980) e no Círculo de Belas Artes de Madrid
(1986 e 1990). Sempre trabalhou com os signos femininos: o alimento da vida, a
fertilidade, a espiritualidade materna e o universo feminino; a princípio ela
estava completamente inconsciente.
Em
2003, ela se mudou para a região dos Pirenéus, na França. Na altura preparava
uma exposição em Paris para a qual tinha de pintar grandes telas. Ela morava em
um hotel onde não havia lugar para montar um estúdio de artistas, então começou
a trabalhar em suas pinturas do lado de fora. Certa manhã, ela notou que as
folhas haviam caído e insetos pousaram nas pinturas à noite e se misturaram à
tinta, o que a agradou imensamente.
Ela
passou a desenvolver técnicas nas quais as pinturas são enterradas, deixadas em
leitos de rios, presas a árvores em florestas e assim por diante. Recentemente
ela tem trabalhado com sal e em 2022 deixou suas pinturas nas Salinas de
Marsala na Sicília. Depois de algum tempo ela usa um produto para parar os
efeitos da natureza em suas pinturas. Christina entendeu que o seu trabalho era
sair das paredes do Art Studio, tornou-se uma parceira da natureza e o seu
trabalho de alguma forma recebeu sua impressão digital por estar do lado de
fora.
Christina
acredita que existe uma parceria poderosa, pois quando ela retira uma obra da
natureza sempre há uma grande surpresa. Não importa onde ela o deixou, seja na
Amazônia no Brasil, nos Pirenéus na França, no Caminho de Santiago na Espanha,
no Caminho de Kumano no Japão ou em Assis na Itália, ela sempre fica emocionada
e encantada ao descobrir o que as mãos da natureza fizeram das suas obras de
arte originais.
Ela
acredita que é uma arte que não pode ser imitada e em cada caso a ação da água,
do vento e o mistério das pedras e do solo interagem de forma única em seus
trabalhos.
Ela
faz a sua parte no trabalho e após retornar à terra, completa um período de
gestação telúrica e então o trabalho é trazido de volta do ambiente natural.
Para
Christina, trabalhar este tema corresponde a trabalhar com o Sagrado, a Grande
Mãe e a Imaculada Conceição. A pintura é como uma semente que se transforma e
cresce.
O
produto final de tudo isso é algo muito importante para a artista. Para
Christina, não é apenas algo visual, mas toda uma energia envolvida nessa
transformação.
Sobre Blake Jamieson
Nascido
em San Francisco, Califórnia, em 1985, Blake Jamieson começa a destacar-se no
mundo da arte. Ele foi comparado a nomes como Shepard Fairey e Alec Monopoly.
Após a faculdade de Economia na UC Davis, Blake trabalhou em marketing digital
para uma variedade de clientes, desde empresas da Fortune 500 até startups.
No
seu aniversário de 30 anos, Blake decidiu que era hora de mudar. Em vez de
construir o sonho de outra pessoa, Blake decidiu seguir suas próprias paixões.
Em uma viagem de cinco semanas a Barcelona, Espanha, Blake inspirou-se na rica
história e cultura da arte de rua da cidade.
Em
2020, Blake começou a trabalhar com a Topps, redesenhando 20 cartões de
beisebol icônicos ao lado de 19 outros artistas para o Project 2020. Desde
então, ele lançou um conjunto solo, Topps 1951 de Blake Jamieson, e atualmente
está trabalhando no Project70.
A
arte de Blake está nas coleções de Howie Mandel, Gary Vaynerchuk, Rick Harrison
e mais de 250 atletas profissionais da NFL, NBA, MLS, MLB, NHL e PLL. Sua arte
também foi comprada para coleções particulares internacionais, inclusive na
Espanha, Canadá, Dubai, Austrália e Suíça. In “Mundo
Lusíada” - Brasil
Christina Oiticica – Fauna e Flora
Inauguração:
16 de julho
Encerramento:
17 de agosto
Local:
Palácio Biester – Luka Art Gallery
Morada:
Av. Almeida Garrett 1A, 2710-567 Sintra
Entrada
Livre
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