Quem gosta de fábulas, mistérios e lendas populares, certamente vai se envolver com o desfile da Unidos da Tijuca no próximo carnaval. A azul pavão e amarelo-ouro da zona norte do Rio de Janeiro conta com o enredo O Conto de Fados para encantar a Sapucaí e garantir o título, que não conquista desde 2014.
O
tema propõe uma viagem a Portugal para mostrar diversos aspectos da história do
país. Começa que o nome do país, seguindo a mitologia grega, era Ofiussa, a
Terra de Serpentes. “A gente vai contar a história de Portugal, antes mesmo de
[o nome] Portugal existir, mas baseada na tradução literal de Fado, que além de
ser um gênero musical lusitano, significa destino. Então, vamos contar o
destino de Portugal através de sua mitologia, das suas lendas e histórias que
ainda não foram contadas. Não é o Portugal que as pessoas possam imaginar com o
que já foi falado e mostrado. É mais baseado nas lendas”, explicou o
carnavalesco Alexandre Louzada à Agência Brasil.
Conforme
a lenda, segundo Louzada, uma rainha que era metade mulher, metade serpente,
morava em Ofiussa, península mitológica que Ulisses queria desbravar antes de
voltar da Odisseia. Ainda na lenda, a rainha se apaixonou pelo herói grego e
ergueu uma cidade em homenagem a ele, que inicialmente se chamou Olissippo,
depois Olisipo. Com o passar do tempo em uma corruptela da palavra se tornou
Lisboa, atualmente a capital de Portugal.
“Na
lenda, as sete colinas que circundam a cidade de Lisboa foram formadas pela ira
dela desse amor que sentiu pelo guerreiro e não foi correspondida, porque ele
abandona ela e vai embora”, disse o carnavalesco, acrescentando que tudo isso é
contado no enredo por meio da mitologia.
Mais
adiante no tempo, com os movimentos de migração de celtas e vikings começaram a
surgir vários povoados e, de acordo com o carnavalesco, o território passou a
ser cheio de magia. O enredo vai mostrar as influências do domínio romano e na
sequência dos mouros na cultura, nas artes, na ciência e na arquitetura local.
Uma
das influências da época, os azulejos são até hoje uma das características do
país. Conhecido anteriormente por Condado Portucalense, após a reconquista
cristã da Península Ibérica, passou a ter a denominação de Reino de Portugal.
Fazia
tempo que o enredo já estava na cabeça do carnavalesco por achar que a história
era bem o estilo da Tijuca, caso um dia fosse responsável pelo carnaval da
escola. “Não é uma visão romântica de Portugal. Na verdade, é uma grande
história que se está contando através das lendas e dos mitos. Para tudo em
Portugal existe uma história, até mesmo os doces portugueses. Pouca gente sabe
que os doces eram chamados de conventuais porque nasceram dentro dos conventos.
As freiras utilizavam a clara de ovo para engomar o hábito e com as gemas
passaram a produzir doces”, explicou.
As
revelações não param. Segundo Louzada, a flor que simboliza Portugal é a
alfazema, mas depois o cravo vermelho passou a ser emblemático com a revolução
do dia 25 de abril de 1974. Os grandes escritores como José Saramago e Fernando
Pessoa e a cantora Amália Rodrigues também serão lembrados. “Todas aquelas
pessoas que mostraram a alma portuguesa para o mundo”.
Para
demonstrar a devoção dos portugueses, a ligação do país com o catolicismo será
representada pelos santos como Nossa Senhora de Fátima, que arrasta milhões de
peregrinos do mundo inteiro para a sua basílica, onde teria ocorrido a sua
aparição. “Implicitamente ela representa o amor de mãe e a gente pede a
proteção dela à Tijuca que está homenageando a terra onde apareceu”, relatou,
acrescentando que galo de Barcelos, um dos símbolos do país, também tem origem
católica, por ser baseado em um milagre que teria ocorrido para provar a
inocência de um peregrino apontado de um crime.
Será
na parte das grandes navegações que a Tijuca terá um momento crítico, quando
são exaltadas e questionadas por poemas de Camões, apontando que elas trariam a
degradação de uma terra e a escravidão de um povo, toda a dor que isso causaria
por ganância. “A gente quando aborda as grandes navegações não é enaltecendo
simplesmente Portugal. É mostrando os dois lados da moeda. Essa história
precisa ser reescrita e reinventada, por toda a devastação que uma invasão
proporciona à terra”, disse.
Recepção
A
forma como foi recebido na escola, leva Louzada, que estava na Beija-Flor, a
ter muita expectativa para o carnaval. “Eu quero sinceramente devolver a
alegria à comunidade do Borel [morro onde originalmente havia a sede da
escola], resgatar a minha satisfação como carnavalesco com aquilo que posso
fazer e com o apoio que estou tendo aqui. Não me foi cobrado o campeonato, mas
lógico que isso não sai da minha cabeça. Estou com carnaval para isso. Só
espero acontecer”, afirmou.
Quanto
ao samba, Louzada prefere esperar a fase de apresentações dos concorrentes na
quadra, que começa em 3 de agosto, para avaliar. “Isso acontece em várias
escolas e a Tijuca não é diferente, os sambas se modificam muito quando vão
para a quadra, mas grandes parcerias estão na Tijuca e espero que o samba
vencedor vá se mostrando aos poucos na preferência da comunidade”. In “Mundo
Lusíada” – Brasil com “Agência
Brasil”
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