O jogo, o património, a gastronomia e a Língua Portuguesa estão entre as descrições mais utilizadas pelos visitantes para se referirem a Macau, concluiu um estudo que analisou a percepção dos turistas sobre a imagem da cidade. Segundo os investigadores, a maioria dos turistas usou adjectivos “autêntico”, “romântico”, “caótico”, “lotado”, “delicioso” e “luxuoso” para descrever a cidade, não deixando de apontar alguns problemas, desde o preço dos hotéis à sobrelotação das ruas
A
sobrecarga da zona histórica, o descompasso entre o número de turistas e a
capacidade espacial estão entre os problemas enfrentados por Macau, segundo um
estudo que analisou a percepção turística sobre a imagem da cidade. De acordo
com os investigadores Yin Jianqiang e Feng Jingzhao, da Faculdade de
Humanidades e Artes da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, Wu
Ruochan, da Faculdade de Artes da Universidade de Arte e Design de Shandong, e Jia
Mengyan, da Faculdade Jiyang da Universidade A&F de Zhejiang, “a percepção
dos turistas sobre a imagem da cidade de Macau permanece principalmente no
nível intuitivo e superficial, centrando-se em aspectos como ‘jogo’,
‘património’, ‘comida’ e ‘língua portuguesa’”.
As
conclusões do artigo publicado na revista científica “Buildings”, baseiam-se no
conteúdo gerado pelos utilizadores da rede social Weibo, uma das maiores do
Continente chinês, como a análise de palavras de alta frequência. A percepção
da imagem específica de Macau por parte dos turistas “não é suficientemente
profunda, muitas vezes limitada a paisagens individuais” e “com as impressões
mais proeminentes geralmente centradas em marcos como ‘Ruínas de São Paulo’,
‘Grand Lisboa’, ‘Galaxy’ e ‘The Parisian’, com uma percepção relativamente
baixa de conotações culturais escondidas por trás das paisagens da cidade”.
Com
base na ciência de dados e juntamente com teorias da arquitectura urbana e da
antropologia social, a investigação visou “descobrir o conteúdo percebido e os
mecanismos de influência subjacentes da imagem da cidade de Macau na
perspectiva dos turistas, analisando o texto do conteúdo gerado pelos
utilizadores”. “A paisagem arquitectónica, a cultura histórica, a economia
comercial e a governação do espaço social de Macau têm impacto nas percepções
dos turistas”, realça o quarteto de investigadores, acrescentando que factores
como os transportes urbanos, instalações de apoio, gestão do turismo, serviços
públicos, preços urbanos, características da cidade, experiências de viagem e
segurança pessoal são particularmente influentes. “Estas descobertas fornecem
informações valiosas para o desenvolvimento do turismo em Macau e para a
valorização da imagem da cidade”, sustentam.
Os
académicos explicam que a imagem da cidade reflecte a cultura e comunicação
urbana e influencia o comportamento de viagem dos turistas. No entanto, “com
base em investigações de campo, constatou-se que o espaço da cidade de Macau
enfrenta actualmente problemas como um desequilíbrio na eficiência prática do
uso, uma sobrecarga de áreas urbanas históricas e um descompasso entre o número
de turistas e a capacidade espacial”.
No
estudo pode ler-se que a percepção dos turistas sobre a imagem da cidade de
Macau pode ser resumida em quatro dimensões principais, sendo elas a imagem
arquitectónica e paisagística, a imagem cultural e histórica, a imagem
económica e comercial e a governação espacial e imagem do serviço público. Para
além disso, os resultados da pesquisa apontam como aspectos negativos a
“percepção da infra-estrutura, do serviço turístico, da experiência urbana e da
segurança, sendo a percepção da escala espacial o factor mais influente”.
Segundo
os investigadores, a maioria dos turistas escolhe visitar Macau para passear e
passar férias, optando pelos adjectivos “autêntico”, “romântico”, “caótico”,
“lotado”, “delicioso” e “luxuoso” para descrever a cidade.
Se,
por um lado, as avaliações positivas dos turistas ajudam a melhorar a reputação
de Macau e a atrair mais visitantes, por outro, as avaliações negativas
oferecem oportunidades de melhoria para aumentar a satisfação e a lealdade dos
turistas. “Isso ajudará a indústria do turismo de Macau na formulação de
planeamento estratégico e estratégias de marketing direccionadas para melhorar
ainda mais a imagem de Macau como um destino turístico”, frisam os autores do
estudo.
Através
da análise de palavras de alta frequência, análise semântica de rede e análise
de categorização de factores de percepção negativa, “o estudo investigou os
significados ocultos por trás das palavras e das suas relações”, nomeadamente
‘Ruínas de São Paulo’, ‘Grand Lisboa’ e ‘casinos’. Dessa forma, com base nas
avaliações menos boas dos visitantes, o estudo “resume as razões das emoções
negativas entre os turistas”.
Com
referência a estudos anteriores, os autores defendem, simultaneamente, que “os
resultados da pesquisa também indicam que a organização de eventos culturais é
uma forma eficaz de melhorar a imagem da cidade de Macau”.
Da sobrelotação aos preços altos
No
que toca às percepções negativas da imagem da Macau, a maior diz respeito às
experiências da cidade, como a dificuldade em fazer reservas em restaurantes, a
sua sobrelotação, o tempo de espera e o horário de abertura. Outros exemplos
apontados no estudo têm que ver com a sobrelotação das ruas na zona histórica,
o preço dos hotéis e a homogeneidade dos centros comerciais.
O
segundo factor com maior peso nas percepções negativas da imagem da cidade
reside nas infra-estruturas, com as ruas estreitas e espaços sobrelotados como
os problemas mais citados. “Adicionalmente, verifica-se a inexistência de
lugares de descanso e sanitários públicos, o que não responde às necessidades
quotidianas dos turistas, indiciando instalações de apoio inadequadas”.
Também
o pagamento na moeda local e a necessidade de reserva exigido por parte de
alguns serviços de táxi, bem como a segurança da cidade, aos níveis pessoal e
patrimonial, integram os pacotes de percepção negativa por parte dos turistas.
Os
investigadores fazem algumas recomendações para melhorar a imagem da cidade,
como a optimização da alocação de recursos turísticos nos espaços urbanos,
através, por exemplo, da atracção de mais grupos turísticos para as áreas
periféricas, para “ajustar o fluxo e a utilização dos espaços públicos”. Outras
medidas propostas são a melhoria da construção de infra-estruturas públicas
urbanas, como a criação de um sistema de transporte de vários níveis em áreas
densamente povoadas, e a renovação do ambiente espacial da cidade velha,
através da organização de actividades culturais, exposições comunitárias,
abertura de lojas de artesanato comunitário, entre outros, bem como a
manutenção e reparação de edifícios antigos, de modo a melhorar a aparência visual
dessa parte da cidade.
Paralelamente,
o estudo propõe o fortalecimento da promoção do aprofundamento histórico e
cultural, bem como a melhoria da conveniência dos autocarros e táxis, e o
fortalecimento da gestão urbana e da segurança.
A
imagem da cidade representa “as impressões, ideias, conceitos e percepções que
os turistas têm sobre uma cidade”, bem como “significa os pensamentos
associados e fragmentos de informação sobre a cidade, reflectindo a sua cultura
e comunicação”, servindo ainda “como uma referência crucial para os turistas
antes, durante e depois das suas experiências de viagem”.
Os
investigadores recomendam a comparação da percepção da imagem urbana de Macau
entre turistas chineses e de outros países, dada a internacionalização
turística da cidade. Através da referência ao esboço do Plano Director da RAEM
(2020-2040) que “propõe transformar Macau num centro mundial de turismo e
lazer, atraindo cada vez mais turistas no futuro” os académicos defendem que
“explorar a imagem da cidade de Macau do ponto de vista dos turistas é um
tópico altamente valioso”. Susana Martinho – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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