A
busca de representação e inclusão dos cidadãos na CPLP, com políticas que
tragam “benefícios concretos”, deve ser o principal objetivo da organização
para que se consolidem verdadeiros sentimentos de pertença, afirmou o futuro
secretário-executivo da comunidade lusófona.
A
poucos meses de assumir formalmente o cargo – o seu nome será confirmado na
cimeira de chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP) em Luanda, marcada para julho – e na sua primeira entrevista alargada,
Zacarias da Costa disse à Lusa que este é um dos principais desafios atuais.
“O
maior desafio da CPLP permanece, até hoje, a concretização de um verdadeiro
sentimento de pertença dos cidadãos da CPLP alicerçado em políticas de atuação
que se traduzam em benefícios concretos”, frisou.
Por
isso, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e o primeiro timorense a assumir
o cargo considera que procurar consolidar esse “sentimento de representação e
inclusão na comunidade deve ser o principal foco da CPLP”, cabendo aos
Estados-membros garantir que a organização “assegura estas mais-valias na vida
das pessoas”.
Como
exemplo concreto cita os temas da dimensão económica empresarial, que marcou a
presidência de Timor-Leste da organização e que voltará a marcar a presidência
angolana e, particularmente, a questão da mobilidade.
Desde
a sua fundação, recordou, a organização considerou o fortalecimento das
relações comerciais e económicas como elemento central ao crescimento da CPLP,
tendo a cimeira de 2014, em Díli, marcado a necessidade de “dotar a CPLP de uma
estratégia de cooperação económica e empresarial, através de mecanismos de
apoio aos negócios e investimentos no espaço da CPLP”.
“Não
há dúvidas de que existe uma vontade cada vez maior dos Estados-membros em
desenvolver esta vertente económica da CPLP, e é para mim claro que a
realização de planos concretos ao abrigo deste tipo de cooperação poderá ter
uma importância determinante na vida dos cidadãos da CPLP”, afirmou.
“O
secretário-executivo terá, como sempre, o papel de trabalhar em conjunto com a
Presidência, apoiar a implementação das decisões da conferência de chefes de
Estado e de governo e empreender todas as medidas destinadas à prossecução dos
objetivos da CPLP”, disse.
No
que se refere em concreto à mobilidade, e antecipando a aprovação, em Luanda,
do acordo que facilita a circulação dos cidadãos no espaço lusófono, Zacarias
da Costa considera a questão um “marco fundamental na história da CPLP”, com
“um alcance decisivo para a integração dos cidadãos lusófonos.”
“A
questão da facilitação da circulação no espaço comunitário é uma questão
complexa devido à inserção regional de cada Estado membro, havendo realidades
internas diversas e compromissos internacionais diferentes”, notou.
“É
por esta mesma razão que o acordo prevê um mecanismo flexível e variável,
adaptável às circunstâncias próprias de cada Estado-membro. O papel do
secretariado-executivo será de acompanhar a execução do Acordo, da forma que os
Estados membros entenderem”, sublinhou.
Zacarias
da Costa mostra-se igualmente preocupado com a “séria e complexa” questão da
situação financeira da CPLP, defendendo que o assunto tem que ser solucionado.
“A
CPLP vive das contribuições financeiras dos seus Estados-membros, como qualquer
outra organização internacional, e as restrições resultantes de um orçamento
limitado são dificuldades que atingem as organizações internacionais em geral”,
recordou.
“O
orçamento da CPLP é certamente limitado. Sabemos todos que a situação
financeira é uma questão séria e complexa que deve ser rapidamente solucionada
pelos Estados-membros”, considerou.
Ainda
assim e apesar das “restrições existentes”, Zacarias da Costa disse que será
necessário “executar o orçamento disponível e assegurar uma gestão que permita o
avanço da agenda da CPLP”.
Também
na agenda estará a recomendação do atual secretário executivo de alterações à
duração do mandato deste responsável, ideia com a qual concorda.
“A
referida proposta de alteração dos Estatutos é sustentada quer pela prática
desenvolvida no âmbito da maioria das organizações internacionais cujos
regulamentos preveem mandatos mais duradouros, quer pela prática corrente na
própria CPLP, uma vez que muitos secretários-executivos anteriores cumpriram
dois mandatos consecutivos”, disse.
“Se
a conclusão for que a duração de dois anos atualmente prevista é demasiado
restritiva para garantir a eficiência do nosso trabalho, e que obsta a qualquer
tipo de avanços considerados necessários, então, posso dizer que remeterei aos
Estados-membros esta mesma proposta de alteração”, afirmou ainda.
A
escolha de Zacarias da Costa para futuro secretário-executivo da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP) foi avançada em junho do ano passado.
Timor-Leste
é o país que tem agora o direito de propor o nome do futuro
secretário-executivo da CPLP, que sucederá ao português Francisco Ribeiro
Telles. In “Mundo Lusíada” – Brasil com “Lusa”
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