A comunidade portuguesa em Hong Kong tem tipo um papel de destaque desde o início da antiga colónia britânica até aos dias de hoje, já com administração chinesa. Talvez por isso, e muito mais, o Club Lusitano foi homenageado em várias ocasiões pelos governos português e de Macau, incluindo a Ordem Militar de Cristo (1949) e a Ordem do Infante Dom Henrique (1991) pelos serviços prestados à sua comunidade
Fundado
a 17 de Dezembro de 1866 por elementos da comunidade portuguesa de Hong Kong, o
Club Lusitano tem mais de 150 anos de uma história recheada de grandes
momentos. Erguido em Shelley Street, Mid-Levels, o clube ocupava um edifício
com características coloniais neoclássicas. Em 1920, a direcção da instituição
decidiu sair da antiga localização e assentar arraias na Ice House Street, onde
se mantêm até hoje. Ao Ponto Final, Anthony Correa, gerente e tesoureiro
honorário do Club Lusitano, falou um pouco da história, das iniciativas e dos
projectos futuros do clube, numa altura em que o mundo ainda não conseguiu
controlar a pandemia de Covid-19 e os desafios são ainda maiores.
Qual tem sido o grande papel do clube, desde 1866,
primeiro durante a administração britânica do território, e agora com a
administração chinesa?
O
Club Lusitano é a casa exclusiva da comunidade portuguesa em Hong Kong há 155
anos. Foi fundada por membros filantrópicos da comunidade empresarial
portuguesa para que os portugueses locais pudessem usufruir do seu próprio
clube social, que incluía, nos seus primórdios, alojamento para homens que se
deslocassem de Macau e outros territórios portugueses para Hong Kong a
trabalho. O Club Lusitano foi homenageado em várias ocasiões pelos governos
português e de Macau, incluindo a Ordem Militar de Cristo (1949) e a Ordem do
Infante Dom Henrique (1991) pelos serviços prestados à sua comunidade. O Club
Lusitano é a casa de todos os portugueses.
Como é ser português em Hong Kong, uma das maiores e mais
populosas cidades do mundo?
A
comunidade portuguesa desempenhou um papel de destaque em Hong Kong desde o seu
início, enquanto colónia britânica, e continua a fazê-lo até hoje. Muitos dos
nossos membros são proeminentes homens de negócios, na área do direito, na
esfera governamental, em bancos, na arquitetura, na educação e nas artes de
Hong Kong. Os portugueses têm contribuído significativamente para a qualidade
de vida e diversidade da sociedade de Hong Kong desde a sua fundação em 1842.
É possível saber aproximadamente quantos cidadãos com
passaporte português existem em Hong Kong? Destes, quantos são macaenses? E
quantos destes são portugueses de Hong Kong?
Não
temos estatísticas precisas sobre os cidadãos portugueses em Hong Kong, mas
fomos informados anteriormente de que existem cerca de 200 mil cidadãos
portugueses entre Hong Kong e Macau, o que a torna uma das maiores comunidades
internacionais da Grande Baía. Tanto os residentes de Hong Kong como de Macau
podem candidatar-se à adesão ao Club Lusitano.
Além do renomado restaurante, que outras actividades o
Club Lusitano tem vindo a proporcionar aos seus associados?
O
clube tem, de facto, um restaurante muito concorrido, o Sala Leal Senado, bem
como a Pastelaria Lusitano, aberta o dia todo, e ainda o bar Piso Praia Grande
e uma bibloteca. Além disso, possui um espectacular salão de festas, o Salão
Nobre de Camões, e diversos outros salões para festas privadas, seminários de
negócios e ainda uma sala para jogar mahjong. O clube acolhe muitas actividades
culturais para os seus membros e convidados com enfoque na herança portuguesa e
macaense. Publicamos uma revista trimestral, em forma de newsletter, que
apresenta histórias antigas e actuais sobre a nossa comunidade.
O que a pandemia de Covid-19 trouxe de positivo e
negativo para a instituição?
Como
todos os estabelecimentos de restauração e clubes, a pandemia Covid-19 tem
prejudicado as nossas operações devido ao distanciamento social imposto pelo
Governo e outras restrições. No entanto, convém referir que o Club Lusitano
continuou a prestar serviços aos seus membros durante a pandemia. Também
continuamos a atrair novos membros para que conheçam as nossas instalações e
serviços recém-renovados.
Como toda a questão da luta pela democracia em Hong Kong,
a consequente adopção da Lei de Segurança Nacional afectou o clube e, mais
importante, a comunidade portuguesa no território?
Não
temos comentários sobre política, pois somos um clube social.
Que ligações, acordos ou parcerias mantém o clube com
outras entidades da lusofonia como a Casa de Portugal em Macau, o Clube Militar
ou o Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong?
O
Club Lusitano mantém ligações estreitas com todas as instituições portuguesas e
macaenses em Macau. Temos também ligações recíprocas com os nossos clubes
irmãos em Hong Kong, o Club de Recreio e o Victoria Recreation Club que,
historicamente, eram principalmente clubes portugueses.
Mantém outras ligações com entidades em Portugal ou
noutros países de língua portuguesa?
Sim, mantemos ligações com muitos em todo o mundo, dos quais a Fundação Oriente, o Grémio Literário em Lisboa, as diversas Casas de Macau espalhadas pelo mundo, Associação Euro-asiáticos de Singapura, entre muitos outros.
Em 2019, foram realizadas grandes obras de renovação no
Club Lusitano. O que mudou?
A
nossa extensa renovação transformou o clube com novas instalações para os
membros, como a pastelaria, uma adega, uma biblioteca, chuveiros e novas salas
de função/jantares privados. A oferta de restauração foi actualizada com
instalações dedicadas para refeições requintadas, novos serviços de pequeno
almoço e ofertas de confeitaria/cafeteria durante o dia todo. A maior parte dos
nossos principais produtos e vinhos são agora directamente provenientes de
Portugal. Estamos entusiasmados com a recente adição do nosso chef executivo
Fábio Pombo, que irá trazer uma nova oferta de comida portuguesa aos nossos membros
e convidados.
Falou do chef Fábio. Tem sido uma aposta vencedora?
O
Fábio juntou-se a nós recentemente e até agora tudo bem. É, de facto, um prazer
tê-lo no Club Lusitano.
Quais são os planos do Club Lusitano para o futuro?
O
clube está a trabalhar arduamente para promover eventos portugueses e macaenses
em Hong Kong com o principal destino a comunidade lusitana. Também temos muitos
planos para trabalhar com os nossos amigos em Macau, assim que conseguirmos
estabelecer uma bolha de viagem entre Hong Kong e Macau. A instituição também
está a apoiar activamente uma exposição portuguesa planeada para o Museu de
História de Hong Kong, que apresentará as contribuições de longa data da
comunidade portuguesa em Hong Kong.
Português Fábio Pombo é o novo Chef do restaurante do
Club Lusitano
Em Março agarrou o projecto substituindo o carismático
Chef Wing, que estava à frente da cozinha da entidade desde 2003 e
aposentou-se. Fábio vê o Club Lusitano como o maior desafio da carreira até ao
momento e pretende ficar “uns bons anos”
Abraçou
a cozinha do Club Lusitano a 20 de Março deste ano. O português Fábio Pombo é o
novo Chef executivo responsável por todo o catering da entidade de matriz
portuguesa. O carismático Chef Wing aposentou-se 18 anos depois. “O convite
surgiu no início deste ano, depois do chef executivo que esteve à frente do
clube durante 18 anos se ter aposentado. Nessa altura a direcção do clube
abordou-me para saber se teria interesse em assumir o cargo, o que para mim foi
uma grande honra”, afirmou Fábio Pombo ao Ponto Final, assumindo que nem pensou
duas vezes na proposta.
Já com vasta experiência e a viver em Hong Kong há quatro anos, o português aposta forte no novo desafio. “Todos os projectos por que passei no Ocidente tiveram características muito diferentes, como o modelo de negócio, localização, público target, etc. O Club Lusitano é possivelmente o desafio mais interessante da minha carreira, pela sua história centenária, dimensão, e pelas expectativas que os membros têm”, assumiu Pombo, notando que está no sítio certo e com as ferramentas apropriadas para manter e, como é seu objetivo, elevar o nome da entidade.
Fábio
Pombo chegou a Hong Kong em 2017 para ser o Chef executivo do restaurante Casa
Lisboa, em plena Hollywood Road. Por ali, com maior ou menor dificuldade,
conseguiu impor alguns pratos de assinatura que chegaram a fazer sucesso,
deliciando por quem ali passava. Depois dessa experiência esteve envolvido num
projecto piloto que visava a abertura de um restaurante português em Foshan, na
província de Cantão. A pandemia trocou as voltas ao projecto e Fábio acabou por
ficar por Hong Kong onde se tornou o Chef do “Feather and Bone”, uma casa de
bifes em Wanchai.
Agora
é a vez do Club Lusitano provar as iguarias do lisboeta. “Como Chef executivo
posso sugerir a carta do clube, mas todas as alterações no menu têm de ter em
conta a vontade dos membros, por isso todos os pratos novos são apresentados ao
comité de F&B para aprovação”, explicou Fábio Pombo ao nosso jornal.
Espaço para inovar, como sempre
Contudo,
o português assume que “há bastante espaço para criar pratos e menus
especiais”, tencionando ser irreverente com a cultura gastronómica portuguesa
como fazia no Casa Lisboa, onde elaborou um dos pratos mais queridos da
clientela, feito com um ingrediente pouco comum: o tutano. “Pessoalmente adoro
tutano, e gosto de cozinhar o que me dá prazer, por isso é provável que venha a
recriar algo com tutano aqui no clube”, revelou.
Fábio
tem planos para ficar por Hong Kong mais anos. Quer estabilizar-se
definitivamente e o Club Lusitano é o local ideal para tudo correr bem. “Adoro
viver aqui e gostava de me ver como Chef executivo do Club Lusitano durante uns
bons anos para criar estabilidade no clube e em mim. Dentro de três anos serei
residente permanente de Hong Kong e as possibilidades para mim aumentam”,
assumiu, expressando a possibilidade de que “voltar a Portugal está sempre no
horizonte” apesar de o mundo estar a passar por uma fase instável.
Por
falar em instabilidade, o Ponto Final quis saber junto do nosso Chef do Club
Lusitano quais os desafios que a sua cozinha enfrenta em tempos de pandemia
Covid-19 e ainda mais num território como Hong Kong que, apesar de ter
conseguido controlar a doença, nunca a conseguiu debelar totalmente. “Para mim
o mais difícil foi mesmo o início da pandemia porque havia um medo e incerteza
instalados na população e os restaurantes perderam muitos clientes, houve muita
incerteza e muitos restaurantes a fechar nessa altura”, começou por dizer,
notando que “depois foi na altura de os restaurantes encerrarem às 18h como
medida de controlo da pandemia, porque se perdia o volume da facturação do
jantar que conta muito para a restauração”.
Outra
coisa, esta muito particular, considera Pombo, “é este desconforto, que salva
muitas vidas, o de ter de andar sempre com a máscara respiratória na cara
enquanto estás a trabalhar, quando ao mesmo tempo tens de utilizar os sentidos
do gosto e do olfacto para conseguires verificar a qualidade do teu trabalho”.
Em
2013, Fábio Pombo licenciou-se em Artes Culinárias e Produção Alimentar em
Restauração pela Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, em
Portugal. Arrecadou experiência com passagens pelas cozinhas do restaurante
lisboeta Feitoria (uma estrela Michelin) e no madeirense Il Gallo d’Oro (duas estrelas
Michelin). Foi Chef executivo do restaurante Vicente by Carnalentejana, em
Lisboa, e Chef do restaurante do hotel Skyna, também em Lisboa. Marcou presença
em diversos jornais e revistas como o South China Morning Post, Time Out ou
Life Style Asia, assim como foi Chef convidado do Torneio Internacional de
Golfe de Foshan, na China, em 2019, e Chef convidado nas comemorações do 20.º
aniversário da Transferência de Administração de Macau, também em 2019. Gonçalo
Pinheiro – Macau in “Ponto final”
goncalolobopinheiro.pontofinal@gmail.com
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