O antigo presidente timorense diz que a posição do Ministério dos Negócios Estrangeiros é "incompreensível". "Timor-Leste abstém-se? A propósito de quê?", questiona
O ex-presidente
timorense José Ramos-Horta considerou esta segunda-feira "totalmente
incompreensível" que Timor-Leste se tenha abstido numa resolução da
Assembleia Geral da ONU que condena o golpe militar em Myanmar e pede o embargo
de armas ao país.
"Imagina
a vergonha, a tristeza que sinto com isto. É totalmente incompreensível",
disse Ramos-Horta à agência Lusa, referindo-se à resolução aprovada com 119
votos a favor, a abstenção de 36 países (entre eles Timor-Leste) e um voto
contra da Bielorrússia.
"Um
golpe militar, matança de civis, bombardeamento de helicóptero de populações
civis, matanças com snipers de jovens, e Timor-Leste abstém-se? A propósito de
quê?", questionou.
Numa
publicação que fez na sua página no Facebook, José Ramos-Horta considera a
votação de Timor-Leste "um voto de vergonha", pedindo desculpa
"ao povo de Myanmar" e a "kyal Sin, o jovem de 19 anos morto a 3
de março de 2021 em manifestações pacificas em Mandalay".
À
Lusa, José Ramos-Horta sublinha que Timor-Leste ficou "isolado" dos
seus principais parceiros, notando que "toda a CPLP e vários países da
ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático], incluindo Indonésia, Malásia,
Singapura" apoiaram a resolução.
"Eu
procurei saber, junto do primeiro-ministro, e o primeiro-ministro não foi
consultado. Soube que o PR não foi consultado. O vice-ministro dos Negócios
Estrangeiros não foi consultado. A decisão foi feita pela ministra, com dois ou
três elementos do MNE", frisou.
Até
ao momento, e apesar de várias tentativas, não foi possível à Lusa obter um
comentário da ministra dos Negócios Estrangeiros timorense, Adaljiza Magno.
O
também ex-chefe da diplomacia timorense disse que a resolução é um texto
"politicamente sensível" e que resultou de amplas negociações com a
ASEAN, com a União Europeia e com os Estados Unidos.
"Nessas
circunstâncias, em qualquer país minimamente organizado, a MNE faria um briefing
honesto ao primeiro-ministro e ao Presidente da República. Nada disso aconteceu
e Timor-Leste ficou isolado na CPLP, na ASEAN e em geral na ONU", disse.
Ramos-Horta
disse que a ministra deveria ter procurado consultas com a ASEAN, a CPLP e
outros sobre a tendência de voto, acertando a posição de Timor-Leste sobre o
texto. "Em termos de diplomacia internacional, Timor-Leste está numa
situação de inatividade. E esta votação na AG isolou Timor-Leste ainda
mais", considerou. "A MNE não tem experiência e tem assessores
responsáveis da adesão de Timor-Leste à ASEAN, que aconselharam a ministra
neste sentido, mesmo quando vários países da ASEAN votaram a favor. Só revela a
miséria do estado atual da nossa diplomacia", considerou.
Aprovada
no final da semana passada, a resolução mostra ampla oposição à junta militar e
exige a restauração da transição democrática no país. In “Diário de Notícias” – Portugal com “Lusa”
Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação justifica abstenção na votação da resolução da ONU sobre o golpe militar em Myanmar
Díli
– MNEC clarificou que a sua abstenção à Resolução da Organização das Nações
Unidas (ONU) contra o golpe militar em Myanmar se deve à falta de posição comum
entre os Estados membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).
“Timor-Leste
tem ainda a honra de informar que se absteve na votação da resolução, visto não
haver uma posição comum entre os Estados membros da ASEAN, os quais têm um
papel fundamental na resolução da situação em Myanmar”, diz o comunicado do
Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (MNEC) timorense a que a Tatoli
teve hoje acesso.
A
nota revela ainda que o MNEC de Timor-Leste tem a honra de esclarecer que, como
país democrático, não apoia a declaração do estado de emergência pelas Forças Armadas
de Myanmar a 1 de Fevereiro de 2021 e ações subsequentes contra o Governo
eleito pelos civis.
O
documento recorda ainda que esta posição foi refletida na declaração de Timor-Leste
a 12 de março de 2021, durante a 46ª sessão do Conselho de Direitos Humanos,
onde o país expressou a sua preocupação com a situação dos direitos humanos em
Myanmar e pediu a libertação de detidos arbitrariamente, incluindo prisioneiros
políticos.
A
nota refere ainda que o MNEC confirma o seu apoio à transição democrática de Myanmar
e pede a todas as partes envolvidas que mantenham o diálogo e resolvam as diferenças.
O
ex-Prémio Nobel da Paz de 1996, José Ramos Horta, lamentou a posição de Timor-Leste,
a abstenção sobre a resolução.
José
Ramos Horta notou que o MNEC não consultou o Primeiro-Ministro, Taur Matan Ruak,
nem o Presidente da República, Francisco Guterres Lú Olo, sobre a política internacional
de Timor-Leste.
“A
maioria dos países da ASEAN, como Indonésia, o próprio Myanmar, Filipinas, Singapura,
Vietname e os Estados membros da CPLP, como Portugal, Guiné-Bissau, Brasil,
entre outros votaram a favor, e Timor-Leste absteve-se. Isso afeta a nossa credibilidade”,
disse Ramos Horta, em declaração aos jornalistas, na sua residência no Farol.
Ex-titulares
manifestaram as suas dúvidas sobre a linha de coordenação entre o MNEC, o
Primeiro-Ministro e o Presidente da República.
Na
aprovação final da resolução da ONU sobre o conflito em Myanmar, 119 países votaram
a favor, um contra (Bielorússia) e registaram-se 36 abstenções, incluindo a de Timor-Leste.
Afonso do Rosário – Timor Leste in “Tatoli”
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