O
abutre-preto, a espécie de abutre mais ameaçada de Portugal, está a consolidar
o seu restabelecimento no Alentejo, onde este ano nasceram e sobreviveram três
crias que estão prestes a deixar os ninhos “com sucesso”.
Este
ano, no Alentejo, “nidificaram 10 casais de abutre-preto”, na Herdade da
Contenda, concelho de Moura, distrito de Beja, “tendo-se assim consolidado o
restabelecimento” da espécie na região, refere a Liga para a Proteção da
Natureza (LPN), num comunicado enviado à agência Lusa, a propósito do Dia
Internacional dos Abutres, que se celebra no primeiro sábado de setembro.
“Este
número representa atualmente cerca de um terço dos casais existentes em
Portugal”, precisa a LPN, informando que três dos 10 casais que nidificaram no
Alentejo conseguiram cada um criar com sucesso uma cria, “dando continuidade à
recuperação desta ave no sul do país”.
Desde
que a espécie voltou a reproduzir-se no Alentejo em 2015, após mais de 40 anos
sem registo de reprodução da ave necrófaga a sul do rio Tejo, trata-se do
“sexto ano consecutivo em que o abutre-preto cria com sucesso na Herdade da
Contenda e mantém ou aumenta o respetivo número de casais nidificantes”, frisa
a LPN.
“Tal
tem sido possível, sobretudo, em consequência dos esforços de conservação”
desenvolvidos pela LPN em colaboração com a empresa municipal Herdade da
Contenda, “beneficiando da importante e adequada gestão deste território”
propriedade da Câmara de Moura, é referido.
Entre
os 10 casais de abutre-preto a nidificar este ano na herdade alentejano,
segundo a monitorização acompanhada pelo Instituto da Conservação da Natureza e
das Florestas (ICNF), sete fizeram-nos em ninhos naturais construídos pela
espécie e três em ninhos artificiais instalados no âmbito do projeto LIFE. para
promoção do habitat do lince-ibérico e do abutre-preto no sudeste de Portugal.
Oito
dos 10 casais conseguiram fazer a postura de um ovo, como é característico da
espécie, num total de oito ovos, dos quais nasceram seis crias.
Destas,
três não sobreviveram, uma delas devido a queda do ninho e as outras por causas
desconhecidas, “provavelmente devido ao calor extremo durante o seu
desenvolvimento”. As outras três, todos machos, já ultrapassaram os três meses
de idade e estão “prestes a deixar os seus ninhos com sucesso”.
“Estes
resultados, embora representem mais um passo no sentido da tão desejada e
efetiva recuperação da espécie no Alentejo e em Portugal, revelam a necessidade
de dar continuidade aos esforços de conservação dirigidos ao abutre-preto” para
“aumentar a sobrevivência e sucesso na reprodução”, sublinha a LPN, salientando
em particular a “necessidade de um acompanhamento mais próximo da reprodução e
a intervenção em períodos críticos do desenvolvimento das crias, nomeadamente
durante os picos de calor e de escassez de alimento”.
A
LPN vinca que “os abutres são extremamente importantes para manter a sanidade
dos ecossistemas”, mas estão “em risco de extinção em Portugal e sujeitos a
diversas ameaças à sua sobrevivência, a maioria de origem humana”, com destaque
para o envenenamento e a escassez de alimento.
Também
a utilização do anti-inflamatório não esteroide diclofenac para o tratamento do
gado “representa um enorme risco para estas aves necrófagas” em Portugal,
“estando ainda, após vários anos, o Estado Português a avaliar a autorização do
seu uso na pecuária”.
Nos
últimos anos, a monitorização da reprodução e as medidas de conservação do
abutre-preto no Alentejo foram realizadas no âmbito do projeto Orniturismo –
Conservação, Proteção e Valorização do Património Ornitológico.
A
LPN e a Herdade da Contenda são dois dos parceiros do projeto, que visa conservar,
proteger e valorizar o património ornitológico da região transfronteiriça
Alentejo-Andaluzia com a finalidade de desenvolver e consolidar modelos de
atividades turísticas sustentáveis que possam contribuir para o reforço da
economia das duas regiões. In “Mundo Português” – Portugal com “Lusa”
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