Hoje, na Fundação Rui Cunha, vai tentar-se encontrar uma definição para a comunidade macaense e encontrar uma resposta para a “million dollar question” que é: “Como definir um macaense?”. A sessão, que acontece às 18h30, contará com a participação do investigador Jorge Forjaz que, ao Ponto Final, deu uma pista: É uma comunidade que “tende a ser uma memória”
Como
definir um macaense? É a esta questão que Jorge Forjaz e José Basto da Silva se
propõem a tentar encontrar resposta numa sessão que vai acontecer hoje, na
Fundação Rui Cunha, pelas 18h30. “É a ‘million dollar question’”, afirmou o
historiador, que estará presente na sessão através da internet a partir dos
Açores. Porém, arrisca uma resposta e diz que é uma comunidade que “tende a ser
uma memória”.
Na opinião de Jorge Forjaz, ser macaense hoje é “o resto de uma memória”. Segundo o historiador, autor da pesquisa geneológica que resultou no trabalho “Famílias Macaenses”, “a comunidade macaense não se renova”. “A comunidade macaense foi-se renovando ao longo dos séculos com a entrada de gente nova na comunidade. Hoje em dia, pelo menos da mesma maneira, ela não se renova”, explica, acrescentando: “Deixou de haver aquela interpenetração contínua ao longo dos séculos, gente que chegava e que se ia entrosando na sociedade e que ia enriquecendo a sociedade macaense com novos contributos sociais”.
“Hoje, a comunidade macaense é uma comunidade que faz um esforço para estar viva e para dizer ‘aqui estamos’”, afirma Jorge Forjaz, indicando que a comunidade irá resistir “enquanto houver gente que descenda das antigas famílias macaenses com linhas masculinas, ou seja, preservando o nome do pai”. “Pelo menos fica a memória antroponímica”, nota.
A
sessão de hoje será moderada por José Basto da Silva, presidente da Associação
dos Antigos Alunos da Escola Comercial “Pedro Nolasco” (AAAEC). Na sua opinião,
“é difícil”: “Não existe uma definição correcta ou errada, não existe uma
definição clara”.
José
Basto da Silva faz, então, a contextualização histórica: “Os macaenses surgiram
quando os portugueses chegaram aqui ao território e houve cruzamento de etnias
africanas, indianas, malaias, e, a partir do primeira metade do século XVII,
quando os portugueses e comerciantes foram expulsos do Japão, a mistura de
sangue japonês também entrou nos genes. Depois, mais tarde, a partir do início
do século XVIII começou a haver também mistura de sangue chinês”. “É, no fundo,
uma comunidade que é uma fusão de outras raças”, afirmou.
Agora
é mais difícil definir a comunidade. “Tem havido evolução”, explica, acrescentando:
“Vivemos cada vez mais num mundo global e pequeno onde as populações migram com
facilidade”. “Houve mais misturas e mais partilha de culturas. O macaense puro
deixou de existir, agora há um leque muito vasto de diferentes extractos de
macaenses”, notou Basto da Silva.
Então,
o que caracteriza um macaense nos dias de hoje? “É a ligação a Portugal, a
ligação ao território de Macau e o sentimento de pertença a esta comunidade”.
José Basto da Silva lamenta: “Há muitos que já não ligam, não querem saber. Inclusivamente
existem situações difíceis de compreender, que são pessoas nascidas de famílias
macaenses que estão cá, mas que, com o tempo, desligaram-se da comunidade
portuguesa, puseram os filhos na escola e eles convivem mais com amigos
chineses no dia a dia e só falam chinês”. “É difícil não sentir nada quando se
vê que [a comunidade] lentamente está a desaparecer”, diz.
A
procura de uma definição para a comunidade “é a eterna questão de quem vive
aqui e questiona: “Afinal o que é que eu sou? De onde é que eu venho?”. “É
também uma questão de orgulho de pertencer a uma comunidade especial,
diferente, quiçá única, com uma gastronomia tão rica, com um dialecto próprio,
com culturas tão diversas”, conclui.
Para
Jorge Forjaz, a importância de encontrar uma definição comum “é quase uma
obsessão”. “Eu sou açoriano e todos os dias nos Açores perguntam o que é ser
açoriano. O brasileiro também se pergunta o que é ser brasileiro”, assinala,
concluindo: “Todas as comunidades fazem essa pergunta e nunca encontram
resposta. Ou encontram centenas de respostas”. André Vinagre – Macau in “Ponto
Final”
andrevinagre.pontofinal@gmail.com
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